O diretor também apresenta um Napoleão diplomático defensor de ações e alianças politicas com outros parceiros da Europa em busca da paz no Continente, exceto com a Inglaterra que nutria uma ojeriza visceral. E, ao mesmo tempo, um Napoleão guerreiro, ambicioso e quase imbatível nos campos de batalhas até que foi derrotado na Rússia ao enfrentar o inverno e a aliança russa-britânica-prussiana.
A película - defenestrada pelos criticos de cinema da imprensa francesa - que a classificou como desajeitada e fora do contexto histórico, tem um olhar ou visão pessoal do diretor Scott, o qual não gostou dos comentários franceses sobre sua obra, porém, não passou o recibo e disse que a submeteu a especialistas da França em arte e cinema, que a aplaudiu.
Diria, de nossa parte, que o filme de Scott tem um roteiro linear com pertencentes simétricos - quadros da história que seguem uma cronologia regular - desde a origem do militar Napoleão Bonaparte (interpretado Joaquin Phoenix) e sua ascensão a imperador (1804/1814) após a conturbada Revolução Francesa (1789/1799) e que levou a última rainha da França (Maria Antonieta) a ser guilhotinada em praça pública.
E o filme, emblemáticamente, começa com a execução de Maria Antonieta (Catherine Walker) em praça pública sendo apupada pelo povo cena que o diretor coloca Napoleão presente, mas, na realidade histórica o militar frances sequer estava em Paris naquele momento. Este foi, de cara, um dos pontos polêmicos que entrou no debate muitos analistas dizendo que Scott sequer respeiteou a história.
Historiadores, no entanto, atestam que Napoleão quando das prisões do rei Luis XVI e de Maria Antonieta, em 1792, Napoleão estava em Paris. O diretor, então, decidiu na sua cinebiografia dramatizar a cena com uma Maria Antonieta de cabelos longos (ela na real tinha cabelos curtos quando da execução) e colocou Napoleão presente na cena da execução, o que, teria um significado de continuidade: ele estava em Paris na época da prisão e também na execução, pelo menos em pensamento.
Scott, ademais, segue a história e mostra a sucessão atabolhoada de governos que se seguiram durante os 10 anos de reolução quando muitas outras cabeças foram guilhotinadas e houve alternância de dirigentes no poder, até que o militar Bonaparte vindo de sucessos em campanhas no exterior assume o poder e se torna imperador dos franceses (1804).
E, nesse contexto politico e militar, destaca a relação conturbada e apaixonante a sua infiel esposa a imperatriz Josephine (Vanessa Kirby), que, não consegue lhe dar um herdeiro. Em nossa opinião, Kirby desempenha um papel interpretativo da personalidade de Josephine melhor do que Phoenix, como Napoleão, o qual - assim me pareceu - não entusiasma o telespectador de maneira alguma, nem como marido traido e as cenas dramáticas que isso produz; nem como general no campo de batalha, onde brilhou como estrategista militar.
Vindo do nada, como um oficial de artilharia do exército francês, o longa retrata a jornada heróica de Napoleão (os dez anos como imperador) , até ser derrotado e exilado na ilha de Santa Helena, onde faleceu. O que, aliás, foi bem retratado por Scott seus momentos finais no exílio conversando com duas jovens sobre a história e a vida e desfalece diante uma paisagem bucólica, o que representa, em si, o isolamento, o nada para um ex-todo poderoso.
Vale ressaltar que a dramaturgia não segue rigorosamente os passos da história e a própria história tem muitas versões de fatos, o que permite a qualquer diretor (e foi o que fez Scott) colocar a sua visão pessoal sobre Napoeão, ainda que, como vimos, há muita realidade histórica no seu filme, incontestável.
Diria, no entanto, que o filme não chega a emplogar e há outras cinebiografias bem mais legais na história do cinema do que este Napoleão de Scott. Os francesas, de fato, têm suas razões ao situar que o filme é "desajeitado"; assim como Scott tem razão quando diz que os francesas não gostam nem se si mesmos. SO)