“Mesmo com um programa de imunizações bem estruturado no país, a queda da cobertura vacinal tem preocupado muito as autoridades de saúde e nós, infectologistas, também devemos priorizar essa questão, já que tem grande impacto na saúde pública”, destaca o presidente do Departamento Científico de Infectologia da SBP, Marco Aurélio Sáfadi.
O inefctologista conta que devido à volta do sarampo, que estava sob controle, e do risco da poliomielite, o Brasil está em alerta, pois é preciso atuar fortemente para que as campanhas de vacinação sejam efetivas e atinjam um percentual expressivo de cobertura.
Este tema será abordado, no próximo dia 15, na conferência “Antivacinas e impacto na Saúde Pública”, conduzida por Regina Succi, professora da Universidade Federal de São Paulo, que receberá homenagem do departamento. A aula integra a programação do 20º Congresso Brasileiro de Infectologia Pediátrica (20º Infectoped), de 14ª 17 de novembro, no Bahia Othon Palace Hotel, em Salvador. Organizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) em parceria com a Sociedade Baiana de Pediatria (Sobape), o evento deve reunir cerca de mil especialistas.
“Outros aspectos que precisamos enfatizar são o movimento antivacinas e também as fake news (notícias falsas), que têm interferido nas vacinações. Informações enganosas e sem fundamento repercutem negativamente para a saúde como um todo. Devemos combater na nossa rotina”, complementa Sáfadi.
200 MIL PESSOAS - Outra infectologista pediátrica que também será homenageada no congresso, a médica Luiza Helena Falleiros-Arlant, coordenadora do Comitê Nacional de Certificação da Erradicação da Poliomielite, diz que até 200 mil pessoas podem adoecer de poliomielite ao redor do mundo, caso ocorra uma queda vacinal. “É inconcebível aceitarmos esta doença de volta. Por isso, é importante realizarmos grandes campanhas de seguimentos, como a ocorrida em agosto”, observa.
A médica conta que na década de 1970, antes das grandes campanhas nacionais de vacinação, a pólio registrava mais de 11 mil casos no Brasil, enquanto o sarampo atingia mais de 109 mil pessoas. “Tudo começou a mudar a partir dos anos 1980, quando chegamos a vacinar 18 milhões de crianças menores de 5 anos em um único dia”, relembra.
“Estamos enfrentando os pecados de nosso próprio sucesso, com uma geração que já não se mobiliza contra doenças, que parecem não mais ameaçá-las. A cada ano diminui o número de municípios brasileiros que atingem 95% de cobertura vacinal e até julho o Brasil registrava 677 casos de sarampo no ano. A pólio, embora siga fora do território brasileiro, ameaça voltar ao país pela fronteira com a Venezuela. Portanto, precisamos vacinar nossas crianças para que a situação não piore”, conclama.
SURTOS – O Brasil recebeu, em 2016, da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o certificado de eliminação da circulação do vírus do sarampo. Para manter o certificado, são necessários esforços para fortalecer a vigilância epidemiológica e também as estratégias de imunização.
Atualmente, o país enfrenta dois surtos de sarampo: um em Roraima e outro no Amazonas. Segundo o Ministério da Saúde, os surtos estão relacionados à importação, comprovados pela identificação do genótipo do vírus (D8), o mesmo que circula na Venezuela.
O sucesso do Programa Nacional de Imunizações, em seus 45 anos de existência, erradicou e eliminou doenças evitáveis por vacinação, que causavam doenças e matavam milhares de brasileiros, como a poliomielite. Esse benefício trouxe à sociedade uma falsa sensação de segurança e a impressão que não mais se precisava seguir o Calendário Nacional de Imunização, com consequente perigosa redução das coberturas vacinais.
Também contribuíram para as principais causas da queda de vacinação de sarampo o desconhecimento individual de doenças já eliminadas; horários de funcionamento das unidades de saúde incompatíveis com as novas rotinas da população; além da circulação de notícias falsas na internet e WhatsApp, que causam dúvidas sobre a segurança e eficácia das vacinas. “Em pleno século 21, é inadmissível casos de sarampo em crianças, sendo que a vacina está no calendário nacional há décadas”, frisa Luiza Helena.