Há, ainda nos dias atuais, um fascínio enorme sobre Roma - sua história, seus monumentos históricos e templos - e os sítios erguidos pelo Império Romano em vários países
O legado deixado pelo Império Romano na Europa, África, Ásia Menor e Oriente Médio é algo fantástico e inovador para a época, na arquitetura, no urbanismo e na cultura de forma geral ainda que, na filosofia e na literatura os gregos tenham se sobressaído mais do que os romanos, sobretudo com Sócrates, Aristóteles e Platão. Na historiografia e na oratória, no entanto, creio que os romanos foram melhores com Cícero, Suetônio, Apulêio, Tácito e outros.
Há, ainda nos dias atuais, um fascínio enorme sobre Roma - sua história, seus monumentos históricos e templos - e os sítios erguidos pelo Império Romano em vários países, sobretudo na Europa, desde aquedutos, templos, colunas, termas e locais de moradia. É através deles que de aprofunda no conhecimento do comportamento do homem numa época em que predominava a oralidade, embora a escrita já fosse de conhecimento pleno, mas as tecnologias do seu uso eram primárias. Então, muita coisa se perdeu no tempo e espaço.
Comentamos, pois, o livro intitulado "Roma Antiga", de Thomas R. Martin (L&PM Editores, 315 páginas, tradução de Iuri Abreu, 2019, capa de Ivan Pinheiro Machado, R$48,67 no site Amazon.com) uma abordagem que vai se Rômulo (Rômulo e Rêmulo segundo a lenda alimentados por uma loba foram os fundadores de Roma, 753 a.C) até Justiniano (fim do século IV, 565 d.C. quando o Império já fracionado em dois - Oriente e Ocidente - deixa de existir com as invasões dos árabes e dos germânicos, nas duas frentes.
Trata-se, portanto, de uma longa história analisada por Thomas R. Martin, doutor em filosofia clássica pela Universidade de Harvard e historiador autor de várias publicações e consultor para diversos documentários e séries produzidos para televisão e internet.
Estamos diante de uma obra comentada sobre fatos que aconteceram durante mais de um milênio, embora os estudiosos do assuntos digam que, a rigor, o Império Romano, com tal denominação e vigor, só tenha acontecido entre 27 a.C após o assassinato de Júlio César e a divisão do poder entre Lépido, Marco Antonio e Otaviano (o Augusto) até Justiniano (565 d.C).
A formatação da Itália e a expansão do poder de Roma, no entanto, já se verificava com a ocupação territorial do Lácio e da ocupação da região etrusca de Veios (499 a.C e 396 a.C) nas guerras durante o período da República. E avançam os romanos ocupando cidades gregas existentes no Sul da Itália, derrotam os cartagineses nas Guerras Púnicas e criam as províncias da Sicília, Córsega e Sardenha o que é também considerado o início do império territorial.
Vê-se, pois, quando é dificil distinguir as duas fases do Poder de Roma - República e Império - se confundindo em suas interpretações. O exército romano já ocupava parte da Ásia Menor e as terras dos gauleses (França) 58 a 60 a.C. além de Jerusalém capturada por Pompeu. Ademais, para manter a República estruturada e una havia lutas internas pela disputa do poder central até que Júlio Cédsar derrota todos os seus adversários na guerra civil (45 a.C) e detém o controle de Roma.
Martin comenta que "o violento conflito que voltou a elite dominante de Roma contra si mesma acabou por destruir a República. O processo de destruição levou um século, da época dos mandatos dos irmãos Graco como tribunos às guerras civis da segunda metade do século I a.C. O processo também foi o desdobramento de uma perversão da antiga tradição romana das obrigações mútuas de patronos e clientes". Isto é, quando o "Estado romano enfrentou novas e perigosas ameaças exigiram-se respostas militares imediatas de comandantes competentes".
Só como exemplo para se entender um pouco o xadrez que era o controle das áreas em expansão e a preservação do núcleo central do poder, em Roma, fortalecido e guarnecido, muma das revoltadas "70 mil escravos fugiram de grandes propriedades na Sicília e se uniram para iniciar uma revolta que durou de 134 a 131 a.C. e irrompeu uma guerra estrangeira com Jugurta, um rei cliente rebelde da África do Norte.
A grandeza de Roma - interpreta o autor - se sustentava nos alicerces da República numa sociedade organizada com leis, com juristas, com um Senado, com ordem administrativa e política, e nas alianças que faziam com os poderosos de cada região ocupada num sistema de compadrio, evidente impondo as leis romanas e a cobrança de tributos, mas, sem necessariamente, abafar ou acabar com os comandos e os poderes das culturas ocupadas. Pompeu ocupou Jerusalém e manteve o poder dos sacerdotes religiosos locais com Herodes, o Grande. A condenação de Jesus Cristo, por posto, passou pelo Sinédrio - uma assembleia jurídica constituída por anciões judeus.
Um ponto importantíssimo de inflexão e ruptura do Império Romano vai se dar com o nascente cristianismo pregado por Jesus Cristo, não necessariamente no momento de sua existência terrena, que até mudou o calendário das eras temporais passando-se a admitir o a.C. (antes de Cristo) e o d.C. (depois de Cristo) como uma referência até os dias atuais; nem no plano militar. Essa influência se deu de forma muito forte com a religião nas massas populares.
Aos poucos, o cristianismo foi avançando e ocupando espaços até que o imperador Teodósio quase 400 anos após a morte de Cristo, em 391 d.C. adota o cristianismo como religião oficial do Império banindo os sacrifícios pagãos. Isso foi de um impacto enorme na Europa, partes da Ásia, África e Oriente Médio; e diferente do judaísmo que se manteve em Jerusalém mais restrito ao povo da Palestina, Roma era a sede da igreja criada pelo apóstolo Pedro e avançou com os ensinamentos de Paulo, depois, São Paulo.
O poder estava em Roma, a sede política e administrativa do Império, e não em Jerusalém ou Constantinopla. Essa decisão de cristianismo se instalar na sede do Poder foi importante para sua consolidação embora, a derrocada do Império, em sí, dá-se pela ausência de lideranças mais capacitadas pós a morte de Justiniano, com seus descendentes, o Império dividido em Oriente e Ocidente e atacado nas duas frentes pelos árabes e pelos povos germânicos.
Roma e a Itália, assim como o cristianismo e a igreja católica, sobrevivem ao longo do tempo, mas aí é outro ciclo da história e o livro de Thomas R. Martin, como o próprio nome diz "Roma Antiga - de Rômulo a Justiniano" interpreta esse período. Um excelente trabalho, denso, com informações valiosas, análises, extensa bibliografia pesquisada e citada, o que dá uma visão geral e abalizada aos leitores desse momento da história mundial.