A criação de um quarto circuito no carnaval de Salvador, na Cidade Baixa, não agradou à União de Afoxés, Afros, Reggaes e Samba do Estado da Bahia (Unafres), que representa 76 instituições de matriz africana. Os integrantes da entidade afirmam não terem sido chamados a debater o projeto Afródromo, apresentado na última semana à Prefeitura pela Liga dos Blocos Afros da Bahia.
De acordo com Gilsoney de Oliveira, presidente da Unafres e também represetnate do segmento no Condelho Municpial do Carnaval (ComCar), “a Liga é formada por apenas seis entidades e foi apresentada como sendo representantes dos blocos afros e afoxés. Não fomos procurados em nenhum momento para discutir sobre a proposta e viemos a público dizer que todas as entidades devem fazer parte dessa nova discussão que mudará o carnaval”.
“No momento em que estamos discutindo novas formas de fortalecer os três circuitos já existentes – Batatinha (Pelourinho), Dodô (Barra) e Osmar (Avenida) –, vem uma liga, que é bom frisar, não representa as entidades dos afoxés e afros, e propõe um tipo de segregação no carnaval, como o próprio nome sugere Afródromo”, protesta Paulo Kambuí, representante do segmento afro (cerca de 70 instituições) no ComCar.
A presidente do Afoxé Kambalagwanze, Iracema Neves, aponta os curfsos e oficinas oferecidos pelo Sebrae e a Secretaria Estadual de Cultura, em 2009 e 2010, o objetivo de melhorar e atualizar conceitos de gestão das entidades acolhidas pelo programa Ouro Negro, do governo estadual.
Segundo ela, dessas atividades “vários projetos foram desenvolvidos, inclusive a formação de uma Liga que agregaria todos os segmentos culturais e tivemos palestras com equipes da Riotur e da Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. A partir daí, foi constituída uma comissão de formatação da Liga que trabalhou duramente na elaboração documental. O trabalho foi terminado e ficamos aguardando sinal do governo estadual para implantação e regulamentação”.
Assim, diz ela, “foi com muita surpresa ver o projeto da ‘Liga das Entidades Culturais do Estado da Bahia e Região Metropolitana’ passar para mãos que modificaram essencialmente a filosofia original”.
Em seu relato, outras ideias também mereceram destaque na época, como a oficina de Elaboração de Projetos, ministrada pela instrutora Rosa Villas Boas. “Entre os projetos podemos destacar a Revitalização das Festas Populares de Salvador e Ensaios dos blocos de acordo com seus segmentos”
Contradções
O projeto Afródromo foi apresentado na última terça-feira, 21, à Prefeitura de Salvador pela “Liga dos Blocos Afros da Bahia” e é divido em três partes. O primeiro ocuparia a Avenida da França, entre o Mercado Modelo e a Feira de São Joaquim; o segundo entre a Calçada e o Largo de Roma; e o último da Boa Viagem à Ribeira.
Durante o evento, realizado no Palácio Thomé de Souza, o cantor e compositor Carlinhos Brown – um dos idealizadores da Liga – afirmou que o projeto já vem sendo idealizado há cerca de dois anos. “Nisso Brown não errou, foi em 2010, mas nem ele, nem as entidades que formam a Liga participaram da construção desse projeto”, contesta Iracema.
Presidida por Alberto Pita e Silva, do Cortejo Afro, a Liga é formada por mais outras cinco pessoas: Antônio Carlos dos Santos Vovô (Ilê Aiyê), Jorge Antônio do Carmo Santos (Muzenza), Agnaldo Silva (Filhos de Ghandy), Josélio Araújo (Malê Debalê) e Gilson Freitas (Timbalada).