De acordo com dados de pesquisas internacionais, estima-se que 17% da população brasileira, mais de 30 milhões de pessoas, sofram com o zumbido, um distúrbio das funções auditivas, que consiste em perceber sons que não são gerados por uma fonte sonora física.
Em Salvador a população pode ter acesso ao tratamento de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde - SUS, que é oferecido pelo primeiro ambulatório de zumbido da cidade, na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, que atende aproximadamente 120 pacientes por mês. O ambulatório é uma idealização da vice-presidente da Sociedade de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Bahia, Clarice Saba.
Segundo Clarice, o problema que já levou pessoas até ao suicídio, é passível de tratamento em cerca de 80% dos casos, e em ocorrências mais graves o sintoma pode ser amenizado, afirma a otorrinolaringologista.
Zumbido
O zumbido ocorre em consequência de uma perda na audição, pois há o aumento dos impulsos elétricos que a via auditiva envia ao córtex cerebral, gerando os sons. Pode ser como um som de apito, um chiado, um barulho de chuveiro ou de cigarra. Porém apenas 40% das pessoas reconhecem os sintomas e um número ainda menor procura por assistência especializada de um otorrinolaringologista.
Um dos grandes problemas que os especialistas enfrentam é a ideia de que o zumbido não tem cura. Essa desinformação leva a vários casos de desistência do tratamento. Porém, em cerca de 80% dos casos é possível curar o sintoma, e em casos mais graves o mesmo pode ser amenizado, afirma Clarice Saba.
Segundo a especialista, as causas do distúrbio são as mais variadas e podem incidir em qualquer faixa etária. Contudo, o problema é mais frequente entre os idosos e cerca de 33% sofrem com o problema. Barulho excessivo e exposição a altos níveis de pressão sonora estão entre os principais fatores de risco, explica Clarice Saba, que recebeu neste ano o conceituado prêmio internacional Jack Vernon Awards, pelos seus estudos na área de zumbido.
Embora não seja uma doença, a ausência de tratamento pode prejudicar seriamente a qualidade de vida. O sono e a concentração são as funções mais prejudicadas na maioria dos pacientes. Alterações do humor, agravamento de problemas como a hipertensão, diabetes e depressão são algumas consequências conhecidas. Em alguns casos mais graves, já foram identificados episódios de suicídio.
O combate ao zumbido envolve uma abordagem multidisciplinar coordenada pelo otorrinolaringologista com apoio de outras especialidades como psicologia, fonoaudiologia, neurologia, ortodontia etc. "O mais importante no tratamento do zumbido é identificar as causas do problema para definir o tipo de tratamento", afirma Saba. Em alguns casos é administrada medicação específica, em outros é necessária terapia para retreinamento das vias auditivas. O tratamento pode durar cerca de um ano, mas garante melhora na qualidade de vida.
PAZ
Especialista nos estudos sobre Zumbido, Clarice Saba fundou o primeiro ambulatório de zumbido em Salvador, funciona na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. A iniciativa leva o nome de PAZ - Programa Anti Zumbido, e oferece atendimento multiprofissional. Além de coordenar o PAZ, Saba é Diretora técnica do CEOB - Centro de Otorrinolaringologia da Bahia, preceptora da Residência Médica em Otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia da Bahia - Hospital Santa Izabel e fellowship do Jackson Memorial Hospital, nos USA, e do Groninghen Ziekenhuis, na Holanda. Sua contribuição na área de estudos sobre zumbido foi reconhecida recentemente com a conquista do Jack Vernon Awards, prestigiado prêmio internacional. A especialista desenvolveu um estudo multicêntrico com uma pesquisadora brasileira e duas australianas e concorreu com outros 94 trabalhos de todo o mundo