Caso teve grande repercussão e OAB quer apuração rigorosa
Correio , Salvador |
08/02/2015 às 12:19
Seis dos 12 jovens foram sepultados em Quintas
Foto: Marina Silva
Familiares das vítimas disseram que foram ameaçadas no bairro por policiais - que apontaram armas para os ônibus que saíram do fim de linha da Engomadeira para o enterro - e garantiram que havia policiais à paisana no cemitério.
“Eles estão botando medo, enfrentando a gente com armas. Os meninos protegiam a gente. A gente tem medo é da polícia”, disse uma mulher que mora no bairro há 59 anos, pedindo anonimato. “É uma injustiça. Eles têm que pagar. É tudo mentira o que estão dizendo”, bradou uma tia de Natanael que não quis se identificar, ao defender que o confronto alegado pela polícia não existiu.
“Todo mundo gostava do meu filho... Ele era inocente! Agora vou criar os dois irmãos sozinha e trabalhar sozinha, porque era ele quem me ajudava”, lamentava, aos berros, a costureira Marina Lima de Oliveira, 56 anos. Avó de Natanael, ela o criou como filho junto com os dois irmãos.
Seis das 12 pessoas que morreram na ação da Rondesp foram enterradas na tarde de ontem no cemitério das Quintas dos Lázaros, em Salvador (Foto: Marina Silva)
Ela contou que o garoto ajudava na entrega das costuras, defendeu que era um menino estudioso e que sonhava em ser jogador de futebol, tendo feito até um teste na Espanha para entrar no Barcelona. Um vizinho de Everson reforçou a versão defendida com unanimidade entre os presentes no cemitério de que “não houve troca de tiro”.
“Foi uma execução. Eles se renderam e foram mortos sem defesa. Como foi troca de tiro se os meninos tinham marcas de tortura? Braços quebrados, olhos afundados e tiro na nuca?”, disse.
“Nós só queríamos que a polícia fizesse o papel dela. São despreparados. Nossa comunidade tem pessoas trabalhadoras”, clamou uma tia de Vitor. Em nota, a PM informou que o caso será alvo de uma apuração. “Até o momento, não há indícios de irregularidade cometida pelos policiais militares”, disse a PM, reafirmando que policiais foram recebidos a tiros no local.
Um dia depois que 12 homens morreram em ação da Rondesp Central, da Polícia Militar, no Cabula, outras duas pessoas foram mortas e uma terceira ficou ferida na noite da última sexta-feira em confronto com policiais da Rondesp Atlântico, na localidade do Barral, no bairro de Cosme de Farias, em Salvador.
De acordo com a Polícia Militar, os policiais da Rondesp faziam rondas de rotina na rua Wenceslau Galo, quando foram recebidos a tiros por Rafael de Oliveira Cerqueira, de 19 anos, Alexsandro Pinheiro dos Santos Lima, 20, e Denilson Campos dos Santos, 22.
“Os policiais revidaram atingindo os três elementos que foram socorridos para o HGE (Hospital Geral do Estado)”, diz a PM, em nota. De acordo com informações do posto da Polícia Civil do HGE, onde o caso foi registrado, Rafael – alvejado no tórax, barriga e membros inferiores – já chegou à unidade sem vida, por volta das 21h de sexta-feira.
Denilson foi baleado no tórax, membros inferiores e abdômen, passou por cirurgia, mas morreu no sábado (7), às 9h15. Apenas Alexsandro estava vivo, mas o estado de saúde era considerado grave. Ele foi atingido no braço esquerdo, no tórax e na barriga.
Drogas
Segundo a polícia, os três são traficantes. Com eles, foram encontrados um rádio amador, 32 papelotes de cocaína, 21 balas de maconha, além de três revólveres calibre 38, um deles com numeração raspada.
As armas foram encaminhas ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga o caso junto com a Corregedoria da PM. Segundo o boletim de ocorrência, todas as armas tinham tiros deflagrados. Ontem, o policiamento foi reforçado nas imediações de Cosme de Farias. Quatro viaturas ficaram paradas na altura do Largo dos Paranhos, em Brotas – da 26ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Brotas) e 58ª CIPM (Vila Laura/Cosme de Farias) além de unidades da Rondesp