Porque muitos são mais inteligentes do que alguns, a inteligência coletiva
Um dos assuntos mais complexos da humanidade é entender o comportamento das massas, do que popularmente se chama da turba humana, de uma multidão em revolta. Até hoje os especialistas na matéria tentam saber como esse processo se organiza na cabeça das pessoas porque, como uma manada de búfalos, sem controle, esses humanos passam por cima de tudo e derrubam governos, apeiam reis de tronos, colocam ditadores no pelotão de fuzilamento e tomam o controle do poder. A questão que se segue é ainda mais complexa porque, muitas vezes, e até na maioria das vezes, essas pessoas da turba não participam do bolo do poder e se sentem enganadas ou ao menos não passam a ter o que almejavam ao participarem da manada.
Teria sido, assim, a partir desse comportamento que nasceu a subjetividade privatizada justo em estudos a partir da Revolução Francesa quando a população imaginava conquistar a liberdade, a fraternidade e a igualdade e com o passar do tempo a massa não havia conquistado, plenamente esses três requisitos. James Surowiecki, colunista norte-americano da New Yorker e editor da área de negócios, especialista no assunto, escreveu o livro "A Sabedoria das Multidões" (Ed Record. 374 páginas, R$35,00 nos portais, tradução de Alexandre Martins) e narra porque muitos são mais inteligentes que alguns e como a inteligência coletiva pode transformar os negócios, a economia, a sociedade e as nações.
Essa coletivização das opiniões é bastante antiga e vem desde a época em que os humanos deixaram a condição de caçador-coletor para se organizarem em comunidades agrícolas com a domestição de alguns animais, como os cães e os bodes. Na medida em que os homens se organizaram em sociedades agricolas sugiram os grupos para a tomada de decisões, não necessariamente a partir da opinião de um lider, de forma isolada, e sim da coletividade.
Evidente que esse tipo de comportamento foi sendo aperfeiçoado com o passar dos anos, seguir dos milênios, na organização dos sindicatos, das assembleias, das corporações, até os dias atuais em que são usadas novas tecnologias de avaliações, a computação, mas sem perder a essencia que é a opinão coletivizada. O autor mostra que, nem sempre, as opiniões de especialistas são as mais corretas - embora relevantes - e uma decisão tomada por um grupo de não especialistas (pessoas comuns) pode ser mais acertada.
Explica, por exemplo, porque há tantos erros na aplicação de recursos de milhares de pessoas nas bolsas de valores uma vez que o controle desses capitais é feito por agências especializadas na oferta de ações para compra e venda. Seria lógico, ou pelo menos bem aceitável, que essas agências nunca errassem uma vez que são integradas por especialistas de grande conhecimento. Daí, na observação de um dos estudiosos desse complexo tema James Shanteau, "as decisões dos especialistas são gravemente falhas". Entre 1984 e 1999, nos Estados Unidos, quase 90% dos administradores de fundos mútuos tiveram desempenhos abaixo do indice Wilsrie 5000, um parâmetro relativamente baixo.
O livro está dividido em 6 partes com 12 capitulos e tem fácil leitura e compreensão. Nada complicado. O autor esreve como se fosse uma reportagem e vai dando exemplos bem conhecidos em cada um dos capitulos, como a criação do Linus, o acidente da Columbia, como pequenos grupos podem ser levados a sério na tomada de decisões, concursos de beleza, pistas de boliche, assuntos bem corriqueiros e do conhecimento das pessoas exatamente para que os leitores tenham um entendimento melhor do assunto, em si, a avaliação das qualidades físicas e mentais das multidões.
Surowiecki adverte: "A maioria de nós, seja como eleitores, investidores, consumidores ou administradores, acredita que o conhecimento valioso está concentrado em muitas poucas mãos (ou melhor, em muitas poucas cabeças)", mas não é bem assim, na prática. Na verdade, esse conhecimento, em parte, não pode ser desprezado, porém, o conhecimento coletivo também deve ser levado em consideração, ainda que enfrente, ao menos, três tipos de problemas: cognitivos, de coordenação e de cooperação.
O que o autor busca explicar é a complexidade de uma decisão coletiva e qual a probabilidade de acerto diante de pensamentos diferenciados de várias cabeças (cognitivo) como coordenar o comportamento com os outros, sabendo que todo mundo está tentando buscar o mesmo, e o desafio de levar pessoas desconfiadas e egoistas a trabalharem juntas, mesmo quando o interesse pessoal pareça determinar que nenhum individuo deveria participar (sentido de cooperação).
Esse é o encaixe e o autor dá exemplos simples e complexos como o peso de um boi e/ou a busca de um submarino perdido. O acerto nesses casos (e outros) devidamdente comprovados é de que a decisão coletiva de não especialistas, em grupo, tem um acerto de 90% ou mais. Assim aconteceu quando da descoberta do submarino Scorpian que desapareceu no Mar do Norte, em 1968, e o exemplo do peso de um boi testado por Francis Galton, em 1906.
Ó livro é muito interessante sobretudo neste tempo em que vivemos onde há especialistas para tudo, a maioria sem serventia, querendo empurrar goela abaixo entre os incautos todo tipo de prática, dietas, cursos, técnicas e assim por diante. Tenha cautela com eles.