Colunistas / Literatura
Rosa de Lima

ROSA DE LIMA E CRÍTICA AO MEMÓRIA DA CANTINA DA LUA, A ALMA DA CIDADA

Noite de autógrafo dia 15 no Espaço Cultural Glauber Rocha, praça Castro Alves
12/03/2022 às 09:31
     Aos 80 anos de idade e no batente diário da sua casa boêmia no centro histórico de Salvador, no coração da cidade que é o Terreiro de Jesus, homenagem aos jesuitas que, no final do século XVI usavam esse espaço como área de descanso e contemplacação, o pastor da noite Clarindo Silva autografa dia 15 próximo, no Espaço Glauber Rocha, a 6ª Edição do livro "Memórias da Cantina da Lua". Trata-se de uma edição revista e ampliada com novos depoimentos e fotos, revisões de alguns dos textos que havia escrito sobre a cantina que, no fundo representa parte da história de Salvador.

 O "Memórias da Cantina da Lua', edição com o carimbo número 6, (EGBA, 140 páginas, orelha de ZédeJesusBarrêto, 2021, Editora do Autor, edição de André Carvalho e Maria Pinheiro, R$50,00 nas livrarias de Salvador, primeira edição 2004) retrata passagens da vida do autor, interiorano de Conceição do Almeida, pobre, preto, migrante que chegou no cais do Mercado Modelo na década de 1950 em busca de melhor qualidade de vida e crescimento que sua terra natal não lhe proporcionaria. Vida dificilima iniciada como faz tudo do Bazar Americano, de Walter da Costa Pinto, no centro histórico da capital.

 E assim se passaram anos e mais anos, mais de 65 ao todo, numa luta incessante sempre no coração da capital baiana onde foi crescendo aos poucos, criando a familia, ajudando os necessitados, até se tornar empreendedor na Cantina da Lua, onde as adversidades nunca cessaram, nos altos e baixos do local, até se tornar o arauto da resistência. 

  Se tem uma pessoa a simbolizar essa resistência e o amor ao centro histórico desde a morte de Cosme de Farias, o rábula que tinha banca nas dependências da igreja de São Domingos, o pai dos pobres, é Clarindo Silva, que se tornou radialista, jornalista, escritor, mecenas de artistas, sempre no seu espaço que é a "Cantina da Lua" dos boêmios do passado e do presente, se é que esses zumbis ainda existem em Salvador.

  Essa trajetória de luta permanente está colocada com todas as letras pelo próprio Clarindo com sua linguagem, com seu sentimento, com suas emoções, com seu amor pelo CH e pela cidade do Salvador, num desfile de personagens que vão de artistas, jornalistas, cantores, prostitutas, gente do povo - engraxates, comerciários, manicures, etc - tudo posto pela pena de Clarindo.

   Na apresentação desta 6ª edição a pedagoga e museóloga diretora do Museu Eugênio Teixeira Leal, Eliene Dourado Bina, destaca que "na luta pelo resgate e preservação da memória cultura e pela revitalização física, social e econômica do Centro Histórico, Clarindo defende uma visão 'holística', definição que encontrou para enfatizar que a revitalização precisa ser estendida às áreas adjacentes do Pelourinho e sua gente".

  Para Eliene, Clarindo é um "patrimônio cultural da Bahia e uma referência para nós, gestores de instituições localizadas no Centro Histórico, tanto por ser um exemplo de perseverança, quanto por estar sempre dispostos e a estabelecer parcerias na realização de ações educativas e eventos", frisa a pedagoga.

  O livro é dividido em duas partes básicas: na primeira, Clarindo, com sua sabedoria e pena narra na primeira pessoa a sua trajetória na "Cantina da Lua", as lutas que enfrentou e enfrenta no dia-a-dia, os projetos culturais e sociais que desenvolveu; e na segunda parte há uma coletânea de depoimentos de pessoas que frequentaram (e outros que ainda frequentam o local), como Sérgio Guerra, Tasso Franco, Fernando Coelho, Gey Espinheira, Anizio Félix, Cristina da Costa Pereira, Kátia Melo, Edvaldo Gato, Egnaldo Araújo, Nadya Sodré, Edialecia Salgado do Nascimento, Carlos Pronzato, Lázaro Torres, Lea Fonseca, Aninha Umbigo Muniz, Antônio Andrade e Germano Tabacof.

  E mais depoimentos de ZédeJesusBarrêto, Antônio Imbassahy, Agnaldo Lessa, Carmela Talento, Bete Mendes, Paulinho Timor, Doris Pinheiro, Maria Pinheiro e André Carvalho.

  Tomo da pena de ZédeJesusBarrêto para encerrar esse comentário ele que traçou um bom perfil de Clarindo: "Uma figura da cidade impreganada de Pelô. Baiano de Raiz. Um herói da resistência. Plácido, porém, inquieto, semopre. A querer mais, a cabeça cheia de ideias, o peito cheio de amores por seu espaço, sua gente, pela sua cidade mãe amada, a Salvador da Bahia de Todos os Santos".

  Livro, pois, de cabeceira para quem deseja conhecer um pouco da cidade da Bahia e sua gente popular.