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Rosa de Lima

LAMPIÃO NA BAHIA, DE OLEONE COELHO FONTES, COMENTA ROSA DE LIMA


O trabalho mais completo sobre a trajetória de Lampião na Bahia chega a sua 11 edição
06/01/2023 às 12:49
  O jornalista e escritor Oleone Coelho Fontes é o "virgulinista" (estudioso da vida de Virgulino Ferreira, o Lampião) mais destacado do Brasil. Sua obra é extensa sobre o cangaço comandado por esse guerrilheiro do sertão entre 1922/1938, sanguinário matador de inocentes e soldados das PMs da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas a quem chamava de "macacos" e exterminava-os quando em combate ou nas emboscadas que prepetrava, uma das mais cruéis contra soldados ocorreu na cidade de Queimadas, na Bahia. 

   Fontes é um pesquisador incansável que vem oferencendo aos seus leitores trabalhos em livros e reportagens em jornais dos mais respeitados e dignos.

  Em "Lampião na Bahia" (Editora Ponto & Vírgula Publicações, 2019, 11ª edição, capa Cristine Gatto, R$50,00 Livraria Escariz), Oleone nos oferece o mais completo estudo sobre a passagem de Lampião pelo território baiano, bem documentado, com extensa bibliografia e depoimentos fornecidos ao autor, e o que é mais importante: com análise crítica dos acontecimentos envolvendo os cangaceiros e os baianos contestando algumas versões de outros autores, que também escreveram sobre o mesmo tema, o que permite aos leitores terem uma visão mais real do possível das sanguinárias ações de Lampião no Estado e a a desorganização no combate ao seu bando e partir do comando central na SSP, em Salvador, com as volantes - algumas delas estúpidas e agressivas junto aos nativos na busca de colher informações sobre os roteiros dos cangaceiros.

  Somente um estudioso do cangaço como Oleone seria capaz de condensar num único volume tantas narrativas de Lampião na Bahia, trabalho árduo, difícil de ser feito uma vez que, se Lampião não seguia uma trilha única e mudava de rumo em suas trajetórias auxiliado por coronéis e coiteiros, e outras vezes por guias sertanejos levados à força pelo cangaceiro, ao pesquisador também fica mais complicado apresentar aos leitores uma narrativa linear, organizada. Oleone vai trilhando em saltos, mudando de lugar a lugar, o que parece até iverossímil, porém era o que Lampião fazia e o autor procurou seguir essa diretriz.

  Aos leitores parece estranho que Lampião pudesse estar em Uauá na região mais próxima de Bonfim e Juazeiro e logo depois aparecer em Mirandela que era um distrito de Ribeira do Pombal, no outro lado do sertão do estado, ou mesmo se embenhar na caatinga de Jeremoabo, o famoso Raso da Catarina. Vê-se, pois, a dificuldade que Oleone teve em produzir este livro e o fez com categoria porque andou muito, percorreu todas essas trilhas, entrevistou muita gente e leu todas as publicações individuais sobre o cangaço na Bahia, desde Walfrido Morais ao professor Estácio de Lima. São muitos os livros (alguns ainda inéditos) escritos por ensaítas de Queimadas, Bonfim, Uauá, Jeremoabo e outros cada qual narrando episódios isolados das passagens de Lampião por suas áreas.

  Oleone teve o trabalho de além de pesquisar todas essas obras e ouvir depoimentos de coronéis e coiteiros do sertão baiano analisar o que é correto e o que representa fantasia, criticando, inclusive algumas citações de vários autores e do jornalista Juarez Conrado, baiano que morou em Aracaju durante muitos anos trabalhando na sucursal do jornal A Tarde e escreveu sobre a morte de Lampião na emboscada de Angico, Sergipe. 

   Diga-se, ademais, que esse é um ponto que ainda não teve um final - a morte de Lampião - tantas são as versões e os detalhes da operação que resultou na morte do chefe do cangaço, e dificilmente terá, uma vez que, do muito que já se escreveu sobre o assunto está relacionado com depoimentos de cangaceiros que sobreviveram e de integrantes da volante comandada pelo tenente João Bezerra.

  O autor, inclusive, aborda um dos detalhes dessa emboscada quando se disse que a morte dos cangaceiros só acontecera porque Lampião e parte do seu banco estacionados em Angico teriam sido envenenados e estariam trópegos ou já semi-mortos quando a tropa de Bezerra os dizimou, o que não teria acontecido, segundo Oleone, assim como desmente o colocado por Conrado que Lampião, naquele fatídico abril de 1938 estaria desmotivado e cansado, e iria reunir os cangaceiros pra dizer que cada qual tomasse seu rumo porque iria abandonar o cangaço. 

  Segundo Oleone, nada disse aconteceu, as reuniões que Lampião fazia com os cangaceiros - a maior quantidade possível deles - era uma rotina da sua estratégia, inclusive a divisão dos grupos em três bandos, um dos quais comandados por Corisco que escapou da morte em Angico por ter chegado atrasado ao encontro marcado por Lampião, onde morrer posteriormente, dois anos depois, o que está bem documentado nos depoimentos de Dadá, sua mulher, que sobreviveu e narrou muitos episódios, ela que veio morar em Salvador da Bahia, posteriormente.

  Eu já lí muitos livros sobre a vida de Lampião inclusive aquele específico sobre o fotógrafo e cinegrafista Abrahão Benjamin e sua trajetória documentando o grupo e diria aos meus leitores que o "Lampião na Bahia", de Oleone Coelho Fontes, pelo menos no que diz respeito a trajetória do cangaceiro e seu grupo neste estado, é o melhor e mais completo trabalho que já foi publicado sobre o tema.

   Oleone é cuidadoso na interpretação dos depoimentos e das publicações, mais desconfiado do que Lampião, e a narrativa de sua pena é feita numa linguagem direta sem rebuscamento, sem erudição, o que permite a qualquer leito acompanhar a obra numa boa.

  Narra, ainda, detalhes de vários episódios como a chacina de Queimadas, o saque de Mirandela, a chacina do Brejão da Caatinga, o esquartejamento do tenente Geminiano, a morte de Ezequiel Ponto Fino, a vingança e a morte de Corisco, entre outros, o que abre brecha para pesquisadores e estudiosos do assunto possam trabalhar no desdobramento de outros livros.

   E, sem contar, um trabalho bem aprofundado e ainda a ser feito sobre o desempenho da Secretaria de Segurança Pública da Bahia e da Polícia Militar, lembrando que uma parte da vida do cangaço se deu na época do Getulismo na fase da Revolução Tenentista de 1930 que levou ao poder na Bahia um militar do Exército, jovem, Juracy Magalhães, importado do Ceará.

  Veja, portanto, quanto ainda há o que se pesquisar e trabalhar na literatura e no jornalismo sobre este tema e o livro de Oleone é a base, o esteio, com grande universo de informações.