Saúde

Portadores de doença pulmonar crônica denunciam falta de medicamentos

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Indira Naiara , Salvador | 04/05/2014 às 19:55
Há quase três meses que portadores da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) sofrem com a falta de medicamentos nos postos de distribuição gratuita na Bahia. A enfermidade respiratória atinge 7 milhões de pessoas no Brasil e aproximadamente 480 mil no Estado. Segundo dados da pesquisa Revelar, que traça o perfil dos portadores de DPOC em diversas capitais do País, 37 mil brasileiros morrem vítimas da doença por ano - o equivalente a 4 mortes por hora.

“A qualidade de vida reduz sem os remédios. Os portadores ficam dependentes de familiares, podendo parar na emergência a qualquer momento por não conseguirem respirar direito”. O alerta é do pneumologista e especialista no tratamento da patologia, Guilhardo Fontes Ribeiro, que atende pacientes no Hospital Santa Izabel, no bairro de Nazaré, um dos poucos centros de saúde que oferecem atendimento especializado para DPOC em Salvador. Os outros locais para tratamento e realização de exames para a doença são o Hospital Octávio Mangabeira, no Pau Miúdo, e o Hospital das Clínicas, no Canela.

A DPOC é uma doença geralmente progressiva, irreversível, que engloba enfisema pulmonar e bronquite crônica. Ela se caracteriza pela presença de sintomas crônicos (tosse, produção de catarro e falta de ar) e se manifesta com mais frequência em fumantes e ex-fumantes acima de 40 anos.

Além da falta de ar, a DPOC pode causar exacerbações (infecções respiratórias agudas recorrentes), que levam a uma piora significativa na qualidade de vida do paciente, agravando muito o prognóstico do mesmo. Desse modo, se um paciente tem de duas a três exacerbações por ano, ele pode ter pelo menos um ano de redução de vida a cada novo evento.

Para o presidente da Associação Bahiana dos Portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), Jorge Alves, a situação na Bahia está crítica. “São pessoas idosas que chegam aos hospitais com receitas de médicos do SUS e saem sem remédios. Sem os medicamentos elas não conseguem respirar direito”, desabafa. “Nas farmácias tem remédio que pode custar até R$ 200 e os portadores mais humildes não têm condições de comprar”, completa.

De acordo com Guilhardo Fontes, só no Hospital Santa Izabel são 600 pacientes cadastrados para receber atendimento pelo SUS, todos dependentes de medicamentos como Brometo de Tiótropio, Formoterol, Fluticasona, Salmeterol, Budesonida, entre outros, que estão em falta. Para tentar minimizar o problema, o médico consegue amostras grátis com laboratórios para os pacientes com casos mais graves. “Recebo uma média de trinta ligações por dia de pacientes desesperados, me pedindo remédios”, afirma ele.

A aposentada Vilma Francisca do Nascimento, de 64 anos, que há cinco anos faz tratamento contra DPOC, é uma das pacientes que conseguiu amostras grátis com o doutor Guilhardo Fontes. “Não sei o que fazer quando acabarem os remédios que o médico me deu. Eu ligo para o setor de medicamentos do Hospital Octávio Mangabeira (onde são distribuídos os remédios) e ninguém atende. Não adianta levar receita se não tem remédio”, lamenta Vilma, que sofre com tosse e falta de ar quando não toma a medicação.

O tratamento para DPOC costuma envolver três tipos de medicações, que devem ser tomadas diariamente. “Há pacientes reclamando que não tem condições, se privando de alimentos para comprar os remédios. Alguns deles ainda reduzem a dosagem dos medicamentos para economizar, o que agrava um pouco a situação”, conta Guilhardo Fontes.

Segundo o presidente da Associação Bahiana dos Portadores de DPOC, já foram feitas denúncias ao Ministério Público Federal e Estadual sobre o caso. “No momento estamos aguardando alguma providência. O governo precisa tomar uma atitude urgente ou pessoas irão morrer”, afirma Jorge Alves.

Sem vagas

Além da falta de medicamentos, ainda há o problema da falta de vagas nos centros de referência para o tratamento em Salvador. Atualmente, nenhum dos três hospitais que fazem parte do programa está aceitando novos pacientes. “Não estamos aceitando novos pacientes porque não há medicamentos nem médicos suficientes para atender a todos”, explica o coordenador do ambulatório do Hospital das Clínicas, Antonio Carlos Lemos.