Saúde

NOB promove encontro sobre oncologia integrativa aberto a pacientes

Na medicina integrativa, o paciente é protagonista do seu tratamento. Cada vez mais aliar técnicas de relaxamento e de autocuidado
CC , Salvador | 26/03/2018 às 17:08
Bem Estar
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  O câncer começa e termina nas pessoas, disse, certa vez, a cientista britânica June Goodfield. Para ela, em meio as abstrações científicas, essa verdade fundamental pode acabar sendo esquecida. “Médicos tratam doenças e também pessoas e esta precondição de existência profissional, por vezes, a empurra em duas direções ao mesmo tempo”. Goodfield está certa, assim como estavam chineses, indianos e tantos outros há mais de séculos: é preciso olhar o todo. Ainda hoje o tratamento contra o câncer é muitas vezes difícil e, não obstante, é preciso tratar a doença e também as pessoas de uma forma global, fortalecendo-as física, mental e, por que não, espiritualmente para que estejam prontas para encarar a doença.

Com o objetivo de promover a importância da medicina integrativa, o Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB) / Grupo Oncoclínicas vai promover o Encontro Bem Estar, no próximo dia 5 de abril, às 16 horas, no auditório da sua sede em Ondina. Durante o evento, que integra as comemorações pelo Dia Mundial de Combate ao Câncer, haverá um Talk Show mediado pela apresentadora Olga Goulart e com a participação de vários especialistas. Inscrições gratuitas e informações através do e-mail comunicação@nob-ba.com.br ou telefone (71) 4009-7059

No encontro, a oncologista Renata Cangussu, da equipe do NOB, falará sobre “Oncologia integrativa: porque essa modalidade é essencial no tratamento do câncer”. A fisioterapeuta Helena Mathias vai abordar  o tema “Atividade física: os benefícios de diferentes modalidades, como Pilates e Yoga, na prevenção e tratamento do câncer”, o psicólogo Beto Dias vai expor os benefícios psíquicos e físicos do Mindfulness (atenção plena), técnica de meditação cada dia mais recomendada pela própria comunidade médica por seus efeitos no bem estar do paciente. E o educador físico Antônio Marcos Motta vai falar sobre “O papel da atividade física na fadiga relacionada à quimioterapia.”

Não é por acaso que, cada vez mais, em centros oncológicos existem áreas reservadas para tratamentos como reiki, acupuntura, musicoterapia, yoga, suporte emocional, psicologia e tantos outros tratamentos bem ao lado das salas com equipamentos de alta-precisão. Isso porque cuidar do paciente com câncer é mais que um tratamento multifuncional, ele deve ser integrativo.

“A medicina integrativa não é uma especialidade médica, é uma forma de exercer a medicina. Um olhar que entende que a pessoa que está doente tem um conjunto de sintomas físicos e emocionais. Tem também o contexto familiar em que ela vive, a casa, o trabalho. E para que a gente tenha sucesso no tratamento é preciso abordar o paciente como um todo”, diz Renata Cangussu, médica especializada em oncologia integrativa do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB) .

Tempo e atenção

As consultas de medicina integrativa duram em média uma hora, onde se aborda a história pessoal do paciente e como a doença está impactando a vida dele. “Além disso, trabalhamos alimentação, atividade física, fadiga, sono e também alteração do humor. Só depois de seguir esse caminho é que criamos um plano de autocuidado. Assim, conseguimos lançar mão das terapias complementares”, explica a médica Renata Cangussu. “Muitas dessas práticas estão associadas ao relaxamento, que é exatamente a outra ponta da ansiedade muito comum durante um tratamento de câncer”, frisa.

As terapias conhecidas como alternativas tinham a visão de tentar substituir o tratamento tradicional, já as terapias complementares estão sendo cada vez mais estudadas na oncologia no intuito de agregar benefício ao tratamento tradicional, proporcionando maior qualidade de vida ao paciente. Hoje sabe-se que é de extrema importância que o paciente se sinta mais ativo, mesmo durante o tratamento. Com os grupos, eles percebem que mesmo com a doença, eles podem encontrar momentos de saúde e tomar as rédeas do tratamento. A lógica é que quando se estimula uma resposta de relaxamento, imediatamente há queda de adrenalina. Quando isso acontece há aumento de imunidade, fazendo com que a incidência da infecção seja menor, a alimentação, o sono e o humor sejam melhores.  

A oncologista do NOB conta sobre a área para o cultivo de um jardim existente na clínica, na unidade de Lauro de Freitas do NOB. Pode parecer inusitado, mas ela garante a importância do local. Lá pacientes podem conviver, trocar experiências e refletir enquanto fazem o tratamento.

“Focar na doença e em seus efeitos colaterais é algo sistemático demais. É preciso focar no todo, em como o paciente poderá se fortalecer para enfrentar a doença, pois eu acredito que a doença e a cura estão dentro das pessoas. E quem pode alavancar isso? O médico. Mas para isso é preciso uma troca, uma convivência para conhecer a força e a fraqueza de cada paciente”, diz a oncologista Renata Cangussu.

Ela explica que a grande maioria dos estudos sobre medicina integrativa mostra uma resposta muito boa no controle da ansiedade, estresse, modulação da dor, distúrbios do humor, do sono.  São ferramentas que permitem que a pessoa olhe para si, passo importante para a qualidade de vida, principalmente durante um tratamento. Isso porque, muitos pacientes subestimam quão dramaticamente o câncer pode afetá-los, seja do ponto físico ou emocional.

“O paciente precisa estar preparado para receber o tratamento, tomar as rédeas da situação. Ele não deve ter uma posição passiva, sem protagonizar aquele momento, sem entender ou refletir o que está acontecendo com ele”, completa a especialista.

Um não exclui o outro


O cuidado integrativo tem duas camadas. Em primeiro lugar, os tratamentos convencionais atacam a doença em si. Ao mesmo tempo, as terapias complementares ajudam a combater os efeitos colaterais relacionados ao câncer. Os dois juntos, tratamentos convencionais e complementares contra o câncer, devem ser oferecidos simultaneamente por uma equipe colaborativa de clínicos


“Uma abordagem não exclui a outra. A integrativa, como o próprio nome diz, vem para somar. Se eu não olhar o que está por trás da dor eu vou sempre tomar um remédio. A gente fala muito em sustentabilidade, precisamos falar também da sustentabilidade da saúde e é aí que entra esse olhar de integração do tratamento oncológico com técnicas como yoga ou reiki, no sentido de cuidar de si por inteiro. A gente está sempre olhando para fora e são poucos os momentos que olhamos para dentro. A medicina integrativa faz isso”, finaliza a médica.