Saúde

DESFIBRADORAS DE SISAL SERÃO ENTREGUES A PRODUTORES BAIANOS

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| 13/09/2010 às 10:12
Criada por um inventor autodidata e testada com sucesso pelo Ministério do Trabalho, uma nova máquina vai acabar com um problema social que se arrasta há cerca de 25 anos, na região sisaleira da Bahia: a mutilação de mãos e antebraços de trabalhadores em pelo antigo e perigoso equipamento de desfibrar a folha do sisal, chamado de "Paraibana". Serão entregues, no dia 16 de setembro, com a presença do Ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, 140 unidades do novo equipamento que vai beneficiar diretamente 3.612 agricultores familiares principalmente dos municípios de Serrinha, Conceição do Coité, Valente, Santa Luz, Queimadas,  Araci, São Domingos, Itiuba, Riachão do Jacuípe, Retirolândia, entre outros pertencentes ao território do Sisal e Bacia do Jacuipe.
O modelo atual passou por melhorias com a substituição de motores. O resfriamento à água foi trocado pelo mecanismo a ar, facilitando sua utilização em região com escassez hídrica. Além disso, o equipamento se torna 51 kg mais leve. A mudança foi considerada uma evolução tecnológica do modelo inicial. A iniciativa conta com a parceria do Ministério do Desenvolvimento Agrário, através da Caixa Econômica Federal.
Inventada por José Faustino Santos, um homem simples que estudou apenas até a 7ª série do ensino fundamental, mas com uma inteligência incomum, o equipamento "Faustino V" tem como principal diferença em relação ás tradicionais paraibanas, o fato de evitar totalmente o risco de mutilação, além da nova forma de processamento da folha que evita esforços físicos por parte dos produtores.
Primeiro protótipo foi concebido há 22 anos
Natural de Nova Floresta, na Paraíba, Faustino Santos concebeu o primeiro protótipo da máquina em 1987, na oficina mecânica do pai. Só agora, com o apoio da Secti e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) conseguiu ver seu equipamento começar a ser produzido em série. "É a realização de um antigo sonho", define. No protótipo original, a máquina era acionada através de um pedal. Os trabalhadores rurais foram convidados para conhecer o equipamento e apresentar sugestões para eventuais aprimoramentos. No teste de campo, a produção de fibra da "Faustino" foi quase 20% superior à da Paraibana.
Antiga máquina já mutilou cerca de 2 mil trabalhadores
A luta dos trabalhadores do sisal por medidas protetoras que evitem os constantes acidentes, resultando quase sempre em mutilação, inclusive crianças, data de 1980. Estima-se que mais de 2.000 trabalhadores perderam mãos ou parte dos braços no processo de desfibramento do sisal. Eliminar os riscos de mutilação é uma das exigências para a obtenção do ISO 9001:2008, certificado internacional do sistema de gestão de qualidade. Com esta qualificação, os produtores poderão ter acesso a mais investimentos de grandes empresas que exigem certificação. A empresa automobilística Ford, por exemplo, já sinalizou com a intenção de fechar convênio com os produtores para comprar a fibra de sisal em substituição ao plástico e à fibra de vidro.
Sisal tem peso na economia baiana
A cultura do sisal gera a renda que possibilita a sobrevivência de aproximadamente 700 mil pessoas em mais de 260 mil hectares da cultura, distribuídos em mais de 40 municípios do Semiárido baiano, englobando os territórios do Sisal, Chapada da Diamantina, Piemonte da Diamantina, Semiárido Nordeste II, Sertão do São Francisco, Piemonte  do Paraguaçu, Bacia do Jacuípe, Irecê, Vale do Jiquiriçá e Piemonte Norte do Itapicuru. Sendo que em mais da metade destes o sisal é a fonte de renda mais importante.
O Brasil é o maior exportador de sisal do mundo, com uma produção anual de 119 mil toneladas, o que corresponde a 56% da safra mundial. É também o maior produtor mundial de sisal, com uma fatia de 40% do mercado. A Bahia é o principal produtor de sisal do território brasileiro, contribuindo com 94% da produção nacional.
No estado da Bahia, o sisal representa o segundo produto na pauta de exportação agrícola, tendo uma grande importância social por envolver aproximadamente 150 mil famílias que encontram no sisal a única fonte de renda. Os grupos reunidos em Arranjos Produtivos Locais (APL) são apoiados pelo Governo da Bahia, através do programa Progredir, coordenado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação.