A Câmara Municipal realizou na tarde de quarta-feira, 22, no Centro Cultural, uma audiência pública para debater o Dia Internacional de Lúpus, por iniciativa do vereador Odiosvaldo Vigas (PDT), ouvidor geral do Poder Legislativo. Odiosvaldo destacou também o quinto aniversário de fundação da associação Loba (Lúpicos Organizados da Bahia).
Palestrante do evento, o médico Mittermayer Santiago, professor adjunto da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública; chefe do Serviço de Reumatologia do Hospital Santa Izabel, e editor da Revista Brasileira de Reumatologia, criticou o governo estadual da Bahia por optar em gastar muito mais em medicamentos do que no atendimento ao paciente.
Além de Mittermayer e Odiosvaldo fizeram parte da mesa os farmacêuticos Anderson Lima, da Assistência Farmacêutica do Município, e Lindembergue Assunção, diretor da Assistência Farmacêutica da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia; e Jacira de Souza Conceição, presidente da Loba. Odiosvaldo falou também da participação de do Centro de Estudos Pensamento e Ação (Cepa), dirigido por Germano Machado.
O médico Mittermayer citou o episódio da brasileira na Suiça, este ano, e o seriado House, no canal fechado de TV, Universal, como situações em que a doença chegou a ser divulgada. "Infelizmente, a despeito disso e dos esforços dos portadores de lúpus, que se organizaram na Bahia e criaram o grupo Loba, a maioria da população não tem o menor conhecimento da sua existência", afirmou.
Segundo ele, o não conhecimento da população sobre lúpus e outros "reumatismos" como artrite reumatóide, esclerodermia e espondilite anquilosante tende a levar ao retardo do diagnóstico, perdendo-se muitas vezes a oportunidade de uma intervenção precoce para se evitar o aparecimento de complicações graves e às vezes irreversíveis.
"Não existe reumatismo na Bahia"
Ironicamente, Mittermayer Santiago afirma que não existe reumatismo na Bahia. "Quando digo isso me refiro à falta de um programa do governo estadual no sentido de oferecer um local onde tais pacientes possam ser atendidos ou internados ou mesmo um pronto-socorro de referência para onde eles sejam encaminhados em caso de emergência.
Do mesmo modo, não existe qualquer ação do governo no sentido de divulgar informações sobre tais doenças. A impressão que o governo dá é que é melhor não divulgar para não ser obrigado a cumprir o seu dever de oferecer condições básicas de assistência a esses pacientes", afirma o médico.
Ele informou na palestra que, pessoalmente, apresentou um projeto de assistência a pacientes com lúpus ao secretário estadual da Saúde, Jorge Solla, e conseguiu realizar algumas reuniões com assessores do secretário. "Mas logo concluí que não havia o menor interesse político do governo para resolver tal questão e eu me vi obrigado a não insistir", enfatiza.
No projeto, Mittermayer idealizou a criação de um ambulatório num hospital estadual ou outra unidade que dispusesse de pronto-socorro; planejou a criação de uma enfermaria para internação de pacientes. A assistência, segundo Mittermayer, seria dada pelo grupo de reumatologistas que ele coordena no Hospital Santa Izabel. Um curso de reumatologia também fazia parte do projeto.
Muito dinheiro gasto
"O fato triste é que, embora não exista um local de referência do Estado para assistência aos pacientes ‘reumáticos', muito dinheiro tem sido gasto em unidades de diálise para pacientes com lúpus, que muitas vezes tiveram seu diagnóstico retardado ou foram submetidos a tratamento inadequado por não especialistas e terminaram desenvolvendo insuficiência renal e hoje são dependentes de hemodiálise, aguardando, não se sabe até quando, a oportunidade de fazer um transplante renal", denuncia o médico.
Ele acrescenta que, pior ainda, em se tratando de assistência a pacientes reumáticos na Bahia é que milhões de reais tem sido empregados na compra de "medicações de alto custo", como infliximabe, adalimumabe e etanercepte, usadas para o tratamento de doenças como artrite reumatóide refratária ao tratamento convencional e com custo mensal por volta de 5 mil reais por paciente. "A existência de um centro estadual de atendimento ambulatorial regular a pacientes ‘reumáticos', com certeza, permitiria que o tratamento precoce dessas doenças fosse introduzido e a necessidade de uso dessas medicações ficaria reduzida ao mínimo possível", explica Mittermayer.
Ele diz que atualmente no Hospital Santa Izabel cerca de 2 mil pacientes com as diversas formas de reumatismo são acompanhados pelo grupo que ele coordena.
Lindembergue Assunção afirmou que a lista dos medicamentos é do governo federal e que o estadual já avançou em muitas demandas reivindicadas pelas associações civis.