E, ao contrário do que se poderia imaginar (e esperar) diante de tantos perigos enfrentados pela protagonista Verônica Torres (Tainá Muller) na sua peregrinação afoita e justiceira para destrutir completamente a mafía simbolizada nas figuras de Cosme, Damião e Doum (carne, unha e sangue) pareceu-nos que o roteiro abandonou um pouco os caminhos dos capítulos iniciais, a protagonista amparada (e ao mesmo tempo isolada) por uma estrutura policial, da qual ela fazia parte como escrivã.
Nos capítulos finais, Verônica atua nos momentos cruciais, praticamente sozinha, lembrando que ela enfrentes três personagens torturadores e exploradores de mulheres - o ten-coronel Brandão (Eduardo Moscovis), o suave pastor Matias Cordeiro (Reynaldo Gianecchini) - o primeiro já morto e o segundo preso pela Policia - surgindo, assim, a terceira peça da trama roteirado pelos autores do livro com o mesmo nome da série, Raphael Montes e Ilana Casoy, o sangue ou Doum, um exótico produtor rural Jerônimo (Rodrigo Santoro), também refinado agressor de mulheres e assemelhado ao pastor Matias, e sua mãe Diana (Maitê Proença) que também faz o papel de Doum, coadjuvante dos crimes do filho.
Nesta caçada final da série nacional de maior sucesso da Netflix, atormentada por seu passado e isolada da familia e dos amigos, Verônica vai solucionar o complexo esquema de crimes, o que parece, aos olhos dos espectadores, improvável. E, suas ações, em parte, parecem cenas de super-herois de quadrinhos, deixando a desejar junto ao público por sua inautenticidade.
Neste final, o personagem de Reynaldo Gianecchini, pastor Cordeiro, que se encontrava preso pela Policia consegue se livrar da cadeia e de posse da informação de que seu irmão do crime, Jerônimo, estava mantendo em cárcere a sua filha Angela Cordeiro (Klara Castanho), sua denunciante, parte para resgatá-la e tomar satisfação a Jerônimo.
O milionário produtor rural o recebe com gentileza e depois o mata após uma cena em que Matias lembra de como eram intimos em tempos idos, acolhidos por um monsenhor, se abraçam e se beijam, quando Jerônimo, em ato de extrema fúria arranca sua lingua com os dentes e o mata a patadas de cavalo.
Tudo isso se passa num aras existente nos arredores de uma pequena cidade quando, Verônica, conhece Jerônimo, e sua mãe, Diana, que esconde segredos sobre o passado macabro do lugar, um sitio ou fazenda onde ao invés de leilões de cavalos e bois, leiloavam-se meninas-moças para endinheirados do agronegócio e outros.
E quando a máfia coloca a família da investigadora em perigo, ela fica sem saída, desesperada e arrisca todas suas últimas fichas em uma caçada perigosa - e consegue descobrir o celeiro das meninas-moças enclasuradas e que eram vendidas em leiões, provoca uma rebelião e mata os compradores do 'gado humano"
Verônica, pois, termiona a serie como uma super-heroina, reintegrada à familia. E pensativa no que fazer no futuro uma vez que, no combate a esses mafiosos do crime, descobriou que a Policia (e seu pai ex-policial) integravam também essa máfia tanto que ela é marcada, na nuca, como descendente desta organização
Vale observar, ainda, que "Bom Dia, Verônica" colocou interpretes icônicos da dramaturgia brasileira - Moscovis, Gianecchini e Santoro (homens) e Tainá Mullher, Maitê Proencia e Karla Castanho (mulheres) com atuações primorosas e a virtude de revelar ao pais um drama social que é frequente no Brasil, daí, provavelmente, a força da série e a aceitação do público que se vê, no dia-a-dia, sem amparo da Justiça e convivendo com um sistema policial repleto de vicios e corrupção, o que, em frequência aparece casos e casos na imprensa.
A cena final, então, mostra bem o que significa justiça com as próprias mãos e Verônica vai a um local ermo, uma antiga estação de trem vigiada pelas meninas-moças rebeladas e armadas onde há um produtor rural amordaçado, comprador do gado-humano, que é degolado pela ex-escrivã. O sangue espirra na telinha.