Falei dos ingleses porque o filme que comentamos é considerado de época e ambientado na década de 1860, com forte influência britânica. Narra a trajetória da vida de Karsandas Mulji, um jornalista que lutava pelos direitos das mulheres e modernização dos costumes na Índia. Sua atuação na telinha denuncia o patrono de uma dessas seitas o qual, amparado nos deuses e numa pregação fantasiosa, abusa sexualmente das mulheres com consentimento dos seus familiares.
A produção é riquíssima com um figurino de primeira qualidade e atores com perfis nativistas. Tem roteiro baseado no livro “Maharaj”, de Saurabh Shah, com protagonista principal Karsandas Mulji (Junaid Khan), jornalista de Bombaim. Sua luta permanente é contra Yadunath Maharaj (Jaideep Ahlawat), o guru religioso que abusa sexualmente de suas devotas. Resulta, no final, num confronto judicial histórico, em que o guru é condenado.
Até chegar a esse ponto – o que ninguém acreditava em Bombaim diante da força de Maharaj enraizada no Judiciário e em demais membros do poder da sociedade local, há cenas em que homens seguidores e/ou contratados pelo guru queimam exemplares do jornal de Mulji e até mesmo a sede da empresa, e sua noiva submetida aos caprichos do endeusado guru acaba cometendo o suicídio, na medida em que, mesmo violentada pelo guru, acreditava no seu destino; e duvidava da luta em defesa das mulheres do noivo.
Nessa dúvida, prefere a morte. E esse fato, permite que o jornalista reavalie posições na sociedade em que vive, debate com seus integrantes e aumenta a luta contra o guru e seu templo.
Maharaj (o guru) corporifica o Deus é Krishna, que significa "O Todo-Atrativo" o qual, portanto, engloba as qualidades, da pureza, da boa intenção, da sabedoria, e o que praticava com as mulheres era divino e sagrado, e não um crime
Os desempenhos dos atores principais - Junaid Khan (jornalista) e Jaideep Ahlawat (guru) – são bem encaixados nos seus papéis, em determinados momentos, Junaid derrapa um pouco nas interpretações; e Jaideep incorpora para si a personagem do guru, até convincente, mas, o que provoca repulsa do telespectador.
Para tema tão relevante como a exploração sexual sob o pretexto de tradição religiosa era de se esperar um filme com cenários mais austeros, ainda que revelando a época em que se passou. Creio, no entanto, que o modelo bollywood com música, ouros, danças, performances teatrais são incompatíveis com o tema. A abordagem do tema acaba sendo encoberta pela beleza do filme.
Paciência, estamos falando de um filme da Hollywood indiana e não de uma obra de arte das produções europeias sobre esse mesmo tema.