A Alessa abriu o dia 1 desta temporada carioca com coleção desastrosa, mas com boa intenção. A estilista usou material reciclado para fazer os bordados, apliques de flores nos bodies, nos vestidos longos transparentes e nos acessórios de cabeça surreais, daqueles que a mulher brasileira não está acostumada a usar. No entanto, a estamparia digital com o efeito de brilho de murano dos caftãs, com flores tridimensionais (à moda enfeite de procissão), brincos enormes com "pompom de Poodle" nas pontas e cabeças surreais (chapéus ao estilo casamento real britânico e casquetes tamanho família, uma delas, aliás, muito parecida com as orelhas do personagem da Disney Mickey), tudo na mesma passarela, deixou a atmosfera carregada de informação.
Caíram (ufa!) as pedras preciosas e docinhos coloridos das coleções passadas, igualmente sobrecarregadas, e entraram os detalhes maximalistas que "saltam" da roupa. Juntos, não funcionam bem. Sem contar a gola ao estilo palhaço, ainda mais chamativa e desconexa. A cintura marcada com corda, que também apareceu no desfile da Acquastudio, a segunda marca desta noite de desfiles no Rio de Janeiro, anuncia uma possível tendência da próxima estação quente.
Na moda festa de Esther Bauman, influência do cubismo com pegada cabaré das melindrosas e seus vestidos de franjas. Telas coloridas de Mondrian (as mesmas que serviram de inspiração para a até hoje celebrada coleção de Yves Saint Laurent de 1965) são referências para os vestidos com aplicações geométricas, em especial o longo com franjas pretas que encerrou o desfile da marca, cheio de movimento.
Camadas de quadrados, trapézios, losangos e outras formas geométricas parecem ter sido coladas umas nas outras, formando os vestidos fininhos e esvoaçantes de uma coleção que valoriza ombros (pontudos), ancas e o cropped. Aqui, a cabeça é adornada com tiaras pontudas, como se fossem chifres (ou galhos), sem ficar grosseiro ou desapropriado.
A corda com acabamento de franjas, bem parecidas com as que apareceram no desfile da Alessa, prende as clutches discretíssimas de madeira.
Melk Z-Da misturou flora e fauna na coleção de verão 2012. A alfaiataria ampla de mangas, cinturas e saias deixam os vestidos híbridos bem modernos (as modelos parecem joaninhas, libélulas e até fadas na passarela), com aplicações assimétricas de maxipaetês que confundem: são pétalas, folhas ou escamas? Destaque para os vermelhos e os cítricos, que reproduzem as cores da folha de castanheira, numa coleção em que o branco é o mestre da cartela enxuta. Mais uma vez, a cabeça aparece enfeitada com chapéu de lado feito do mesmo material do paetê-folha dos vestidos, ao estilo dos chapéus de gnomos, mas menos pontudos.
A Patachou e a 2nd Floor foram as "cabeças peladas" da noite (nenhum chapéu, ou casquete, nem tiara). A primeira apresentou boas apostas na alfaiataria do conforto, com formas amplas, movimento discreto, mix de estampas-mosaico complementares e bolsos. Tudo com toque elegante da roupa de passeio mais clássica, com comprimento mídi e referências do guarda-roupa masculino. São bons o chemise preto que é vestido de noite, com aplicação de brocado (também preto), os maxicolares chapados que levantam o look quase careta e os vestidos que parecem ter sido feitos de lenços de seda, amarrados em nós estrategicamente localizados, como na ponta dos joelhos e ombros, meio oriental, meio navy.
Na sequência, a 2nd Floor vem com parcas ao estilo das japonas dos anos 1980 (e começo dos anos 1990), o jeans delavê (quase branco), a calça superskinny curta e a pegada rocker das tachas (lindo o cinto marcando a cintura do vestido plissado esvoaçante), correntes e vários anéis prateados. Cores fortes, como o pink, o azul e o amarelo, aparecem em looks monocromáticos e também na estampa-fumaça. Recortes nas mangas das peças de alfaiataria ampla confirmam a identidade descolada da 2nd Floor, que propõe ainda camisetas com divertida estampa de esqueleto, xadrez (com jeans) e plataformas altas tipo anabela, bem parecidas com as peças de camurça da Alessa.
Sem grandes novidades, o dia terminou com a harmonia fashion necessária para equilibrar os excessos do primeiro desfile do Fashion Rio. Porém, a moda praia, estrela das temporadas de verão, ainda não deu o ar da graça nas passarelas do Píer Mauá. Amanhã (terça-feira, 31 de maio), a Salinas puxa a fila dos desfiles de maiôs e biquínis, sendo a apresentação da Lenny, marca que comemora 20 anos de atuação (extraordinária) no beachwear, a mais aguardada desta edição da semana de moda carioca, que celebra o tropicalismo.