Saúde

EQUIPE MÉDICA DO HOSPITAL SÃO RAFAEL RECONSTRÓI PÊNIS EM CIRURGIA

Informações da SESAB
| 19/11/2007 às 18:37
  O olhar de J.N., 11 anos, é tímido e ele ainda parece surpreso com o "presente" que ganhou no último dia 24 de outubro. O garoto, que havia perdido o pênis e o escroto por uma mordida de cão quando ainda tinha 5 meses de vida, teve o órgão reconstruído pela equipe médica do Hospital São Rafael.

 

A Bahia foi o segundo Estado do País a aplicar uma técnica de reconstrução genital na infância. A primeira cirurgia foi realizada em novembro de 2005 em um garoto de dois anos e meio, na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

 

Foi o primeiro caso da América Latina e o terceiro do mundo.

 

Apenas outras sete crianças foram submetidas ao procedimento cirúrgico em todo o mundo desde então.

 

A técnica, desenvolvida pelo italiano Roberto Castro, beneficia crianças que, devido a problemas congênitos, nasceram sem o canal da uretra e sem o pênis ou que tiveram o órgão amputado. Além de reconstruir o pênis, a cirurgia também recupera a função urinária.

 

Desde o acidente com o cão, o garoto J.N. urinava por um orifício. A cirurgia durou cerca de quatro horas e foi realizada pelo especialista italiano com a participação do responsável pelo setor de urologia pediátrica do Hospital São Rafael, o médico Ubirajara Barroso Jr. O garoto, que mora no município de Itapicuru, a 215 quilômetros da capital, atualmente vem a Salvador apenas para revisão.

 

"A técnica de nelofaloplastia (reconstrução do pênis) é rara, e estamos felizes em poder disponibilizála no hospital a partir de agora. Tenho certeza que ajudará muitas pessoas que sofrem de algum tipo de inadequação sexual", diz Barroso, acrescentando que o problema atinge um em cada dois mil nascidos vivos no mundo.

 

De acordo com o especialista, a cirurgia é indicada nos casos de amputação traumática, afalia (meninos que nascem sem o pênis) e em algumas vítimas de ambigüidade genital, mas que têm o sexo genético masculino.

 

O procedimento foi realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e Ubirajara Barroso diz não saber o custo da cirurgia pela rede particular. Para a mãe de J.N., Josefa Maria de Jesus Neri, 38 anos, a sensação é de alegria e alívio.

 

"Eu achava que era uma coisa que não tinha mais jeito e ficava triste de imaginar que meu filho teria que passar o resto da vida assim.

 

Estou feliz, muito feliz porque nunca que ia ter dinheiro para pagar essa cirurgia para ele", diz Josefa, que trabalha como doméstica e cria sozinha nove filhos.

 

A TÉCNICA - Segundo Ubirajara Barroso, a cirurgia é dividida em duas etapas. "Inicialmente, o órgão reprodutor masculino é criado a partir de retalhos (de pele e gordura), de área próxima ao genital.

 

Os retalhos são mobilizados e reconfigurados em um formato de um pênis, e a uretra é feita com o tecido da face interna da boca", afirma o médico. Entretanto, a operação que faz a ligação com a uretra só é realizada seis meses após a primeira cirurgia.

 

"O que antes era realizado apenas na fase adulta já pode beneficiar crianças. Agora, elas não precisarão mais esperar até a adolescência, fase na qual se inicia a vida sexual, para que a medicina solucione seu problema", destaca, acrescentando que só no final da adolescência uma prótese que propicia a ereção era implantada.

 

SERVIÇO - As crianças que apresentam algum tipo de inadequação sexual podem ser encaminhadas ao Ambulatório de Urologia Pediátrica do Hospital Central Roberto Santos. O atendimento é feito todas as sextas-feiras, a partir das 13 horas.

 

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