A taxa de partos normais entre os hospitais participantes do Projeto Parto Adequado tem se mantido em ascensão, demonstrando que as mudanças estabelecidas após um ano de implantação da iniciativa são sustentáveis. Novos resultados divulgados hoje (5), pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Hospital Israelita Albert Einstein eInstitute for Healthcare Improvement (IHI) revelam que as 40 instituições privadas e públicas estão mantendo uma média de 31% de partos normais entre o público-alvo das medidas. Seis meses antes do fim do projeto, 21 hospitais – mais da metade - já atingiram pelo menos 40% de partos vaginais, alcançando marco importante no âmbito da iniciativa.
Antes de dar início às medidas para reduzir as cesáreas desnecessárias, os hospitais e maternidades apresentavam, em média, 22% de partos normais. Passado 12 meses, o grupo registrou um aumento de nove pontos percentuais na taxa de partos vaginais entre as gestantes atendidas nessas instituições que são alvo das mudanças implementadas. O resultado positivo se deu mesmo durante as festividades de final do ano, período em que se acredita que há um notório aumento das cesarianas agendadas sem necessidade.
Outros indicadores monitorados também têm apresentado resultados que corroboram a eficácia das medidas, entre os quais as admissões em UTI neonatal decorrentes de cesáreas prematuras. Seis hospitais já conseguiram reduzir as internações, com índices que variaram de 29% a 67% de queda. De acordo com Ana Luiza Augusto Shoji, diretora de Medicina Preventiva do Hapvida Saúde, o Hospital Teresa de Lisieux diminuiu em mais de 50% o ingresso de recém-nascidos na UTI Neonatal. “Estamos mudando os processos de trabalhos institucionais e esperamos atingir novas metas até setembro”, revela. No Brasil, 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis estão relacionados à prematuridade. Quando não tem indicação médica, a cesárea ocasiona riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê: aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. Além dos riscos para o bebê, a internação em UTI neonatal eleva sobremaneira os custos hospitalares.
“Continuamos avançando de maneira muito rápida e consistente, consolidando o que já havíamos cumprido e avançando ainda mais, com resultados que eram esperados apenas em setembro”, avalia a diretora de Desenvolvimento Setorial da ANS, Martha Oliveira. “Além disso, estamos observando mudanças positivas também em um dos indicadores mais importantes - redução da admissão em UTI neonatal -, o que nos dá a certeza de estarmos no caminho certo”, conclui, destacando que os modelos testados no projeto serão futuramente disseminados para todo o país.
Para o diretor superintendente do Hospital Albert Einstein, Miguel Cendoroglo, a importância da educação e da mudança cultural é o que trará mais benefícios. “Ao treinarmos equipes de todo o Brasil, proporcionamos uma troca muito rica. O que se aprende nos encontros é levado para as pacientes também, seja em forma de campanhas, ou em forma de um atendimento diferenciado e mais humanizado”, ressalta.
“O IHI está muito orgulhoso de estar envolvido em um projeto que vai ter impacto não apenas no Brasil, mas na América Latina e no mundo”, destaca Pedro Delgado, diretor-executivo e coordenador regional do IHI na América Latina e Europa. “É uma iniciativa inovadora e pioneira. Estamos no caminho certo, mas ainda há muito a conquistar”, avalia.
Mudanças - Para atingir esses resultados, os hospitais privados e públicos que participam do projeto Parto Adequado estão promovendo melhorias na infraestrutura hospitalar, nos processos de trabalho e incentivando mudanças culturais. As medidas têm possibilitado a incorporação de equipe multiprofissional, promovido a capacitação dos profissionais para ampliar a segurança na realização do parto normal e a revisão das práticas relacionadas ao atendimento das gestantes e bebês, desde o pré-natal até o pós-parto. Tudo isso com o engajamento do corpo clínico, das equipes e das próprias gestantes.
No Brasil, o número de cesáreas entre os beneficiários de planos de saúde chega a 84,6% (dado de 2015). É um índice alarmante, especialmente se considerarmos que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um índice de partos cirúrgicos não superior a 15%. A redução da taxa de cesáreas desnecessárias entre os hospitais que integram o Parto Adequado equivale ao salto que o índice deu em praticamente uma década – de 2006 a 2015 -, período em que o número de cesáreas na saúde suplementar passou de 75,5% para quase 85%.
Trinta e duas operadoras de planos de saúde também participam do projeto. O apoio se dá com a orientação e direcionamento das beneficiárias que desejarem o parto normal na rede de prestadores, criação do Espaço Parto Adequado em seu portal eletrônico, priorização dos interesses das gestantes e suas famílias na organização e avaliação de viabilidade financeira dos modelos assistenciais inovadores a serem implementados nos hospitais apoiados, com a construção de propostas para financiamento.