As arboviroses continuam sendo um problema de saúde pública no Brasil, a exemplo da Zika, com número expressivo desde 2015 e trazendo graves sequelas para crianças e famílias. Segundo o Ministério da Saúde, até 2017 foram confirmados no país mais de 3 mil casos de crianças com problemas de desenvolvimento provenientes do Zika. O Nordeste lidera as notificações de casos suspeitos e a Bahia é o segundo dos cinco estados com maior número de confirmações, pouco atrás de Pernambuco.
O tema será tratado no simpósio “Arboviroses: Impacto e Perspectivas no Brasil”, durante o 20º Congresso Brasileiro de Infectologia Pediátrica (Infectoped), entre 14 e 17 de novembro, no Bahia Othon Palace, em Ondina. A atividade é uma realização da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) em parceria com a Sociedade Baiana de Pediatria (Sobape).
Na oportunidade, a ONG baiana “aBRAÇO a Microcefalia” vai apresentar a realidade dessas crianças e suas famílias, assim como vai comercializar objetos artesanais feitos pelas mães das crianças com o objetivo de manter o tratamento multidisciplinar. As inscrições para o evento estão abertas no site: www.infectoped2018.com.br, onde é possível acessar a programação completa.
ZIKA - Para a palestrante Maria Ângela Rocha (PE), apesar da menor incidência no país, é preciso compreender que o vírus zika continua circulando nas Américas. “O número de casos detectados está baixo. Isso é bom por um lado porque são poucos casos de Zika confirmados. Mas também é complicado porque os médicos acabam diminuindo a guarda e corremos o risco de não se adotar as medidas preventivas. Lembrem-se: se tem mosquito, tem a circulação do Zika”, enfatizou.
De 6% a 12% dos filhos de gestantes infectadas pelo Zika apresentarão quadro da síndrome congênita desencadeada pelo vírus, caracterizada por microcefalia e outras anormalidades, como alterações visuais, deficiência auditiva, deformidades esqueléticas e epilepsia.
A professora Maria Ângela diz que também é preciso não descuidar da dengue, que registra um crescimento no número de casos confirmados em meses atípicos. Para ela, esta heterogeneidade pode indicar maior ocorrência em 2019.
VETOR - “A dengue vinha silenciosa no Brasil e agora nota-se um aumento de casos fora da época de circulação. No Rio Grande do Norte, por exemplo, tivemos um surto, com cinco mil casos. Esse comportamento é um prenúncio de que há possibilidade de um surto importante no Brasil no ano que vem”, explica.
Segundo a médica, “enquanto o vetor Aedes aegypti estiver presente na comunidade, temos risco dessas mazelas urbanas. No caso da dengue, é preciso ficar atento também em relação à possibilidade de choque do paciente, pois a doença pode matar em três dias”.
A especialista chama a atenção que a chikungunya é outra arbovirose que merece atenção médica, uma vez que a circulação do vírus no Brasil não é uniforme em todas as regiões. Atualmente, no Rio de Janeiro, a incidência está maior. “Em 2017, foram muitos casos com óbitos por chikungunya no Ceará. Este ano, temos mais casos no Rio de Janeiro. Isso nos leva a perceber que, tecnicamente, o Brasil sempre está permitindo a circulação do vírus”, explica.
A professora Maria Ângela destaca que, nos recém-nascidos, os casos são diferentes daqueles apresentados em adultos e que “é preciso alertar os médicos que atendem à faixa etária pediátrica, já que a mortalidade é maior, assim como nos idosos”.