A atividade foi realizada em alusão ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo 2021
Secom Salvador , Salvador |
31/03/2021 às 06:38
Autista, Marcos Petry faz palestra sobre o tema em live da Smed
Foto: divulgação
“Como vocês moram longe, não temos como prepará-los, o seu filho é surdo, cego e nunca vai vir a caminhar. O melhor a fazer é deixá-lo em um berço para descansar. Em determinado tempo, a lesão tomará conta do cérebro e ele vai morrer”. Esse foi o relato emocionado de Arlete Boing Petry sobre a informação médica recebida acerca de seu filho Marcos, quando ele tinha apenas três meses de vida.
A história foi contada durante a live “O que um autista falaria para um professor”, promovida pela Secretaria Municipal de Salvador (Smed) em parceria com a Associação de Amigos do Autismo da Bahia (AMA-BA), e que está disponível no canal da Smed no YouTube. A atividade foi realizada em alusão ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo 2021, cuja data definida pela ONU é a próxima sexta-feira, 2 de abril.
Hoje, ao contrário dos prognósticos e em razão do grande empenho da família, Marcos Petry tem 28 anos e foi o principal palestrante da live. Autista, Marcos tem uma carreira de palestrante, escritor, músico e youtuber, referência em autismo no Brasil. Ele é autor dos livros “Contos de Meninas e Meninos. Contos de Homens e Mulheres” (2016) e “Memórias de um autista por ele mesmo’’ (2018), entre outros.
A apresentação foi mediada pela coordenadora de Inclusão Educacional e Transversalidade da Smed, Jaqueline Araújo. Também participaram do evento Estela Santana, psiquiatra e psicanalista da AMA; Piton Miranda, fisioterapeuta que atua na coordenadoria; a mãe e professora de Marcos, Arlete Boing Petry, e os intérpretes em libras, Roni, Priscila e Tatiana Mendes.
Experiências e orientações – Na live foram compartilhadas experiências e vivências sobre o entendimento do espectro do autismo, no intuito de aproximar os professores e educadores para o tema. Para Marcos, é na escola que um aluno descobre suas aptidões e são os professores nas escolas que darão as oportunidades que o aluno com autismo vai descobrir dali para frente. “O que um autista gostaria de falar para seus professores é: Deixe-me observar. Tudo o que eu posso ver, eu posso aprender”, disse.
O palestrante ainda contribuiu com dicas valiosas para os professores sobre como lidar com situações que atrapalham o aprendizado para quem é autista. Por exemplo, se o docente entender que ele precisa avisar que o assunto abordado acabou e que vai entrar em outro, o autista vai ter o processamento da informação muito melhor.
Segundo Marcos, o aluno com espectro de autismo, quando visualiza algo diferente do seu habitual, não consegue fazer com que todas as partes do seu cérebro trabalhem juntas. Isso faz com que o estudante com TEA leve seis segundos a mais para entender o que está sendo dito.
“Lá na escola eu ficava viajando quando várias pessoas falavam ao mesmo tempo e gritavam. As aulas começavam em um assunto e a professora não avisava que iria mudar o assunto. Aí eu ficava pensando e viajando ainda no assunto prévio’’ lembrou. Marcos acrescentou ainda que um aluno com autismo sempre dá sinais dos traços desta condição: brincar ou usar brinquedos de maneira incomum, chorar ou rir em momentos inadequados e dificuldade em se relacionar com os outros colegas são alguns deles. O encerramento foi com a interpretação da canção “Maluco Beleza”, de Raul Seixas.
Esperança – A mãe e professora Arlete pontuou a importância de ter a família unida, trabalhando todos juntos. “Saber o que será daqui para frente com o meu filho e com as pessoas que têm autismo, só fazendo o que vocês estão fazendo: informando. Eu acredito muito nos professores. Vejam hoje meu Marcos com 28 anos tudo o que ele já fez e continua a fazer. Isso não tem preço no mundo”.
A mediadira Jaqueline Araújo falou do sentimento e da oportunidade de ouvir e dividir o momento com o palestrante. “A rede de educação de Salvador está em êxtase. Ouvir Marcos foi a coisa mais maravilhosa que aconteceu e superou todas as nossas expectativas. Quando ele começou a falar e tocar o violão, nos derretemos por ele. Quantas capacidades e habilidades ele nos ensinou. As limitações são muito pequenas diante das potencialidades”, finalizou.