Saúde

CIRURGIAS CARDÍACAS E TORÁCICAS NA BAHIA CRESCEM QUASE 50% EM UM ANO

Aumento revela impactos da pandemia de Covid-19 na saúde da população
Carla Santana , Salvador | 19/05/2022 às 13:10
Cirurgias torácicas
Foto: Divulgação

Um levantamento recente feito pela Cardiotórax - Cooperativa dos Cirurgiões Cardiovasculares ou Torácicos do Estado da Bahia - revelou um aumento de 48,85% no número de cirurgias cardíacas e torácicas realizadas na Bahia quando comparados os anos de 2020 e 2021. Em 2019, foram realizados 5.267 procedimentos. Em 2020, foram 4.812, devido à retração imposta pela pandemia de Covid-19, mas em 2021, a quantidade de operações subiu para 7.163. Se, por um lado, o adiamento de cirurgias eletivas nos piores momentos da crise sanitária foi necessário a fim de liberar leitos para os pacientes Covid-19 e para reduzir o risco de contágio pelo novo vírus em doentes que podiam aguardar pela cirurgia, por outro pode ter contribuído para aumentar os casos mais graves e de maior complexidade.

De acordo com o presidente da Cardiotórax, Leandro Públio Leite,  o agravamento de doenças cardíacas e torácicas e o consequente aumento do número de cirurgias mostram que houve uma intervenção tardia pelo afastamento dos pacientes nas consultas eletivas. “Certamente, muitos têm chegado às unidades de saúde em processo de agravamento em decorrência da evasão nos consultórios durante os momentos de pico da pandemia. Por outro lado, também houve aumento da descoberta precoce de novos casos devido ao grande número de pessoas que realizaram tomografias do tórax”, relatou o cirurgião torácico.

No atual cenário, além de tratar complicações agudas associadas à infecção pela Covid-19, os cirurgiões torácicos lidam com sequelas dos pacientes graves que sobreviveram. Segundo Leandro Públio, é nítido o aumento da incidência de doenças da traquéia, como estenose traqueal e fístulas traqueo-esofágicas, relacionadas à intubação prolongada, gravidade do quadro clínico, falta de estrutura adequada dos hospitais de campanha, sobrecarga do sistema de saúde, entre outros motivos. Esse cenário fica ainda mais claro e real no contexto do sistema público de saúde.

O especialista lembra que a pandemia de Covid-19 resultou em uma pressão sem precedentes sobre a estrutura e os profissionais de saúde. Superlotação hospitalar, escassez de leitos disponíveis de unidades de terapia intensiva (UTI) e necessidade de aumento rápido do “pool” de ventiladores mecânicos foram problemas comuns em todo o país. Diante desse quadro, “os cirurgiões torácicos tiveram que encarar novos e grandes desafios, principalmente em relação à grande demanda de procedimentos invasivos e para evitar a contaminação da equipe. A necessidade de adaptação técnica e profissional para adequar a especialidade à nova realidade foi grande”, disse Leandro Públio.


Cirurgias na pandemia - De todas as cirurgias realizadas pelos cirurgiões torácicos durante a pandemia de Covid-19, a traqueostomia foi a mais frequente, por acelerar o desmame da ventilação mecânica e aumentar a disponibilidade de ventiladores e leitos de UTI para outros pacientes. Além dela, as drenagens torácicas e a cirurgia de descorticação pulmonar também foram comuns, indicadas principalmente para tratamento de complicações pulmonares relacionadas à ventilação mecânica, sangramentos intratorácicos (devido à anticoagulação da maioria dos pacientes graves) e a infecções bacterianas sobrepostas a Covid-19. Nos casos mais graves associados à falência pulmonar aguda, a despeito de todas as medidas clínicas, a instalação da ECMO (membrana de oxigenação extracorpórea) foi outra importante alternativa para o tratamento, que pode ser realizado tanto por cirurgiões cardíacos como torácicos. 


A Cardiotórax, primeira e única cooperativa do país a reunir cirurgiões dessas duas especialidades, tem como objetivo congregar profissionais de reconhecida qualificação, a fim de conceder-lhes condições para o exercício de sua atividade e aprimoramento dos serviços de assistência médica. Além de resgatar a dignidade do exercício profissional frente às fontes pagadoras e de buscar a transparência com as instituições de saúde e o melhor uso dos avanços científicos e tecnológicos em benefício dos pacientes, a cooperativa tem como foco o resgate da relação médico/paciente lastreada na mútua confiança e respeito.