Salvador

Horta Educativa da OSID recebe prêmio internacional Rainha Letizia

A líder do CER IV, Rosinei Sousa, esteve no evento representando a família OSID
Adriana Patrocinio , Salvador | 13/07/2016 às 12:19
Horta Educativa da OSID
Foto: Divulgação

As Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) conquistaram o Prêmio Rainha Letizia (Premio Reina Letizia) 2015, um dos mais importantes do mundo na área social, concedido pelo Ministério da Saúde, Serviços Sociais e Igualdade do Governo da Espanha a iniciativas na área de reabilitação de deficiências e inclusão social. O projeto osidiano vencedor foi a Horta Educativa, iniciativa que visa promover a inclusão social e cidadania de jovens e adultos com deficiência, a partir de atividades ligadas ao cultivo agrícola, além de trabalhar a noção de conhecimentos sobre educação ambiental e alimentar, agroecologia, jardinagem e agricultura urbana. O programa é voltado para moradores do Centro de Acolhimento à Pessoa com Deficiência João Paulo II (CAPD) e para pacientes do Centro Especializado em Reabilitação Irmã Dulce (CER IV), ambos núcleos da instituição fundada pelo Anjo Bom do Brasil. A cerimônia de premiação aconteceu na última sexta-feira (dia 08), no Palácio Real de El Pardo, em Madrid (Espanha), com a participação da rainha Letizia. A líder do CER IV, Rosinei Sousa, esteve no evento representando a família OSID.

O Prêmio Rainha Letizia de Reabilitação e Integração destina-se a reconhecer trabalhos continuados, realizados ao longo de um período não inferior a dez anos, de investigação técnico-científica no campo da reabilitação de pessoas com deficiência e integração com a sociedade, em países de língua espanhola e portuguesa (ibero-americanos). “Esse reconhecimento nos traz muita alegria e satisfação. A Horta Educativa acontece há mais de duas décadas e envolve um empenho cotidiano, se fortalecendo como uma importante ferramenta na atenção às potencialidades das pessoas atendidas e na integração para a vida”, comemora Rosinei Sousa. A edição 2015 do prêmio contemplou também o Colegio Mayor Juan Luis Vives, gerido pela Universidade Autónoma de Madrid, por conta do projeto de acessibilidade e integração de estudantes com deficiência na comunidade universitária.

Como premiação, cada instituição vencedora recebeu 25 mil euros. Entre os inúmeros benefícios da educação através do trabalho com a terra, a Horta Educativa promove o desenvolvimento das potencialidades cognitivas e afetivas, habilidades pessoais básicas e autoestima, estimulando a autonomia, a convivência coletiva e a cidadania, além de disseminar valores universais de paz, justiça, solidariedade, amorosidade e respeito consigo e com o próximo. “O programa exerce um papel terapêutico impressionante. Temos casos de usuários que viviam reclusos, isolados, dependentes ou eram agressivos, e depois das atividades se transformaram, passaram a interagir e socializar. É uma ferramenta multiplicadora real de inclusão”, destaca o coordenador do projeto, Jorge Nascimento, que se orgulha de estar à frente dessa ação pioneira desde o início. “A oficina surgiu da ideia de tornar os moradores com deficiência menos ociosos e buscar caminhos para a inclusão deles. Fizemos um trabalho de formiguinha, que foi crescendo pouco a pouco e trazendo cada vez melhores resultados e motivos para comemorar”.

Paciente do CER IV, Paulo Henrique Gonçalves, de 27 anos, que há cinco participa da Horta Educativa, é um belo exemplo dessa transformação. De garoto pouco independente e com medo de plantas, ele hoje mexe na terra, semeia e rega os vegetais, além de tirar de letra a execução de tarefas que antes dependia de alguém para realizar. Feliz com as conquistas do filho, que é portador de Síndrome de Down, Nalva Gonçalves se diz encantada com a oficina terapêutica. “No começo tive muito receio, pois Paulinho tinha pavor de mato, então pensei que jamais fosse dar certo. Imaginava que colocar ele numa horta fosse o mesmo que jogá-lo num rio cheio de crocodilos. Mas embora apreensiva, quis ficar aberta à novidade e em pouco tempo, para minha surpresa, ele se deu muito bem e só tem progressos e conquistas. Venceu o pânico e agora é um rapaz com mais independência, autonomia e iniciativa, sem falar que despertou nele a consciência ambiental. Todo material reciclável que vê quer juntar para contribuir com a horta. Confesso que até eu fui curada de alguns medos, como deixar meu filho sair sem mim e fazer algumas atividades sozinho. A Horta Educativa só tem acrescentado em nossas vidas”.

A participação das famílias nas atividades realizadas também é destaque na Horta e tem como finalidade “favorecer a construção e o fortalecimento de vínculos familiares saudáveis, que auxiliem de forma construtiva no reconhecimento das potencialidades e limites de cada usuário”, salienta Rosinei Sousa. Dentro desse processo, as famílias são envolvidas nas rodas de conversa para o exercício da fala e da escuta, nas observações dos filhos enquanto executam as tarefas, organizam e consomem os lanches sozinhos e ainda participam de passeios, seminários e palestras. Inclusão e sustentabilidade - Considerada um valioso instrumento de inclusão social e também de educação ambiental e sustentabilidade, a Horta Educativa está localizada ao lado do Centro Especializado em Reabilitação Irmã Dulce (Largo de Roma), na sede da OSID, e conta atualmente com cerca de 170 participantes, entre crianças, jovens e adultos com deficiência, que diariamente se dedicam ao cuidado com a diversificada flora que ali se encontra. Os integrantes do projeto participam de todo o processo, desde a compra das sementes em feiras, passando pela seleção dos grãos junto com as mães e cuidadores, plantio e acompanhamento do crescimento dos vegetais até o momento da colheita, favorecendo o desenvolvimento pessoal e as relações interpessoais e com o ambiente. No leque de plantas, sempre cultivadas com muita dedicação e carinho pelos aprendizes, estão dezenas de variedades, entre árvores frutíferas, plantas ornamentais, ervas medicinais e hortaliças, a exemplo de bananeira, abacateiro, cacaueiro, mangueira, capim-santo, erva-cidreira, manjericão, hortelã, sabugueiro, alumã, margarida, cebolinha, couve, alface, coentro, tomate-cereja, palmeira e alfinete. Com função produtiva também importante, a horta tem sua produção direcionada para consumo entre os aprendizes e seus familiares, beneficiando famílias inteiras da comunidade.

Dentro do princípio da sustentabilidade, o projeto cria iniciativas como as hortas suspensas verticais, com vasos e suportes construídos a partir de materiais recicláveis como garrafas PET, embalagens tetra pak, potes de iogurte e tubos e formas PVC. A Horta Educativa, que durante 14 anos contou com a parceria da EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola, também é referência em escolas da rede pública municipal e estadual e instituições baianas e de outros estados, que adotam o modelo e as ações pioneiras da oficina, incluindo o conceito de educação ambiental e alimentar. Ao longo de sua história, o programa também já beneficiou mais de 2 mil famílias que tiveram projetos de pequenas hortas verticais e de jardinagem implantados em suas residências.

A Horta Educativa foi criada há 22 anos como oficina terapêutica do Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências (CRPD), núcleo da OSID que em 2013 foi desmembrado em Centro Especializado em Reabilitação (voltado para a comunidade) e Centro de Acolhimento à Pessoa com Deficiência (residência de moradores). Fundado em 1992, o CRPD sempre realizou um trabalho pautado na promoção do desenvolvimento, da inclusão social e da emancipação, com iniciativas como apoio à estimulação precoce, inclusão escolar, reinserção familiar e social, programa de atenção às famílias e diversas oficinas terapêuticas, como Artesanato, Dança, Capoeira, Esportes e Informática Educativa, além da Horta Educativa, iniciativas que até hoje continuam rendendo belos frutos.