Há quase cinco meses que portadores da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) sofrem com a falta de medicamentos nos postos de distribuição gratuita na Bahia. A enfermidade respiratória atinge 7 milhões de pessoas no Brasil e, de acordo com o pneumologista do hospital Roberto Santos, doutor Aquiles Camelier, cerca de um milhão de pessoas no Estado. Segundo dados da pesquisa Revelar, que traça o perfil dos portadores de DPOC em diversas capitais do País, 37 mil brasileiros morrem vítimas da doença por ano - o equivalente a 4 mortes por hora.
“A qualidade de vida reduz sem os remédios. Os portadores ficam dependentes de familiares, podendo parar na emergência a qualquer momento por não conseguirem respirar direito”. O alerta é do pneumologista e especialista no tratamento da patologia, Guilhardo Fontes Ribeiro, que atende pacientes no Hospital Santa Izabel, no bairro de Nazaré, um dos poucos centros de saúde que oferecem atendimento especializado para DPOC em Salvador. Os outros locais para tratamento e realização de exames para a doença são o Hospital Octávio Mangabeira, no Pau Miúdo, e o Hospital das Clínicas, no Canela.
O doutor Camelier afirma que as unidades de tratamento de DPOC do Estado são insuficientes para atender a demanda dos pacientes. “A gente estima que existem na Bahia cem mil casos diagnosticados de DPOC, mas apenas cerca de dois mil pacientes estão cadastrados nas unidades de atendimento e recebendo medicação. Analisando este cenário de um milhão sem diagnóstico, cem mil diagnosticados e dois mil recebendo tratamento dá para perceber que estamos muito aquém do que é necessário”, ressalta.
A DPOC é uma doença geralmente progressiva, irreversível, que engloba enfisema pulmonar e bronquite crônica. Ela se caracteriza pela presença de sintomas crônicos (tosse, produção de catarro e falta de ar) e se manifesta com mais frequência em fumantes e ex-fumantes acima de 40 anos.
Além da falta de ar, a DPOC pode causar exacerbações (infecções respiratórias agudas recorrentes), que levam a uma piora significativa na qualidade de vida do paciente, agravando muito o prognóstico do mesmo. Desse modo, se um paciente tem de duas a três exacerbações por ano, ele pode ter pelo menos um ano de redução de vida a cada novo evento.
Conforme o doutor Camelier, uma das grandes dificuldades enfrentadas por portadores de DPOC é a ausência de diagnóstico. Ele afirma que dos um milhão de pessoas que possuem a doença na Bahia, apenas cem mil tem o diagnóstico confirmado.
Além da ausência de diagnóstico, o especialista destaca que a falta de medicamento também é outro entrave para o tratamento da doença. “O paciente vai ao médico, obtém a receita, mas o Estado (governos federal, estadual e municipal) não tem condições de promover o acesso desse paciente ao medicamento, dificultando assim o seu tratamento”, afirma Camelier.
Para o presidente da Associação Bahiana dos Portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), Jorge Alves, a situação na Bahia está crítica. “São pessoas idosas que chegam aos hospitais com receitas de médicos do SUS e saem sem remédios. Sem os medicamentos elas não conseguem respirar direito”, desabafa. “Nas farmácias tem remédio que pode custar até R$ 200 e os portadores mais humildes não têm condições de comprar”, completa.
De acordo com Guilhardo Fontes, só no Hospital Santa Izabel são 600 pacientes cadastrados para receber atendimento pelo SUS, todos dependentes de medicamentos como Brometo de Tiótropio, Formoterol, Fluticasona, Salmeterol, Budesonida, entre outros, que estão em falta. Para tentar minimizar o problema, o médico consegue amostras grátis com laboratórios para os pacientes com casos mais graves. “Recebo uma média de trinta ligações por dia de pacientes desesperados, me pedindo remédios”, afirma ele.
O tratamento para DPOC costuma envolver três tipos de medicações, que devem ser tomadas diariamente. “Há pacientes reclamando que não tem condições, se privando de alimentos para comprar os remédios. Alguns deles ainda reduzem a dosagem dos medicamentos para economizar, o que agrava um pouco a situação”, conta Guilhardo Fontes.
Segundo a advogada da Associação Bahiana dos Portadores de DPOC, Jussara Baqueiro, no momento, a associação está fazendo um trabalho de conscientização com os seus membros para mover uma ação coletiva contra o Estado com o objetivo de solucionar o problema da falta de medicamentos. “O intuito da associação hoje é mover uma única ação envolvendo todos os portadores porque assim nós conseguiremos ter uma força maior na ação e evitar o contato direto da Sesab com os pacientes”, explica.