Saúde

CAMAREIRA VÍTIMA DE ERRO MÉDICO SOFRE HÁ 15 ANOS NA BAHIA

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| 17/06/2011 às 09:28

Desempregada por impossibilidade física causada pelo esquecimento de materiais cirúrgicos metálicos dentro do seu abdômen durante cirurgia a que se submeteu no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), em Salvador, Iranede do Amor Divino (41) já não sabe mais o que fazer para tentar restaurar sua saúde. Sem condições financeiras de pagar por uma cirurgia particular (inclusive, por não conseguir mais trabalhar), a ex-camareira não tem conseguido agendar uma cirurgia para retirada dos objetos de seu corpo em hospitais públicos ou privados credenciados pelo SUS, mesmo tendo uma decisão favorável da justiça neste sentido. “Procurei o Hospital Espanhol duas vezes, assim como o São Rafael e o Português e nenhum deles aceitou cuidar do meu caso”, declarou a vítima de erro médico. O sofrimento de Iraneide já se estende por mais de uma década, e seu quadro clínico está piorando, com inchaços freqüentes e dores fortes.


No âmbito judicial, além de requerer o benefício da justiça gratuita, por atender pessoa pobre, desempregada, mãe de uma filha menor e sem condições econômicas para custear a referida ação sem prejuízo do sustento e dos familiares, conforme disposição da Lei nº. 1.060/50, a advogada Sabrina Batista, que cuida do caso, pleiteia a imediata internação de sua cliente em qualquer hospital especializado para intervenção cirúrgica com as despesas totais a serem custeadas pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia. “O desejo de Iranede é que finalmente sejam retirados os diversos instrumentos cirúrgicos deixados pela equipe médica do Hospital Roberto Santos em um procedimento cirúrgico de extração vesicular, que hoje estão alojados na coluna cervical e costelas, causando-lhe dores insuportáveis e dificultando-lhe os movimentos dos membros inferiores”, conta a advogada.


Entenda melhor o caso


Há 15 anos, mais especificamente no dia 26 de julho de 1996, a camareira Iranede do Amor Divino, de posse de exames clínicos, deu entrada na emergência do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) por encontrar-se sofrendo dores abdominais com cólica. Ao ser internada, com a evolução do seu quadro clínico, sofreu uma intervenção cirúrgica para retirada de cálculos e da vesícula biliar. No dia 13 de agosto daquele ano, teve alta após ser avaliada clinicamente pelo médico do ambulatório, que analisou os exames laboratoriais e o Raio-X da paciente em conformidade com o Relatório de Alta AIH, dirigindo-se à sua casa, onde permaneceu em repouso por determinação médica.


Passado alguns meses, iniciou-se um processo de fortes dores na coluna cervical que, evoluindo gradativamente, forçou Iranede a procurar um médico clínico. Este, ao analisá-la, indicou-a a procurar um médico ortopedista pois, segundo o clínico, a paciente poderia estar com problemas no disco da coluna cervical. Iranede atendeu a indicação e o médico especialista que lhe atendeu afirmou que ela tinha problemas de disco, passando-lhe diversos medicamentos para amenizar as dores.


 Por não conseguir mais permanecer em pé por longo período em virtudes das dores na coluna cervical, Iranede foi demitida do seu emprego na função de camareira do Hotel Del Rey Empreendimentos Turísticos em outubro de 1997. Por ter ficado impossibilitada de empregar-se, ela voltou para sua cidade natal, Jacobina (Ba), pois não tinha condições de se manter em Salvador, além de não poder sequer andar dentro de sua casa para fazer as atribuições domésticas e a todo o tempo usar drogas prescritas por médicos diversos.


 Na cidade de Jacobina-Ba, em agosto de 2007, após ter uma melhora de saúde, Iranede empregou-se no Hotel das Missões, percebendo um salário de R$ 380 no cargo de cozinheira. Porém, seu sonho de ser uma mulher livre e independente financeiramente foi mais uma vez prejudicado pelo retorno das dores lombares intensas que culminaram novamente com a sua despedida do emprego em janeiro de 2008, por não mais poder permanecer de pé.


 Em fevereiro de 2008, Iranede retornou para sua ciranda médica em Salvador, já que a cada dia seu quadro clínico ficava pior. Por conta própria, resolveu fazer um Raio-X do Tórax na Clínica Santa Bárbara - Ortopedia e Traumatologia,  no Conjunto Fazenda Grande I. O resultado do exame, repetido duas vezes apavorou Iranede: havia materiais metálicos provavelmente relacionados a procedimento cirúrgico prévio.


Diante do relatório, Iranede procurou a advogada Sabrina Batista (OAB 19.573), a qual entrou com uma ação solicitando a retirada dos objetos cirúrgicos esquecidos dentro dela quando da realização de uma cirurgia no Hospital Roberto Santos, ocorrida há mais de uma década atrás. “Ingressamos com esta ação em novembro de 2008 e em decisão publicada no dia 2 de dezembro de 2008 foi determinado pelo Juiz da 8ª Vara da Fazenda Pública de Salvador que o réu deveria promover a retirada dos objetos cirúrgicos encontrados no corpo da autora, em estabelecimento particular de sua preferência, em caráter imediato, sob pena de multa diária no valor de R$ 3.000. “Após recorrer ao Tribunal de Justiça em grau recursal, a decisão foi mantida na íntegra. Entretanto, o Estado da Bahia, Réu, não cumpriu a decisão liminar; apesar da decisão válida confirmada pelo Tribunal de Justiça Baiano e a penalização diária por descumprimento de liminar. Processualmente, a Justiça se fez presente, mas precisamos tornar a decisão efetivamente eficaz.”, declara a advogada Sabrina Batista.


O juiz proferiu decisão, ainda, no sentido de que a liminar tivesse força de mandato e fosse determinado seu cumprimento imediato por qualquer instituição de saúde privada credenciada ao SUS. Iranede compareceu ao Hospital Espanhol por duas vezes, assim como ao Hospital São Rafael e ao Hospital Português, sem sucesso. Recentemente, com muitas dores, voltou a procurar estas instituições, mas continua sem previsão de solução e/ou minimização do seu problema. Os maiores sonhod de Iranede são voltar a trabalhar em Praia do Forte e dar melhores condições de estudo à scamua filha.