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Rosa de Lima

ROSA DE LIMA COMENTA LIVRO A VIDA FELIZ E TRANQUILIDADE DA ALMA,SÊNECA


Lúcio Aneu Sêneca nasceu na Espanha e filosofou em Roma contemporâneo de Jesus Cristo
01/06/2024 às 08:52
Lúcio Aneu Sêneca nasceu em Córdoba, Espanha, e morreu em Roma 65 d.C a mando do imperador Nero, o qual determinou seu suicídio, o que foi cumprido como sentenciou o imperador uma vez que sendo o mais destacado filósofo estoico de sua época e via a morte como uma virtude (), filosofia helenística que floresceu na Grécia Antiga que acreditavam que a prática da virtude era suficiente para alcançar uma vida bem vivida (eudaimonia) e pratricavam quatro saberes: sabedoria, coragem, temperança (moderação) e justiça, pensamento de Zenão de Citio 300 a.C e que valorizava a virtude.

      Sêneca foi contemporâneo de Jesus embora vivendo em regiões distintas e ao mesmo tempo entrelaçadas entre si uma vez que a Palestina estava sob o domínio dos romanos, mas é claro que a morte de Cristo por execução, naquela época, Sêneca com 32 anos de idade não teve a repercussão dos dias atuais. Só no decorrer dos anos, com a implantação da igreja Católica, o culto a Maria inicial, é que o cristianismo vai despontar com muita força. Na época de Sêneca e Jesus o Deus mais importante era Júpiter.

     Vamos comentar um dos livros de Sêneca intitulado "Sobre a Vida Feliz & Tranquilidade da Alma (Editora Camelot, Barueri, SP, tradução Fábio Kataoka, 127 páginas, R$20,00) é um texto organizado na forma de diálogo. Aneu Sereno, um amigo do filósofo, inicia o livro solicitando a ele que forneça esclarecimentos que possam diminuir sua angústia interna e conduzir a um estado de tranquilidade da alma. Entra em sena um personagem chamado Sereno escreve uma carta fictícia destacando o valor da amizade e do diálogo como elementos fundamentais na "busca da amizade e do diálogo como elementos fundamentais na busca pelo crescimento espiritual e pela conquista da serenidade interior". Por participar de outras obras de Sêneca acredita-se que Sereno tenha sido um colaborador do filósofo.

      O texto do livro portanto se sustenta no comportamento dos ensinamentos de Sêneca que vai oferecer "conselhos práticos para lidar com as preocupações e inquietações que surgem no cotidiano", tais como o controle das paixões guiando o amigo em direção a uma vida plena e harmoniosa. Os leitores poderão questionar só isso? Tem alguma resolutividade? Bem, Sêneca lança os enunciados abrindo um convite a reflexão sobre a condição humana com sabedoria e equilíbrio. Se as pessoas vão seguir o que ele propõe são outros quinhentos. Cabe a cada um dos leitores decidir por si mesmo. 

      Sobre a tranquilidade da alma confessa: ""Tenho uma predileção externa pela simplicidade. Não aprecio camas com cortinas elaboradas nem roupas retiradas de baús e passada sob pesos para obter um brilho artificial. Prefiro roupas comuns e baratas, que não demandam cuidados excessivos para mantê-las ou colocá-las. Em relação à comida, não busco pratos que exijam uma equipe de servos para serem preparados e admirados, nem aqueles que são encomendados com antecedência e servidos por várias mãos. Prefiro algo prático e fácil de encontrar, sem requinte ou custo exorbitante, que possa ser encontrado em qualquer lugar do mundo, sem ser oneroso para minha fortuna ou meu corpo, e provavelmente deixando meu corpo pelo corpo pelo mesmo caminho pelo qual entrou".

      Ao amigo Sereno que busca com perguntas saber como conseguir um estado de espírito tranquilo, Sêneca confessa que a tranquilidade pode ser alcançada, mas exige "olhar com prazer o que está ao seu redor, sem experimentar nenhuma interrupção dessa alegria e permanecer com uma condição pacífica, sem estar sempre alegre ou deprimido". Há, assim, na visão de Sêneca, um ponto de equilíbrio. "Por sua natureza, a alma humana é dinâmica e pronta para a ação, apreciando tudo o que a estimula e distrai, e ainda mais gratos são aqueles que nascem com os piores instintos, encontrando prazer na desordem de suas responsabilidades".

      Sobre as circunstâncias da vida e a adversidade dos tempos quando Atenas foi "desgraçada por trinta tiranos" conceitua: "Devemos nos adaptar às circunstâncias que enfrentamos e às oportunidades que a sorte nos oferece. Em qualquer caso, devemos nos mover e não ser paralisado pelo medo. Na verdade, o melhor homem é aquele que, mesmo enfrentando perigos de todos os lados, com armas e correntes bloqueando o seu caminho, não compromete nem esconde sua virtude. Proteger-se não significa se esconder".

 Sêneca se preocupava muito com a propriedade. Dizia ser a fonte mais fértil das dores humanas. "Reflita, então quão mais leve é nunca ter tido dinheiro para perdê-lo,: assim entenderemos que quanto menos a pobreza tem a perder, menos tormento ela tem que nos afligir, pois você está enganado se pensas que os ricos sofrem com mais ânimo as perdas". 

  "Acostumemo-nos a abandonar a mera exibição externa e avaliar as coisas por sua utilidade, não por suas ornamentações vazias; que nossa fome seja controlada pela comida, nossa sede saciada pela bebida, nossa luxúria limitada dentro dos limites necessários; aprendamos a usar nossos membros e a organizar nossas roupas e estilo de vida de acordo com o que foi aprovado por nossos ancestrais, não imitando modelos passageiros da moda".

   Dizia que a curva interna é a que deve ser feita, não apenas nas corridas e competições de circo, mas também na corrida da vida; até mesmo as atividades literárias. É muito melhor dedicar-se a alguns escritores do que folhear muitos".

   Sobre a vida feliz é autor de inúmeros conceitos, como por exemplo, seguir a natureza que é um ponto em que todos os filósofos estoicos concordam. Afirma: "A verdadeira sabedoria consiste em não nos afastarmos da natureza e moldarmos nossa conduta de acordo com suas leis e padrões".

   "O Maior bem é ter uma mente que não se abala com as circunstâncias imprevisíveis da sorte e encontra satisfações na virtude, é uma força invencível do espírito que compreende bem o mundo, é gentil em suas relações, demonstrando grande cortesia e consideração por aqueles com quem interage".

  Seneca é uma leitura obrigatória.