A epilepsia é um problema de saúde pública e afeta, aproximadamente, de 1 a 2% da população, em geral. Só em Salvador, estima-se que existam pelo menos 30 mil pessoas com a doença. No Dia Nacional e Latino Americano de Conscientização da Epilepsia, 9 de setembro, o grande apelo dos pacientes e neurologistas é contra o preconceito.
“Não é fácil viver com epilepsia, sobretudo porque é uma doença muito estigmatizada e cujos portadores ainda sofrem muito preconceito. As pessoas precisam saber que epilepsia não é contagiosa, que os pacientes são tão produtivos, tão inteligentes e capazes quanto qualquer outra pessoa e devem ter uma vida absolutamente funcional, trabalhar e divertir-se”, destacou o neurologista e epileptologista da equipe do Hospital Cárdio Pulmonar, Humberto Castro Lima.
O especialista destaca ainda que tratamento medicamentoso é muito eficiente, garantindo qualidade de vida aos pacientes. “Cerca de 70 a 80% dos indivíduos afetados, desde que tratados adequadamente, conseguem ficar completamente livres de crises. Na minha opinião, por se tratar de uma doença tão prevalente, não só os neurologistas deveriam estar preparados para oferecer um atendimento adequado, mas também os médicos generalistas, sobretudo aqueles que atuam na atenção básica”, destaca.
Humberto Castro Lima ressalta que para os casos mais complexos, ou seja, para aquela minoria, na qual a resposta aos remédios é insatisfatória, continuaria indicado o encaminhamento para o epileptologista, responsável por avaliar a indicação cirúrgica, procedimento extremamente seguro e eficaz. “Contudo, o acesso a medicação, ao médico, ao especialista e à avaliação adequada ainda são um problema no mundo e no nosso país em particular”, afirma o neurologista.
Crises
A principal manifestação da epilepsia são as crises epilépticas recorrentes. Existem vários tipos de crises e o que elas têm em comum é o fato de serem provocadas por uma anormalidade elétrica do cérebro e serem paroxísticas, ou seja, acontecerem de repente, muitas vezes sem nenhum aviso prévio. “As causas de epilepsia podem variar desde uma predisposição genética até danos estruturais do cérebro como tumores, Acidente Vascular Cerebral (AVC), infecções ou traumatismo craniano”, explica Humberto Castro Lima.
Outro alerta do especialista é sobre os tipos de crises. “A maioria das pessoas consegue identificar facilmente uma convulsão, que é caracterizada pela perda abrupta da consciência, abalos musculares, mordedura de língua, salivação excessiva com recuperação lenta e gradual da consciência. Porém, existem muitos outros tipos de crises epilépticas, além das convulsivas às quais as pessoas devem estar alertas”, ressalta.
Entre os outros tipos estão a Epilepsia Ausência da Infância, quando a criança pode estar realizando alguma atividade e, de repente, ficar completamente imóvel, com os olhos arregalados e, depois de alguns segundos, voltar a si e retornar a fazer exatamente o que estava fazendo antes.
“Nos adultos, são frequentes as crises do lobo temporal que podem se manifestar com comportamentos estranhos. A pessoa inicialmente pode sentir um mal-estar inespecífico ou sensação de medo ou de dejávù, em seguida para a atividade que está fazendo, o olhar fica diferente, apresenta automatismos manuais (ficar mexendo na roupa, abotoando e desabotoando a camisa) e automatismos orais (mexer a boca ou movimentos mastigatórios), sem consciência do que está ocorrendo. Geralmente, o paciente não se lembra de nada que aconteceu e pode ficar muito confuso após o evento”, orienta o epileptologista.