Psicoterapeuta e professor Vitoriano Garrido reforça necessidade de buscar profissionais capacitados
Carlos Baumgarten , Salvador |
10/04/2021 às 14:21
A pandemia impactou em cheio a saúde mental da população. Se por um lado, os especialistas evidenciam uma maior procura por tratamentos que lidem com essa questão, por outro, o INSS registra recorde de afastamento do trabalho por transtornos mentais.
Dados da Secretaria Especial da Previdência e Trabalho do final do ano passado mostram que foram 576,6 mil afastamentos, um aumento de 26% em relação a 2019. Esses dados dizem respeito à concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez devido a transtornos mentais. Esse não é um problema novo. Em 2017, o Ministério da Saúde já apontava que a 3ª maior causa de afastamento do trabalho ocorria por transtornos mentais.
O cuidado com a saúde mental exige a busca por profissionais que estejam, de fato, capacitados para o atendimento. O psicoterapeuta e professor Vitoriano Garrido alerta que o profissional precisa ter muita atenção na sua abordagem. “Há terapias que podem agravar aspectos psíquicos e psiquiátricos”, alerta Garrido. "assim como em qualquer área, temos todo tipo de profissional", acrescenta.
Ele lembra o aspecto humano dos terapeutas, que podem levá-los a equívocos como tomar partido, dar conselhos e mesmo projetar a história dele no paciente. “É preciso ter cuidado, ter neutralidade”.
Por outro lado, o professor Garrido recorre ao psicanalista Contardo Calligaris, que faleceu recentemente, para falar de mudanças na abordagem na terapia. “O homem e a mulher que Freud analisou já não são mais os mesmos. Fatores históricos e culturais também influenciam nosso comportamento, não apenas as questões biológicas”, diz.
“Havia uma orientação de não ter muita aproximação, quase ‘tratar mal’ o paciente”, brinca o professor Garrido. “Mas ninguém vai se abrir com quem é frio e distante. É preciso estabelecer relação de confiança e emparia”, conclui.
Na pandemia, Garrido conta que muitos profissionais da área relataram um volume substancial de atendimento entre os meses de dezembro a fevereiro, período em que as demandas junto aos consultórios costumam diminuir. “Isso mostra o impacto na saúde mental, da pandemia, além de que alguns preconceitos foram superados e as pessoas estão buscando ajuda. Sabemos que existe ainda uma resistência muito grande das pessoas em falar sobre o assunto. Ainda há uma precedência das doenças do corpo em relação às doenças da mente".
Outro aspecto evidenciado nesse momento é que, com a possibilidade de realização de terapia online, houve um aumento na busca por especialistas nesse período. Professor Garrido explica que o advento da terapia online possibilita que as pessoas escolham os profissionais com os quais querem trabalhar. “Atendo pessoas no Japão e no interior da Bahia, estando em Salvador”, exemplifica.
Ele reitera que a modalidade online é tão efetiva quanto a presencial, desde que sejam obedecidas as regras de sempre, estar em locais com privacidade e silenciosos, com comodidade e conforto mínimo. “O princípio do divã, em que as pessoas se colocam em uma posição confortável, pode ser encontrado facilmente nas casas dos pacientes”, diz.