Salvador

ARQUIDIOCESE DE SALVADOR POSTULARÁ SANTIDADE DE VITÓRIA DA ENCARNAÇÃO

Freira nasceu em Salvador e viveu no Convento do Desterro
Ascom AS , Salvador | 23/09/2024 às 19:26
Cardeal Sérgio da Rocha no Convento do Desterro
Foto: Sara Gomes
   A Igreja Católica Apostólica Romana poderá ter mais uma santa nascida em Salvador. Trata-se da serva de Deus Vitória da Encarnação. A fase arquidiocesana do processo, que foi aberto em novembro de 2019 e retomado em abril deste ano, será concluída e apresentada na próxima quarta-feira (25), no Convento do Desterro, local onde viveu e morreu a religiosa com fama de santidade.

A sessão solene será presidida pelo Cardeal Dom Sergio da Rocha e pelo postulador da Causa, frei Jociel Gomes, além de membros da Comissão Histórica e de fiéis que acompanham os relatos de graças e milagres alcançados por intercessão da serva de Deus.

Ao ser concluída esta fase, o Cardeal Dom Sergio remeterá para o Dicastério da Causa dos Santos, na Santa Sé, toda a documentação levantada a respeito da Madre Vitória da Encarnação, além dos testemunhos e dos relatos coletados e analisados pelo Tribunal constituído justamente com esta finalidade.

Este tribunal é formado pelo postulador da causa da serva de Deus, frei Jociel Gomes; pelo delegado episcopal, cônego Alberto Montealegre; pelo promotor de Justiça, padre Laudimar Oliveira da Silva; pelo notário e pela notária adjunta, Dom Sebastião Rolim e Irmã Violeta, respectivamente. Após a sessão solene que marcará a Arquidiocese de São Salvador da Bahia, a primeira do Brasil, o Cardeal Dom Sergio da Rocha presidirá a missa.

A serva de Deus

Vitória da Encarnação nasceu em Salvador, em 6 de março de 1661, sendo batizada no mesmo ano na antiga Sé da Bahia. Filha de Bartolomeu Nabo Correia e Luísa Bixarxe, ela teve um irmão e três irmãs. Em 1677, quando foi fundado o Convento Santa Clara do Desterro, sendo o seu pai muito devoto, quis que sua filha entrasse para a vida religiosa. Porém, a menina, então com 16 anos, havia se tornado avessa à religião, chegando a dizer ao seu pai que preferia que lhe cortassem a cabeça do que ser levada para o convento.

Passaram-se alguns anos e Vitória começou a ter frequentes sonhos com a Mãe de Deus e seu Divino Filho. Neles, a Virgem lhe apresentava o Menino e chamava-a para a vida consagrada. Em outros momentos via o Menino Jesus a colher flores no caminho para o convento e a chamava para lá. Tais sonhos se repetiram inúmeras vezes, porém Vitória não quis seguir o que a Virgem e o Menino pediam.

Numa terrível noite de 1686, quando Vitória estava com 25 anos, teve um sonho horrendo, no qual se via nos porões sujos e cheios de lodo de uma grande embarcação que navegava em alto mar. Viu neste sonho que estava acompanhada de pessoas impiedosas, que caminhavam para a perdição, enquanto na parte de cima da embarcação havia muitos religiosos contentes, pois caminhavam para a salvação. Seu Anjo da Guarda então lhe explicava que os navegantes da parte superior eram os que faziam a vontade de Deus e estavam salvos, enquanto os que estavam nos porões, assim como ela, eram os que caminhavam para a perdição.

Ao acordar deste sonho aterrador, pensou em sua vida e tomou a firme decisão de consagrar-se totalmente a Deus e passar a vida fazendo Sua santa vontade. Naquele mesmo ano, em 29 de setembro, dia de São Miguel Arcanjo, Vitória foi acolhida no noviciado das clarissas do Convento do Desterro da Bahia e, juntamente com ela, foi acolhida também a sua irmã, Maria da Conceição. Recebeu neste dia o nome religioso de Vitória da Encarnação. Conforme seu desejo, fez profissão solene em 21 de outubro de 1687. Mostrou-se grande em suas virtudes.

Desapegada de tudo o que é mundano, quis fazer-se a menor de todas e aquela que servia a todas. Dotada de imensa caridade para com os mais desvalidos, desejou viver como uma escrava a adotou para si o estilo de vida das servas que viviam no mosteiro. Fazia suas refeições sentada no chão, como era costume entre os escravos da época; corria para fazer os trabalhos que ninguém queria, e, por querer ser a menor de todas, foi diversas vezes ridicularizada e agredida pelas próprias escravas a quem ela tanto quis se fazer igual.