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Rosa de Lima

ROSA DE LIMA COMENTA O LIVRO “FAKE BRAZIL”, DE GUILHERME FIÚZA

Jornalismo faz uma leitura crítica de como a sociedade se comporta e de como os "progressistas" agem
20/05/2023 às 11:34
    O tema jornalístico "notícias falsas" que está mais conhecido na expressão inglesa "fake news" do que em português segue em pauta com o governo Lula insistindo em controlar a rede mundial da internet, o que, Flávio Dino, ministro da Justiça, chama de "regulação das redes sociais". Ou seja, pelo PL em andamento na Câmara dos Deputados haveria uma agência reguladora composta por pessoas do governo já apelidados de "checadores da verdade", os quais, diriam ou estabeleceriam o que pode e o que não pode ser veiculado. Obviamente, a base de oposição ao governo e setores liberais da sociedade veem nesse ato como uma censura, o que nivelaria o Brasil a países ditatoriais que usam essa prática, a China, em especial.

  Como falamos de literatura, analisamos conteúdos literários, vamos fazê-lo em relação a obra do jornalista Guilherme Fiuza intitulada "Fake Brazil - a epidemia de falsas verdades" (Editora AvisRara, 237 páginas, 1ª edição de 2020, SP, R$27,00 nos portais) que aborda o assunto com um visão crítica, forte censo de humor e alguns textos com deboches explícitos onde o autor analisa exatamente alguns acontecimentos no país, desde a libertação de Lula, a pandemia do coronavirus, o governo Bolsonaro e o combate a pandemia, as ações do STF e outros, ou seja, tudo aquilo na visão do autor "que os senhores da verdade querem que você não fale".

  O livro, publicada sua primeira edição, em 2020, portanto, está bem atual uma vez que com a mudança do governo, em 2023, um projeto de lei tramita na Câmara tendo como relator o deputado Orlando Silva, do PCdoB, partido força auxiliar muleta do PT, e o governo quer institucionalizar em lei aquilo que Fiuza chama de "checadores de fatos - seres iluminados que decidirão o que é verdade e o que é mentira nas redes sociais". Veja que o livro foi escrito em 2019 e publicado em 2020 e passados 3 anos de sua primeira edição além de ter um conteúdo crítico a fatos passados recentes é quase uma profecia.

  De cara, o jornalista já abre o livro com uma introdução atípica em publicações literárias colocando o seguinte texto em evidência: - Olhe em vota; você não está sonhando: veja os burgueses mais gulosos fantasiados de esquerda progressista e solidária; veja a elite mais egoista e autoritária se enchendo de dinheiro e poder enquanto finge defender as minorias e a democracia; veja a grande imprensa decadente gritando contra fake news para tentar censurar as redes sociais com a figura medonha dos checadores da verdade; veja esse golpe contra a liberdade de expressão unindo de tribunais a intelectuais para consagrar a mentira da grife.

  E mais, confessa o autor: "Veja os integrantes dos mais avarentos clubes de ricos fingindo que um país e um planeta podem virar uma grande quarentena vip, enquanto ajudam a matar a sociedade fingindo salvar vidas; veja os humanistas de zoom trocando receitas de empatia remota enquanto o cidadão é barbarizado pelas ditaduras sanitárias; veja a praga do politicamente correto expandindo sua butique de virtudes a 1.99 e virando patrulha violenta de estigmatização e cancelamento; Viu? Então seja bem-vindo (a) (x) (y) (z) do Fake Brazil. Espero que, atravessando as páginas que se seguem, você entenda quem é quem neste estranho baile de máscaras. Divirta-se enquanto é tempo".

  A partir daí, em 20 capítulos, o autor analisa o tema com sua visão crítica e caberá aos leitores, também, entenderem que os enunciados por Fiuza são os adequados e corretos e/ou não. Ele diz no capítulo 1 intitulado "Fake News de grife" que o "STF deu uma caneta mágica aos governadores (e prefeitos) para montarem o Covidão e a quarentena totalitária, combinação devastadora da qual todos os cúmplices chegaram a achar que sairiam imunes. Mas depois começaram a entender que não será bem assim".

  Para quem não se lembra esse foi um ato polêmico para manter as pessoas em casa com alguns governadores fazendo campanhas em seus estados, o que ficou conhecido como "Fique em casa para salvar vidas" - é o que se defendia.

  Para Fiuza, pagina 19, "Os parasitas e tragédia, os liberais de cativeiro e os humanistas de butiques estão irmanados na complacência silenciosa para com governadores que viraram caso de polícia. Nenhuma dessas libélulas antifascistas viu cidadãs sendo barbarizadas nas ruas pelos tirantes. Estavam mais preocupados em tramar com a 'comunidade científica' do PT, PSOL e genéricos as diretrizes de fundo de quintal para manter todo mundo preso e asfixiar a sociedade".

 Adiante, comenta: "Pode ser que ninguém tenha notado o silêncio do gabinete do amor diante dos milhões desviados em respiradores fajutos, hospitais de fachada e soro fisiológico superfaturados; diante das estatísticas batizadas para potencializar o roubo; diante da deliberada mistura de dados entre vítimas e portadores do coronavirus com os de outras doenças graves para apavorar a população".

  No livro, o autor mantém essa pegada crítica até o final e, a cada capítulo (em quase todos) cria um diálogo imaginário entre pessoas com acentuado humor. Vamos colocar um trecho para que vocês compreendam melhor o sentido do que se propõe o autor: - Você é do gabinete do ódio? - Sou. E você? - Gabinete do amor. - Ah, que sorte. - Pois é, por que você não vem pra cá? - Ué, me convida que eu vou. - Você tem experiência? - De amor? - É. - Não. Só de ódio. - Ah, então não dá. Que pena. - É imaginei. - Mas tenta uma formação, tem uns cursos bons por aí. - Se eu conseguir um certificado, será que consigo entrar no gabinete do amor como estagiário? - Depende. Você vai ter que passar por um processo seletivo. - É muito difícil? - Vão de fazer umas perguntas sobre fake news. Se você der as respostas certas, tá dentro. - Show, vou começar a estudar. 

  Pelo andar da carruagem e pelos títulos dos capítulos: Fake news de grife; A resistência de boa aparência; A maquiagem progressista está toda borrada; Os heróis da democracia fascista; A empatia da bordoada; Cada a boca já morreu (mas ressuscitou); A arte de dedurar; Os revolucionários de butique; A desmoralização da civilidade; Me censura senão eu minto; 2020, uma odisseia no porão; A orquestra do fracasso; O baile de máscara da patrulha; Notícia boa é notícia escondida; Luta, STF e o amor; Operação carne fraca; Democracia sem povo; Araraquara Connection; Covid: um negócio da China; Esperando a vacina contra a hipocrisia.

  Em "Nos revolucionários de butique" - um dos melhores capítulos do livro - Fiuza comenta: "Nos anos 70, o Brasil estava cantando 'qualquer maneira de amor vale a pena'. Nos 80, a bissexualidade e a identidade transexual saíam do gueto. Os gays já tinham saído. Estavam todos nas novelas, nos filmes, nas músicas, em cargos de comando. Ninguém dizia que 'agora é assim' ou que era o 'novo normal' ou nenhum desses carimbos idiotas. Não tinha essa paranoia aritmética de maioria, minoria, hegemonia. Cada um na sua e ponto final".

  Pois bem, o livro "Fake Brazil - A epidemia de falsas verdades" tem seus méritos e uma visão de alerta e critica de como se movimenta os mundos da internet e da sociedade brasileira.