Para a coreógrafa da comissão de frente da Unidos da Tijuca, Priscila Motta, a justiça foi feita. "Trabalhamos muito, até oito horas dia, para chegarmos ao título", festejou. "O segredo vai durar mais 50 anos. Se alguém quiser descobrir, tudo bem. Eu vendo por milhões", brincou o ex-ginasta romeno Joan Vemiamin, que representou a sanfona na comissão de frente.
Rosinha Gonzaga, filha de Luiz Gonzaga, não conteve as lágrimas. "Meu pai, que faria 100 anos este ano, deve estar rindo, alegre, onde estiver. Foi a primeira vez que desfilei e com um motivo muito especial", resumiu. A rainha de bateria, Gracyanne Barbosa, também foi à festa com o marido, o cantor Belo: "Estrear numa escola e ser campeã é um privilégio".
Nordestinos orgulhoso
A feirante Nancy de Barros Amorim, 57 anos, "só quer, só pensa em namorar", ou melhor, desfilar... Orgulhosa com o título da Tijuca, ela, que é conterrânea de Luiz Gonzaga, sonha deixar sua barraca no Centro de Tradições Nordestinas, a Feira de São Cristóvão, sábado, e celebrar o título na Sapucaí desfilando com uma fantasia da Unidos da Tijuca. O pai de Nancy é da mesma cidade do homenageado.
"Sou pernambucana e minha família ainda é de Exu, a cidade onde nasceu o Lulu (como se refere a Gonzagão). Queria muito desfilar", diz a pernambucana, que se viu homenageada na Avenida.
"Ver nossa história retratada para todos é muito gostoso. Meu pai faleceu contando as histórias do Gonzaga. Ele cresceu junto deles. Conheceu Lampião!", contou, na presença da amiga Maria da Guia, 50, de Campina Grande, na Paraíba, e tão feliz quanto a pernambucana com a exaltação tijucana ao Nordeste. "Já fui a vários shows dele, que era um grande nordestino. Sábado estarei na Avenida".
Uma viagem arretada
Na viagem arretada até a vitória, a Unidos da Tijuca foi aclamada antes mesmo de o desfile começar
Como diz a letra do samba, "canta, Tijuca, vem comemorar" o troféu, que poderia chegar à quadra da escola pelas mãos das dezenas de bonecos de barro que surgiram no desfile. O verso "ai, que visão deslumbrante" é tradução do segundo setor com o casal de mestre-sala e porta-bandeira vestidos de bonecos de barro, que se multiplicaram em ala inteira e no carro ‘Do barro se fez a vida', um dos mais lindos que riscaram a pista do novo Sambódromo. Impossível não se encantar com os detalhes: a textura perfeita da fantasia que parecia de barro de verdade e os óculos redondinhos com lentes pintadas imitando os olhos das pequenas esculturas de mestre Vitalino, o mago dessa arte.
O artesanato inspirou também a criação da alegoria Mercado, colorida e caprichadíssima, com sua seleção de quinquilharias em suas vitrines iluminadas.
E tome vaqueiros, retirantes, lavadeiras, gente do sertão, gente de Gonzagão, reverenciados por monarcas e reis do pop como Elvis Presley e Michael Jackson. Foram as estrelas que pousaram num abre-alas em forma de aeroporto na Avenida para coroar o rei do sertão. A reverência real ao mestre do baião foi a sacada irreverente da Tijuca para saudar o centenário do nascimento de Luiz Gonzaga.
Como o cangaço que cruzou caminhos atrás de Corisco e Lampião, a Unidos da Tijuca perseguiu o título na base da raça, com o coração no ritmo de bumba meu boi, do forró e samba dos bons.
‘Se avexe, não', escolas concorrentes, mas os 3.600 componentes da agremiação do Borel se guiaram na fé, como diz o refrão de seu samba. A celebração tijucana virou apoteose com a chegada de um Luiz Gonzaga