O sorriso é o de sempre. A careca é novidade. A perda dos cabelos é apenas um dos desagradáveis efeitos do tratamento contra o câncer. E o carnaval, vai dar? É a pergunta de todos. "Isso nem passa pela minha cabeça. Eu vou estar, com certeza. A única dúvida são os 80 minutos", disse Neguinho da Beija-Flor, em entrevista ao Fantástico. 

Mas ele vai aguentar uma hora e vinte minutos de desfile cantando sem parar?

Neguinho há muito tempo deixou de ser da Beija-Flor. Ele é do Brasil. Um breve instante na passarela do samba e chega gente de tudo quanto é lugar do país para abraçá-lo, tirar fotos e desejar muita saúde. Por acaso o irmão de Neguinho passa na hora. É um encontro emocionado que deixa os dois, que são cantores, com um nó na garganta. "Te amo muito, muito, muito", diz seu irmão na ocasião.

Mas alegria e quimioterapia não combinam, e vivendo um momento tão delicado, certas perguntas às vezes são como um golpe baixo.

Fantástico: Naquele momento (quando soube da doença) você baqueou, você chegou a pensar que não ia voltar a cantar mais?

LÁGRIMA

Neguinho da Beija-Flor: Eu passava aqui depois do tratamento, eu olhava e pensava: será que eu não vou ter mais aqueles momentos, será... (ele se vira e fica em silêncio).

Pela primeira vez Neguinho ficou sem voz na Sapucaí. A cara entristece, a lágrima desce.

"Quando eu tive a noticia do câncer foi um choque, mas o choque maior quando eu fui me tocando que as coisas que eu gosto que eu de fazer que, de repente, não iria fazer mais", disse Neguinho.

Operado em julho, em setembro ele voltava a Beija-Flor pela primeira vez. Enfraquecido pela doença, fortalecido pelo carinho de tanta gente. Neguinho começava a corrida contra o tempo, pela vida em primeiro lugar, pelo carnaval, que é a vida dele, em segundo.

Esperançoso, ele diz: "A voz tá no lugar. O problema é o cansaço. Aí só no suquinho, muita vitamina, que você vai no domingo de carnaval como eu vou estar rasgando isso aqui", disse.