Em entrevista coletiva concedida na manhã desta segunda-feira (31), a equipe médica que trata o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o resultado de uma biópsia realizada mostrou que o tumor na laringe de Lula tem "nível de agressividade médio".
O ex-presidente começou nesta segunda no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, tratamento de quimioterapia contra câncer na laringe, diagnosticado no sábado (29).
"É o tumor mais comum dessa região, tem agressividade clássica dos tumores dessa região. É considerado um tumor intermediário, que tem um crescimento razoável se não for tratado. (...)
O tumor foi detectado em um estágio intermediário. Ele é relativamente inicial, mas não tão inicial que dê para resolver com uma pequena cirurgia, mas ele é localizado, para nós isso é muito importante", disse Paulo Hoff, oncologista da equipe que trata o ex-presidente Lula.
Ainda segundo a equipe, a decisão por fazer o tratamento sem cirurgia foi tomada por ser a mais adequada. Conforme os médicos, a cirurgia está descartada por enquanto.
"Até 20 anos atrás ele seria tratado com cirurgia. Estudos agora mostram que o resultado da cirurgia e da quimio e radio em termos de cura são exatamente iguais. Além de oferecer as mesmas possibilidades de cura [o tratamento com radio e quimioterapia] tem uma possibilidade enorme de preservar a laringe em sua integridade, com preservação da voz", explicou o cirurgião Luiz Paulo Kowalski.
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O cirurgião afirmou que Lula foi avaliado "no inicio dos sintomas" e que "a maioria dos pacientes tem um diagnóstico bem mais tardio".
O oncologista Artur Katz disse que "a cirurgia é uma possibilidade remota, porque as chances de resposta [com a quimioterapia] são muito boas". "Se ele não regredir, há a possibilidade de cirurgia, uma cirurgia que preserva a voz, não como ela é hoje. Mas, pela localização do tumor, ele tem uma chance muito grande de não precisar dessa operação."
Sequelas na voz
Devido ao posicionamento do tumor, caso a opção dos médicos para o tratamento fosse pela cirurgia, seria necessário, por margem de segurança, retirar parte das cordas vocais. "Parte das cordas vocais teria que ser removida como margem de segurança, a cirurgia seria pior do ponto de vista de sequelas", afirmou Kowalski.
De acordo com a equipe médica, porém, mesmo o tratamento com quimioterapia pode causar alterações na voz do ex-presidente, mas de uma maneira sutil. "O tratamento com quimio e radioterapia pode deixar uma pequena alteração de voz. Mas dando tudo certo, e é o que estamos trabalhando para que aconteça, seria uma alteração mínima e não haveria nenhum impacto nas atividades normais do nosso paciente", explicou o médico Paulo Hoff.
Ainda conforme os médicos, os primeiros resultados do tratamento poderão ser notados em cerca de 40 dias.
Cabelo e barba
O oncologista Paulo Hoff disse que "é um tratamento agressivo, e sim, o paciente terá os efeitos colaterais usuais, incluindo a queda de cabelo."
Roberto Kalil Filho, médico que trata de Lula desde antes de ele se tornar presidente, disse que o ex-presidente perguntou para a equipe médica sobre os efeitos colaterais do tratamento, que levam à perda de cabelo e de pelos faciais, como a barba.
Conforme Kalil, ao ser informado de que perderia cabelo e barba, Lula "reagiu normalmente" e disse "tá bom", afirmou o médico. Ainda segundo ele, a mulher de Lula, Dona Marisa, o acompanha 24 horas por dia.
"Ele está bem tranquilo, óbvio que, no primeiro momento, há uma apreensão, um choque. Chegou de excelente humor, do mesmo jeito de sempre, extremamente confiante", disse Kalil.
De acordo com os médicos, o tipo de câncer que afeta o ex-presidente Lula atinge uma média de seis a sete homens para cada 100 mil no mundo. São Paulo é uma das cidades com maior incidência no mundo - 15 a 16 para cada 100 mil homens - provavelmente devido ao tabagismo e talvez consequência da poluição atmosférica, informaram os médicos.
Paulo Hoff afirmou ainda que "certamente para esse tipo [câncer de Lula] os agentes mais associados são cigarro e quando combinado, cigarro e álcool". "Identificar o que causou em um individuo é mais difícil, mas essas são as causas mais prováveis."