Saúde

REITOR DIZ NO iBAHIA QUE HOUVE BOICOTE DOS ALUNOS A PROVA DO ENADE

Confira declarações do reitor
| 07/05/2008 às 20:02
Uma grande polêmica dividiu opiniões no estado e no resto do país depois que o ex-coordenador do colegiado do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Antônio Natalino Dantas, no dia 30 de abril de 2008,  colocou à tona questões relativas ao sistema de cotas no vestibular da UFBA e foi acusado de racismo ao justificar o baixo rendimento do curso no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes).

A nota foi 2 num universo de 1 a 5 e, segundo ele, a reprovação foi causada por um baixo quoeficiente de inteligência dos baianos e porque alunos cotistas teriam contaminado o resultado e reduzido a nota. O reitor da UFBA, Naomar Ameida Filho, falou ao iBahia.com sobre a situação da Faculdade de Medicina respondendo a perguntas da Redação e dos internautas.

iBahia.com - O que influenciou o baixo desempenho dos estudantes da UFBA no Enade?
Na minha opinião foi um boicote, uma sabotagem dos alunos, em especial aqueles que fizeram a prova na saída do curso. Eu acho que esse boicote é muito desleal com a instituição, porque trata-se de uma instituição pública. Eles não pagaram nada para se formarem como profissionais de saúde, vão ter carreiras profissionais de relativo sucesso e ganho e podiam muito bem retribuir para a instituição - que é sustentada com o dinheiro da sociedade, com impostos, é uma instituição pública - eles podiam demonstrar o seu apreço pela instituição contribuindo para que ela fosse bem avaliada.

Alguns alunos podem ter entregue a prova zerada, em branco, e isso baixou a média. As conseqüências para a Faculdade de Medicina já estão patentes, ela está numa crise muito séria, e a própria universidade sofre com isso. E a Bahia sofre com isso também, até porque, na polêmica, foi a inteligência dos baianos que foi posta em questão.

iBahia.com - Então o senhor não acredita que haja deficiências no curso e que tenham contribuído para o baixo desempenho?
Claro que há deficiências. Entre um curso de média 2 e um curso de média 5 tem toda uma escala de progressão. O boicote fez a média cair, mas eu acredito que o curso não é perfeito, tem certamente muitas deficiências e dificuldades, mas elas não são distintas daquelas dos cursos que foram aprovados no Enade.

O fato do boicote contribuiu para que o curso fosse reprovado, mas eu não estou defendendo que não existam problemas. Eu acredito que os problemas existem como em muitos cursos da nossa universidade, onde há uma série de dificuldades estruturais, outras de pessoal, mas algumas dessas dificuldades não estão presentes na Faculdade de Medicina. É um equívoco que está sendo veiculado, de que faltam professores. Não faltam: a Faculdade de Medicina tem 308 docentes para atender 1100 alunos; isso dá 3,5 alunos por professor. Isso é um luxo: nem a Universidade de Harvard tem isso! Todos os 308 professores ativos, destes tem um conjunto de substitutos que estão justamente no lugar daqueles inativos, que se aposentaram.

A nossa instituição tem tido um cuidado, a Reitoria, tem tido o cuidado de repor imediatamente os docentes para que não haja dissolução de continuidade. Mas, ainda no caso da Medicina, a Escola recebeu um tratamento especial que não está sendo divulgado: nós destinamos 28 professores substitutos além da cota a que a Faculdade tinha direito para atender à reforma curricular, que é muito interessante. Eu, pessoalmente, estou apoiando como posso esta reforma, porque acho que ela pode mudar o paradigma de ensino, valorizando mais a assistência básica em saúde e menos essa assistência hospitalar especializada.

iBahia.com - Já havia reportes anteriores, em outros anos, de que havia deficiências na Faculdade de Medicina, havia uma lista de problemas no relatório passado, por exemplo. O que já foi feito e o que será feito em relação a esses problemas?
Eu tenho aqui a lista completa. O processo deu entrada em 22 de setembro de 2004, pedindo o cancelamento do vestibular. São 28 itens nessa lista. Ela foi avaliada pela Câmara de Graduação, que é quem define a questão de vestibular. A Câmara não considerou justificadas as alegações. Tem coisas aqui, por exemplo: a situação deficitária do HUPES [Hospital Universitário Professor Edgard] Santos - foi solucionado. O Hospital Universitário saiu de 105 leitos e hoje atende a 290 leitos. Outra afirmação errada é a de que faltam leitos: nós temos agora na UFBA 609 leitos, em três hospitais-escola. O conjunto de alegações não justifica a redução de vagas.

iBahia.com - E em relação a problemas como o seguinte: alunos que pegam disciplina de cirurgia, vão a uma sala de cirurgia onde há dez estudantes da turma. Muitos não conseguem ver o procedimento que está sendo feito.
Sabe quantos professores de cirurgia existem na Faculdade de Medicina hoje? São 60 professores de cirurgia. Não é possível isso acontecer se você tem uma turma de cirurgia, que terá no máximo 80 alunos, com 60 professores disponíveis. É uma média de 1,2 aluno por professor. A não ser que seja um problema de gestão. Você tem que organizar as turmas para que elas tenham um número adequado de alunos. São problemas da gestão acadêmica do curso, que fazem com que a Faculdade de Medicina não esteja usando do modo mais eficiente possível o corpo docente que ela tem.

iBahia.com - Não esta na hora da UFBA participar mais das questões ligadas à educação na Bahia, desde o Ensino Superior ao infantil, e, quem sabe, coordenar um PAC da educação junto ao Governo do Estado?
Isso está sendo feito. A pergunta é muito boa, porque a segunda diretriz do Reuni é a integração da educação superior com a educação básica. A nossa universidade está abrindo, neste ano, 600 vagas de licenciaturas especiais para reforçar o quadro de professores da Rede Estadual. E, além disso, das 2200 vagas que serão noturnas a serem abertas, 80% são em licenciaturas. A nossa instituição vai contribuir com o Reuni com o aumento na formação e qualificação dos professores. Essa é uma contribuição indireta.

Mas, além disso, nós estamos participando do Projeto Escola Nova, com o Instituto Anísio Teixeira, que vai organizar uma rede de escolas do Ensino Médio que vão ter especialidades. Algumas escolas serão mais ensino de ciências, outras mais para ensino de artes e outras mais formação esportiva. E a universidade vai participar diretamente disso na supervisão.

E ainda tem uma terceira contribuição, que não é pequena, que é as ACC's [Atividade Curricular em Comunidade] da universidade. No novo desenho do bacharelado interdisciplinar, as ACC's se tornarão obrigatórias e uma parte forte delas será justamente a ação de alfabetização nas comunidades e programas de integração de alunos. Aqui, a gente tem o Projeto Nenhum a Menos, em que os alunos de Pedagogia vão buscar na casa aqueles estudantes que estão faltando à escola.