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Rosa de Lima

ROSA DE LIMA COMENTA LIVRO DE ELIE DUREL SOBRE JACQUES CARTIER

Cartier foi o navegador que levou Catarina Paraguaçu para a França na localidade de Saint Malo onde ela viveu por 7 anos de 1527 a 1534
08/06/2023 às 09:07
Como faço normalmente diante de escritores que meus leitores não conhecem falo um pouco deles antes de comentar a obra. Hoje, articulamos de Christian Durel, conhecido como Elie Durel, francês nascido em Saumur (Maine-et-Loire), 1946, formado na École Supérieure de l'Armement e no Conservatório Nacional de Artes e Ofícios. Apaixonado por história e apegado ao patrimônio da França, Durel concentra sua obra nessas duas áreas. É, portanto, o autor de obras de natureza histórica e de belos livros, condecorado com a Ordem Nacional do Mérito. 

  Entre suas obras estão "Os Amantes do Vale do Loire" (Edições Geste); “Jeanne de Belleville, corsária do amor” (Geste Éditions); “O Grande Almanaque da França 2013” (Edições Geste); etc; e "Jacques Cartier - Le découvreur du Saint Laurent e des terres du Canadá" e é sobre este livro que vamos comentar. 

  Publicação em francês (Editions l'Ancre de Marine, 261 páginas, R$275,00 no site na Amazon.com) selecionei este livro entre os seus 16 já publicados, nenhum com tradução em português, porque fala do navegador Jaques Cartier - o descobridor do Canadá francês, a ilha de Saint Laurent é onde existe Quebec) e navegou pela Baía de Todos os Santos e sendo o responsável por levar a tupinambá Quayadin para Saint-Malo, sua terra natal, batizando-a como Catherine du Brésil (Catarina do Brasil, depois Catarina Paraguaçu), dando esse nome francês a nativa brasileira em homenagem a sua esposa que se chamava Catherine Des Granches.

  Este livro foi adquirido pelo jornalista Tasso Franco, em 2022, durante viagem que realizou a Saint-Malo para pesquisar a vida do casal Diogo Álvares e Catarina Praguaçu, que me emprestou com a recomendação de devolvê-lo e até apontou-me algumas revelações interessantes contidas no livro e em sua experiência e pesquisas na catedral de São Vicente onde a tupinambá foi batizada, em 1528, na casa em que ela morou em Sain-Malo que era a casa inicial do navegador na cidade (depois ele construiu uma casa de campo onde hoje existe um museu), locais que foram visitados pelo jornalista e escritor baiano.

  O livro de Durel como os demais que escreveu envolve sempre a Franca e sua história, mas sobre Jacques Cartier ele avança para a Terra Nova (Canadá) e faz algumas revelações sobre Catarina que mexem com a história da Bahia.   

 Jacques Cartier nasceu em dezembro de 1491 numa das três ex-comunas que hoje formam Saint Malo filho de Jamet Quartier e Geseline Jansart batizado em 31 de dezembro,

 O ano de 1491 é o ano em que o destino do Ducado da Bretanha foi selado para sempre depois de ter oscilado entre a Inglaterra e a França. A entrada em Sanint Malo das tropas francesas lideradas por Louis II de la Trémoille levou Anne de Bretagne, cujo pai Francisco II morreu em 1481, a ser duquesa titular da Bretanha rainha consorte da França.

 A infância de Carteir, de acordo com os estudos de Durel, foi marcada por lendas que pontilham o tenebroso mar Atlântico com ilhas fantásticas e recebe boa educação, incluindo a religiosa. Em 1509, Jamet Cartier foi assassinado em circunstâncias misteriosas. Aos dezoito anos, Cartier se torna órfão deste que lhe ensinou a profissão de marinheiro, a principal atividade de Saint Malo. Ainda jovem, decide participar de perigosas viagens em direção à Terra Nova que os pescadores mais experientes de Saint-Malo pescam bacalhau. 

  Em 1520, aos 29 anos de idade, casou-se com Catherine des Granfes pelo vigário Lancelot Ruffier e melhora a ascensão sociais, pois, passa a contar com o apoio moral do sogro Macé Jalobert comandante da tripulação. 

  Através da indicação de Jean le Veneur de Tiilieres, bispo-conde de Lisieux, que se preocupa com a evangelização do "Nouveau Monde", Cartier, um católico praticante, participará de duas das três expedições do navegador italiano Giovanni da Verrazano, bancada por financistas franceses de Lyon.

 A primeira viagem de Cartier a Terra Nova - ainda como simples marinheiro - integra a expedição comandada por Verrazzano na embarcaão Dauphine e partiu de Dieppe em fins de 1523. Verrazzano explora a costa da América do Norte denomina a Baía de New York como "Nouvelle Angoulême" em honra a Francisco I, duque de Angoulême, e retorna a Dieppe em 8 de julho de 1524. A expedição não teve sucesso pleno porque não conseguiu o objetivo de mapear uma rota de acesso ao Oceano Pacífico e a Ásia. Ainda assim considerada emblemática. 

 Verrazzano não desiste de buscar esse novo caminho e segundo Eliel Durel (pág 33) volta a Normandia e organiza uma nova expedição com apoio de Guillaume Prodhomme - financista - de Pierre d'Espinolles, de Jacques Boursier e Jehan Ango, mas seus navios são requisitados para a guerra no Mediterrâneo quando na Batalha de Pavie, o rei Francisco I (o rei cavalheiro) é feito prisioneiro de Carlos V (espanhol). O navegador italiano se aproxima do rei de Portugal, Dom João III (fundador de Salvador) e de Henrique VIII, da Inglaterra. Francisco I foi libertado em 1526 após pagar 2 milhões de escudos a Espanha.

 Nessa época, os irmãos Varrazzano (Giovanni e Girolano) sobem a costa africana para ir ao Brasil onde carregam o pau-brasil, madeira vermelha com propriedades surpreendentes da qual se extrai um colorante vermelho chamado brazilin. Esta é mais uma forma de compensar o que constitui uma segunda falha. Em setembro de 1527, eles estão de volta à França. 

 O autor não esclarece se essa viagem teria sido bancada pelo reino de Portugal e ser Cartier fazia parte dela, mas é provável que sim. O certo pela descrição do historiador francês o "La Flamengue" passou na Baía de Todos os Santos onde teria sido carregada de pau Brasil, empreitada que deve ter tido a participação de Diogo Álvares, o Caramuru, como intermediador do negócios, o que se chama, atualmente, de agente do comércio exterior.

 Durel narra que a nau "La Flamengue", o navio de Varrazzano, retorna a Fécamp onde é descarregado um carregamento de madeira brasileira. Anteriormente, durante uma escala em Saint Malo, desembarcaram os marinheiros de Saint Malo e um padre que estava a bordo. Havia também uma jovem índia brasileira capturada e trazida de volta como testemunho viva para ser estudada para avaliar suas habilidades de evangelização.

  Numa terceira viagem de Verrazzano, em 1528, depois de seguir adiante da Flória e atingir as Antilhas, em Guadalupe, o navegador italiano desembarca e é capturado e morto pelos antropófagos Caraibas. A nau retorna a França sendo comandada por Gerolamo, irmão de Geovani, e (provavelmente) também por Cartier. 

 De retorno a casa em Saint-Malo, em 31 de julho de 1528, dá-se o batismo de Catherine du Brésil, "uma infiel" - na linguagem de Durel. "No penúltimo dia do referido mês, foi batizada a Catehrine du Brésil e compareceu o nobre homem Guyon Jamin, reitor de Saint-Jacut e Catherine Des Granges e Franzsoise Le Gobien, filha do donatário de Saint Malo; e foi batizado por mim Lancelot Ruffier, vigário pároco do referido local".

  O autor francês cita que "uma das madrinhas é outra senão Catherine Des Granges, esposa de Jacques Cartier, e o padrinho Guyon Jamin, o reitor de Saint-Jacut e cunhado de sua irmã Thomasse Cartier". 

  CATARINA PARAGUAÇU NA FRANÇA 7 ANOS: De acordo com os estudos de Durel, "pode-se, portanto, argumentar que a brasileira foi presa pelo piloto de Saint-Malo, sem dúvida com os papagaios e os saguins que o vice-almirante da Bretanha, Alain de Guegant, havia enviado ao almirante Chabot que os instalou em gaiolas em seu castelo de Aspremont, em Poitou". 

  Há, no entanto, dúvidas, se a tupinambá foi levada a França como presa ou como convidada de Cartier, uma vez que ela passou a morar com sua familia, em Saint Malo. O autor não entra em detalhes sobre essa questão porque seu livro tem mais informações sobre a descoberta do Canadá, em 1534. O nome de Catherine du Brésil é uma homenagem que Cartiter faz a sua esposa e diante dessa proximidade vê que o navegador não tratava a tupinambá como uma prisioneira.

 Mais tarde, Jacques Cariter fará alusão ao Brasil durante sua descoberta das terras do Canadá "este dito povo vive numa comunidade de bens bastante e do tipo que os brasileiros. A aldeia deles eles chamam de Osisy é tão grande quanto ervilhas, e desta até cresce bastante no Brasil"

 No decorrer de 1533, o rei da França e os financistas organizam uma viagem a Terra Nova sob o comando de Cartier, o qual, aos 42 anos, é considerado apto para tal missão. Há toda uma negociação prévia e no "final da noite de domingo, 19 de abril de 1534, o casal Cartier recebeu convidados nesta sala ligeiramente enfumaçada com vigas enegrecidas pela fuligem", escreve Durel.

"Ambos sentados em assentos de cana trançada colocados sob o manto da lareira, Jacques Cartier e Charles de Mouy, vice-almirante da França, conversam. Um pouco afastada, Catherine Des Granges tricota uma longa meia de lã. Perto dela estão Antoine Des Granges, seu irmão, e Marc Jalobert, seu cunhado. Atrás deles, a babá de Dame Catherine. Mãe Manon, vai até a roca, murmurando pais-nossos", escreve Durel.

  Portanto, observem que o autor está falando do ano de 1534 e a tupinambá já com o nome de Catherine citada como "nourrice" (babá de ama) ainda vive em Saint-Malo. Ou seja, 7 anos depois de sua chegada.
Cartier partiu de Saint-Malo em 20 de abril de 1534 após solenidade com presença do vice-almirante da França. Charles de Mouy e a tripulação embarcou nos dois brigues "Le Triton" (comandado por Cartier) e "Le Goeland", que medem 6O toneladas cada, ou capacidade para transportar cerca de 170 metros cúbicos de mercadorias. O autor narra que Catherine de Grances - a mulher de Cartier - subiu nas muralhas da cidade e em lágrimas despediu-se do marido. Ele sempre se posicionou contra essa viagem.

  E Catharine du Brésil o que aconteceu com ela?

  O autor publica no livro (document original, archives de Saint-Malo) a relação de quase todos os tripulantes das duas naus dos mais graduados aos marinheiros de primeira viagem, mas, a relação está incompleta pois há um etc no final do texto. E nesta lista não aparece o nome de Catherine.

  Esse é um grande mistério ainda a ser descoberto porque nesta viagem não consta o nome de Catherine du Brésil nem a rota para o Norte onde Cartier descobre o Canadá, a Ilha de Terra Nova aparecendo às tripulações de Goeland e Triton no domingo, 10 de maio de 1534, no Cabo Bonavista. No dia 21 de maio na (Ilê aux Oiseaux) pequena ilha dos pássaros em busca por carne fresca onde encontram grandes pinguins.

  Como então Catherine du Brésil retornou a Bahia? 

  Segundo os historiadores baianos ela fundou o oratório de Nossa Senhora da Graça, em 1535, portanto já se encontrava na Vila Velha do Pereira. 

  Em que nau ela regressou? É provável que tenha sido n’algum galeão para carregar madeira (Pau Brasil) enviado por Cartier, mas não há registro oficial disso. 
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  O restante do livro todo ele é dedicado a descoberta do Canadá e os contatos de Cartier e sua tripulação como os nativos de lá, especialmente a vile Hochelaga, e mais suas outras duas viagens de exploração e colonização do Canadá, cuja tradução (literal) é vila.

  Em Saint Malo há um museu de Cartier em sua ex-casa de campo em Limoelou, arredores de Saint Malo, mas não existe nada sobre Cathérine du Brésil. Todo ele é dedicado ao Canadá sua descoberta e inicio da colonização.