Filósofo sloveno é um dos mais conceituados e polêmicos da atualidade
Slavoj Zizek é um filósofo e psicanalista esloveno professor do Instituto de Sociologia e Filosofia da Universidade de Ljubljana e diretor internacional da Birkbeck, Universidade de Londres. Crítico voraz do capitalismo, do liberalismo e do politicamente correto, Žižek chama a si mesmo de radical político. Na lista dos Top 100 Global Thinkers é tratado como "filósofo celebridade", enquanto em outros apelidado de "Elvis da teoria cultural" e "filósofo mais perigoso do mundo".
Doutorou-se em Filosofia na sua cidade natal, estudou psicanálise na Universidade de Paris. É especialista na interpretação de Jacques Lacan numa nova leitura da cultura popular, abordando temas como o cinema de Alfred Hitchcock e David Lynch, o leninismo e tópicos como fundamentalismo e tolerância, correção política, subjetividade nos tempos pós-modernos e outros.
Coloquei esse detalhes na abertura do comentário exatamente para mostrar o quanto Žižek (no original esloveno essa palavra tem dois acentos circunflexos invertidos postos acima do z) é polêmico e seus livros despertam tanto interesse como "O Amor Impiedoso", "Absoluto Frágil" e "A visão em paralaxe". Vou comentar, no entanto, o book "Vivendo no Fim dos Tempos" (Boitempo Editorial, tradição Maria Beatriz de Medina, 365 páginas, 2014, R$45,00) com capa do Studio DelRey sobre a xilogravura "Os quatro cavaleiros do Apocalipse", de Albert Dürer, British Museum.
Tem simbiose ou analogia com o texto uma vez que Slavoj identifica uma possível crise terminal do capitalismo com os quatro cavaleiros: a crise ecológica mundial; os desequilíbrios no sistema econômico; a revolução biogenética e o crescimento das divisões e rupturas sociais. E, faz uma outra analogia, de como a sociedade ocidental vai encarar o fim dos tempos (objeto do título do livro). O filósofo dá algumas pistas e faz análises conjecturais profundas a negação da utopia liberal ao atingir o estágio de depressão (dos povos ou do capitalismo) - o trauma neuronal ou o surgimento do cogito proletário.
O livro tem leitura intelectualizada, complexa, e requer um cuidado todo especial no seu entendimento. David Ausubel, psicólogo norte-americano, ao descrever a 'aprendizagem significativa' (a sua teoria cognitiva) situou que o 'sapiens' para entender determinadas linguagem precisa ter conceitos estabelecidos previamente na mente senão conteúdos mais complicados (ou profundos) a pessoa não entende. É o que acontece com os textos em seis longos capítulos deste livro de Zizek: é preciso conhecer a história mundial do capitalismo, as teorias de Lacan, o marxismo e as práticas hedonistas do comunismo, uma série de conceitos básicos para entender a obra e o que, de fato, Slavoj quer.
Um filósofo (em tese) pensa, elabora conceitos novos, sustentas teorias, debate, polemiza, mas, para promover tudo isso preciso ter conhecimento, saber, cultura, performance, certezas, e é isso que levou Zizek ao patamar superior da filosofia atual ainda que outros teóricos discordem dele, o que é absolutamente natural. Ninguém é 100% em suas teses e o melhor é que não seja.
Jaques Lacan, o psicanalista francês, por exemplo, tem diferentes leituras em sua obra (quase não deixou livros) em seminários e palestras acadêmicas. E Slavoj é um dos interpretes de Lacan e em diversas oportunidades faz citações lacanianas no livro, assim como de Alain Badiou, filósofo marroquinho de militância maoista.
Esse fim dos tempos organizado por Slavoj vai acontecer com uma debacle do capitalismo? É provável que não uma vez que até mesmo os antigos regimes comunistas (e socialistas) casos especiais da Rússia e da China, os mais emblemáticos, adotaram um modelo híbrido de gestão com partidos fortes e autoritários no controle absoluto da política e das ações do estado; e um liberalismo kentiano na economia com um mercado aberto para o mundo e competindo de igual para igual com os sistemas capitalistas tradicionais mundiais da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos.
Algumas coisas de sua versão sobre o Apocalipse tem sentido como a nova era e a tecnologia pós humana. "Vejamos primeiro o apocaliptismo tecnodigital. Uma antevisão do que nos aguarda é o 'SixthSense', uma interface gestual e portátil desenvolvida por Pranav Mistry, do grupo de interfaces fluidas do MIT Media Lab".
O que significa isso? Você vai pegar um livro numa livraria e no mesmo instante são projetadas na capa do book críticas e classificações. Isso será possível com hardware (uma pequena câmara) pendurada no seu pescoço (como uma correntinha) interligado com um smarphone que estará em seu bolso.
Ou mais adiante a produção humana controlada por DNA já em estudos avançados de Craig Venter, isto é, a biologia sintética. A vida forjada não pela evolução darwinista, mas criada pela inteligência humana e já está em curso o método do 'sequenciamento espingarda', uma análise do genoma humano mais rápido e mais barato.
Essas situações que, aparentemente, parecem ficções da ciência, hoje, são reais e embora enfrentem a questão ética na formatação do 'grande outro' (o ser sintético) vimos que, no decorrer dos séculos, o que também era antiético avançou bastante e se concretizou pelo menos em parte. Assim aconteceram nas primeiras transfusões de sangue de uma pessoa para outra; e no transplante de corações, com o pioneirismo de Christian Bernard, em 1967, na África do Sul.
O livro de Slavoj (Vivendo no Fim dos Tempos) é entender onde estamos pisando nessa Nova Era (4ª Onda industrial cibernética) que está acontecendo ainda que muitos de nós não percebamos isso. Daí a importância da leitura desse trabalho até para compreender o que se passa aos nossos pés, antes que você tenha que cumprimentar um man-sintético num caixa de supermercado.
O apocalipse ecológico também já estamos vivenciando - não só com a queima da Amazônia, o que é real - mas com as mudanças de climas em todo planeta gerando catástrofes a cada ano maiores. Agora mesmo, o sudeste do Brasil está gelado como nunca se viu (-15 graus em algumas localidade).É, de fato, o fim dos tempos, e vamos dar atenção ao que diz Slavoj Zizek.