"É preciso entender que não é uma luta, não precisava estar em situação bélica de lutar contra a morte. Então, podemos ressignificar a morte, aproveitando a vida, abraçando os momentos prazerosos que ainda é possível viver", essa foi uma das provocações apresentada pela jornalista e educadora Anna Penido, viúva do jornalista Gilberto Dimenstein, durante palestra, nesta terça-feira, 4, na Clínica Florence em Salvador. O evento, que marcou a programação do Dia Mundial de Cuidados Paliativos, celebrado neste sábado, 8, teve como público profissionais de saúde, promovendo um bate-papo sobre fim de vida e os impactos do cuidado deles no bem-estar de pacientes com doenças crônicas e sem possibilidade de cura.
Após relatar sua experiência com a finitude do marido, que morreu de câncer no pâncreas, Anna destacou a importância de a equipe de saúde olhar o paciente, e não, apenas a doença. "O médico especialista cuida da doença, mas os Cuidados Paliativos cuidam do paciente, do ser humano em sua integralidade e isso faz uma grande diferença, permitindo que a vida até a hora da morte seja a melhor possível”, disse. Sob a ótica da esperança, ela destacou que “a doença de Gilberto nos trouxe um desejo profundo e intenso de nos conectarmos ao essencial, por isso escolhemos nos entregar ao destino. A abordagem paliativa nos fez acreditar que vale aproveitar o fluxo natural da vida, sem desperdiçar energia tentando buscar soluções que geram mais sofrimento”.
Para Anna, que narrou essa vivência com Dimenstein no livro "Os últimos melhores dias da minha vida", os Cuidados Paliativos oferecem um olhar humanizado ao paciente e seus familiares, valorizando o que faz sentido para eles. Com uma abordagem interdisciplinar, os Cuidados Paliativos devem ser adotados desde o diagnóstico de uma doença ameaçadora da continuidade da vida, proporcionando mais bem-estar físico, emocional, social e espiritual para o paciente e seus familiares.
"Há uma concepção errônea de que os Cuidados Paliativos estão restritos ao período que antecede o falecimento, mas isso está equivocado e o ideal é que comece de forma precoce quando ainda há possibilidade de tratamento capaz de modificar a doença. Dessa forma, garantimos mais qualidade de vida, conforto e acolhimento ao paciente e seus familiares", pontua, João Gabriel Ramos, médico intensivista e paliativista, membro do Comitê de Cuidados Paliativos da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), professor adjunto da faculdade de medicina da UFBA e gerente médico da Clínica Florence.