A obesidade atinge hoje mais de 38 milhões de brasileiros com mais de 20 anos. Diante deste quadro, a cirurgia bariátrica, conhecida popularmente como redução de estômago, tornou-se uma solução para melhorar a qualidade de vida de muita gente. Mas nós, nutricionistas, só devemos indicar ou concordar com a indicação do procedimento em último caso. A
penas se o Índice de Massa Corporal (IMC) for a partir de 40 ou 35, neste último caso apenas se acompanhado de agravantes como hipertensão, diabetes, apneia do sono ou outras doenças. E, ainda, se o paciente não tiver alcançado resultados positivos com dietas orientadas ou tratamentos à base de medicamentos, explica a nutricionista clínica e professora do curso de nutrição da Universidade Salvador (Unifacs), Márcia Magalhães.
A cirurgia bariátrica implica em diversas formas de acompanhamento: médico, psicológico, fisioterapêutico e nutricional. A adequação da alimentação antes e depois do procedimento é o ponto principal para que o paciente reaja bem às mudanças provocadas pela redução do seu estômago e, por isso, o acompanhamento direto de um nutricionista é essencial.
Além da avaliação nutricional completa, que inclui definição de IMC, circunferências, composição corporal e densitometria óssea (quando possível), o nutricionista sugere uma dieta antes da cirurgia, além de outras ações para minimizar riscos. Outros objetivos da atuação do nutricionista são: perda de peso do paciente (casos mais graves precisam perder de 10 a 20 quilos antes mesmo da cirurgia), minimização das doenças associadas, prevenção e controle das deficiências nutricionais.
Para que o paciente obtenha o melhor resultado, Márcia Magalhães sugere a reformulação de hábitos como fumo, mastigação e tempo de refeição. Além disso, orienta o consumo de suplementos alimentares, em alguns casos iniciado antes mesmo da operação. "Juntamente com o psicólogo, orientamos o paciente e seus familiares sobre a alimentação depois do procedimento. Damos até receitas completas para eles. O apoio da família é muito importante", destaca.
Fases da dieta
O período que sucede à cirurgia é um momento de adequação de nutrientes. Nele é preciso minimizar possível refluxo, promover saciedade, garantir o peso saudável e minimizar efeitos da Síndrome de Dumping (passagem rápida do conteúdo gástrico para o intestino marcada por sintomas como náuseas, fraqueza, suor frio intenso, desmaios e diarréia após a alimentação.
Os nutricionistas sabem o que é Síndrome de Dumping. Desnecessário essa explicação!). O paciente deve obedecer às orientações de cada uma das fases graduais da dieta, durante as quais a ingestão de uma suplementação de vitaminas, proteínas e sais minerais é mantida.
No primeiro dia, o paciente passa pela dieta zero, sendo apenas hidratado por meio de soro. O segundo, ainda no hospital, é o dia da dieta líquida clara, isenta de açúcar, com líquidos (porções de 30 a 50 mililitros de água, chá ou água de coco) à temperatura ambiente e que gerem o mínimo de resíduos gastrintestinais.
Após 48 horas, já em casa, o paciente continua com a dieta líquida, mas já pode ingerir alimentos mais pastosos, como iogurte (pedaços de frutas devem ser peneirados), sucos, bebidas a base de soja e sopas.
A partir da terceira ou quarta semana, tem início a fase pastosa, em que é liberado o consumo de pequenas quantidades de alimentos como purês, vitaminas, ovos mexidos e triturados e, para alguns pacientes, até um pedaço de queijo macio.
Na quinta semana inicia-se a chamada fase branda, quando se inicia a mastigação de alimentos mais leves. A fase regular, em que é possível comer quase tudo (com bom senso), começa por volta de 60 dias após a cirurgia bariátrica. "Até os seis meses, porém, recomendo evitar o consumo de açúcar, álcool e bebidas carbonadas", declara Márcia Magalhães.
A nutricionista garante que poucos são os pacientes que reganham peso depois de um tempo, "mas dificilmente isso acontece com todos os quilos perdidos. Há casos de pacientes que pesavam 180 quilos, perderam 80 e continuam obesos, mas são casos que não constituem mais morbidez", declara. E completa: "Se o paciente entende a necessidade da reeducação alimentar, ele não engorda de novo. Daí a importância do acompanhamento nutricional".
Orientação nutricional
A dona de casa Mariza Azevedo de Carvalho, 53, passou pela cirurgia há quatro anos e meio e afirma que sem o auxilio de sua nutricionista não conseguiria manter uma boa dieta. "Havia procedimentos que eu não imaginava serem tão importantes para meu organismo. Não sabia o que era zinco, por exemplo, e se eu não tivesse uma nutricionista me orientando sobre as vitaminas que eu preciso ingerir talvez eu não fosse tão saudável hoje, declara. Apesar de estar está 45 quilos mais magra, saudável e com a autoestima alta, Mariza conta que toda vez que come açúcar tem taquicardia, tontura e sua muito. Mas, de modo geral, me alimento muito bem, levando em consideração que meu estomago é 70% menor", conclui.