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Depois de 60 dias de coma na UTI do São Rafael, Green recobrou a consciência e passou dois meses em apartamento do hospital sem entender o que acontacera com ele. Estava com um buraco no alto da cabeça, onde os médicos haviam instalado um aparelho para medir a pressão do cérebro. A abertura do buraco cicatrizara, mas tinha um aparelho de metal fixador de três fratura da perna direita e as duas mãos engessadas.
Mesmo assim a equipe médica que o atendera na noite do acidente na Estrada do Côco achara melhor que a recuperação continuasse em sua residência, no meio da família. Estava debilitado, porque além do politraumatismo havia contraído na UTI duas bactérias muito perigosas: uma na corrente sanguínea e outra no pulmão que fora perfurado por três costelas fraturadas no acidente. Recebera doses cavalares de antibióticos. Saiu do hospital de cadeira de rodas. Para subir as escadas foi carregado.
Uma cama ortopédica alugada foi instalada para acolhê-lo em um dos quartos da casa. Era carregado da cama para a cadeira de rodas, empurrado até a sala, de onde acompanhou pela TV o Carnaval de 2007. As necessidades fisiológicas eram feitas na própria cama e recolhidas em um aparador hospitalar. A família contratou uma empresa de enfermagem particular para ministrar no horário certo os medicamentos recomendados pelos médicos, recolher os dejetos e fazer plantão à noite. Enfim, assisti-lo 24 horas.
Depois do Carnaval continuou a rotina de recuperação com medicamentos e alimentos especiais. Quando queria assistir TV era carregado até a sala e deitado no sofá. Em maio de 2007 foi admitido no Sara Kubitscheck de Salvador. Entrou na cadeira de rodas e de lá saiu andando. Com dificuldades, mas andando. Reaprendeu tudo.
O tratamento de reabilitação começou pelos movimentos das mãos, essencial para sua profissão de jornalista, e foram feitos esforços para ele reaprender até a andar. Em setembro de 2007 foi submetido a nova cirurgia para raspagem de uma formação óssea heterodoxa que se desenvolveu em sua bacia e o impedia de andar com naturalidade.
O fato é que nos dois meses de UTI e na longa recuperação não havia consumo do cálcio contido em corrente sanguínea. E a substância era ser consumida pelo organismo. Como não havia consumo devido à inatividade ossos "nasceram" onde não deviam nascer. A cirurgia de raspagem aconteceu no próprio Sara. Foi feita uma incisão na nádega direita seguida do trabalho cirúrgico. Até pensou em doar a raspagem para alguém que tivesse necessidade de medula óssea, mas foi desestimulado pelos médicos. O tecido ósseo não serviria.
Na cirurgia o interessante é que a anestesia foi ministrada, ele "apagou" e quando "acordou" perguntou pela operação e lhe responderam que já havia sido feita. A internação e a recuperação pós-cirúrgica deveriam durar 15 dias. Com oito dias ele já estava em casa, tal era a resistência do seu organismo com a longa convalescência do acidente.
Uma noite estava na enfermaria do Sara, havia assistido TV com os demais pacientes internados e cansou e logo adormeceu. Acordou sobressaltado, as luzes da enfermaria estavam desligadas. Não entendeu onde estava, mas tinha a perna direita amarrada na cama. Lutou desesperadamente para libertar-se. Não conseguiu. Estava entrando em desespero quando uma pessoa passou pelo lado da cama. Pediu para que lhe soltassem sua perna. A pessoa respondeu que não podia, só com ordem médica.
Olhou para o lado, viu uma pessoa deitada numa cama e continuou sem entender nada. Olhou em frente e viu outra pessoa deitada. Só que essa gemia. Foi, então, que se deu o estalo: estava no hospital, o paciente que gemia era um senhor que era acompanhado diariamente pela esposa. Olhou para o outro lado e viu a enfermeira de plantão detrás do balcão: era a pessoa que havia passado ao seu lado e que ele pediu aos gritos que soltasse sua perna. Aí entendeu tudo, que estava no Sara e chamou a enfermeira. Pediu desculpas e ela respondeu que aquele sobressalto, o despertar atônito era normal em pacientes internados por longos períodos. Que esse era um tema estudado nas escolas de enfermagem.
Green nsistiu nas desculpas e só aí entendeu porque, no período em que esteve no São Rafael, brigara com médicos, enfermeiras, filhos e amigos que o acompanhavam. E depois não entendia o porquê da briga. Decidiu pedir desculpas também aos filhos Bruno, Silvana, Daniel, Cris e Juninho, com os quais havia se desentendido. Sempre nessa situação de depois não entender nada. Após a alta hospitalar começou a fisioterapia e a hidroterapia pós-cirúrgicos no Sara.
Green ficou 99% restabelecido, tal como era antes do acidente na Estrada do Coco. Acha uma questão de justiça dizer que o Sara é uma prova inquestionável de que a saúde pública é viável no Brasil, que aqui se pode fazer uma medicina pública de primeiro mundo, com uma equipe de profissionais é de altíssimo nível. Agradece a seus amigos e minhas amigas do Sara Kubitscheck de Salvador. Está firme, de pé. Graças a Deus e a ajuda dos trabalhadores de saúde do Sara.