Cláudia Mattos teve que driblar o racismo e o preconceito para se tornar educadora e vencer na profissão
Secom Salvador , Salvador |
15/10/2019 às 19:11
Professora na rede municipal, Cláudia Mattos, de 39 anos, teve que driblar o racismo e o preconceito para se tornar educadora e vencer na profissão, servindo de incentivo para quem sofre ou já passou pela mesma situação. Docente da Escola Municipal Consul Schindler, no bairro de São Caetano, e prestes a completar duas décadas de carreira – todas elas na rede municipal, ela celebra com reflexão e alegria o dia dedicado aos professores, celebrado nesta terça-feira (15).
“Nunca quis ser professora, mas minha mãe sempre me dizia que a profissão de professor era a mais nobre e verdadeira. Hoje agradeço de todo meu coração a ela, por me aconselhar e poder chegar até onde cheguei”, lembra. Hoje na posição de educadora, ela conta que se sente mais forte para fortalecer os alunos na luta diária contra todos os tipos de discriminação. “Faço da minha sala de aula a extensão do meu lar e tenho orgulho em dizer que sou professora”, pontua.
Para romper as barreiras do preconceito sofridos na infância, ela criou o projeto “Rei e Rainha Azeviche” que pretende conscientizar e valorizar a cultura afro-brasileira. O objetivo é enfrentar e minimizar o preconceito racial entre as crianças, fazendo com que elas se reconheçam como descendentes de povos que foram escravizados e esquecidos historicamente. “Eu sentia que precisava mudar isso e impedir que os meus alunos não passassem pelas mesmas angústias que passei”, conta.
O projeto é realizado há oito anos e destinado a crianças de 5 a 14 anos. Além de trabalhar e mostrar a história do povo negro entre os meses de fevereiro a novembro, datas importantes que não constam nos livros didáticos também são comemoradas. Estética afro com desfiles de turbantes, dança afro e concurso de rei e rainha são algumas das atividades desenvolvidas pela iniciativa.
A professora afirma ainda que, ações educativas como essas, ajudam na transformação e na construção do conhecimento. "O que eu quero mesmo é que minha turminha entenda que eles podem ser o que quiserem. Que são lindos com o cabelo crespo e com a pele negra que têm", conta emocionada.
Destaque – A ideia chamou a atenção de vários artistas como a cantora Daniela Mercury, que convidou as crianças do projeto para participar da gravação do clipe “Pantera Negra Deusa”, lançado em 2018. Também entraram na lista de admiradoras personalidades como a atriz Edvana Carvalho; a designer de moda afro e empresária Madalena Negrif; e a escritora brasiliense Gisele Gama, que veio até Salvador para conhecer as crianças e, em breve, lançará um livro chamado “A Rainha Azeviche”, inspirado no projeto.
Sobre a relação com os alunos, ela lembra que o professor é mais que um educador: é um amigo que os estudantes podem contar a qualquer hora. “Nós professores temos o papel de potencializar o aprendizado dos alunos, trocar conhecimentos e ajudar nas descobertas, como mediador”, finaliza Cláudia.