Carl Gustav Jung é psicoterapeuta inventor da psicologia analitica e do termo arquétipo - estruturas do mundo empírico, do inconsciente
Comentar a literatura de Carl Gustav Jung - psicoterapeuta suiço que fundou a psicologia analítica - é sempre uma tarefa cuidadosa, em especial porque esquadrilnha motivações do consciente e do inconsciente e como isso afetam o desenvolvimento da personalidade.
Vê-se, pois, quão complicado é abordar seus textos sempre repletos de conceitos no campo da psicologia, análises refinadas e postas quase sempre depois de estudos que realizou com pacientes e grupos sobre a mente humana.
A anima - por exemplo - foi a descoberta central de Jung no campo da psicologia masculina e segundo seus aprendizados 'só a anima pode libertar o homem para uma consciência que se baseia na participação empática da vida'.
O livro em tela, hoje, em nosso comentário é "Aspectos do Masculino" (Editora Vozes, prefácio de Walter Boechat, edição e introdução de John Beebe, vários tradutores, 316 páginas, R$45,00) dividido em 7 capítulos - O herói, Iniciação e desenvolvimento da masculinidade, O pai, Logos e Eros: o Sol e a Lua, O masculino nas mulheres, A anima, O espírito.
Em cada um desses capítulos há desdobramentos, no caso, por exemplo, de O Pai - a importância do pai no destino do individuo, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo.
Ler Jung é um aprendizado para psicólogos, psicoterapeutas, médicos e profissionais que atuam no campo da saúde mental?
Sim, sem dúvida. É, também, para os mortais normais - as pessoas comuns - desde que tenham algum grau de conhecimento sobre a vida humana, sobre o papel do homem na sociedade.
Evidente que não são textos para pessoas de pouca leitura. Até mesmo para os 'junguianos' e estudiosos das diversas configurações do masculino na obra de Jung postas no "O Livro Vermelho" - escrito entre 1913-1917 - esta obra só foi autorizada pela familia para sua publicação, em 2000, (a edição anglo americana é de 2009) e é constituida de uma série de encontros com personagens subjetivos - configurações do inconsciente - com os quais o autor desenvolve devaneios e diálogos imaginativos de uma forma literária.
São textos de literatura ficcional ou personagens que foram integradas em nivel de consciência durante a escrita?
Nada! Trata-se da essência da psicologia personificada, uma fase mais avançada dos estudos junguianos além dos complexos afetivos, o que chamou de processo de individualização ou desenvolvimento de personalidade.
Livro complexo. No inconsciente pessoal e incosciente coletivo o autor cita um exemplo de projeção do complexo paterno, no qual a chamada resolução de transparência se faz a partir do inconsciente dos sonhos.
Os capítulos Logos e Eros - o Sol e a Lua - são extraidos do Opus Magnum de Jung, da obra Misterium Coniunctions (1954) e revela a forte influência que a alquimia exerceu em seus trabalhos. Jung comenta ironicamente que num homem a anima lunar e numa mulher o anima solar tem a maior influência sobre a consciência.
Para Jung, Logos e Eros são os valores intuito-intelectuais correspondentes às concepções arquetípicas de Sol e Lua. "O uso desses conceitos certamente exige uma fantasia viva e sempre vigilante, o que não conseguem ter aqueles que por temperamento preferem conceitos puramente intelectuais", frisa.
Logos como princípio masculino e Eros como princípio feminino representaram um dogma prematuro - muito polemizado - pois, em verdade, são estilos de consciência atingidos por ambos os sexos. Ou seja, segundo Ester Harding - discípula de Jung - o desenvolvimento da anima (feminino) traz à consciência num homem; e o desenvolvimento do animus (masculino) a uma mulher.
Haja complexidade para entender os escritos e as análises de Carl Gustava Jung, mas é sempre bom ler e saber sobre o criador da psicologia humanista como ele, de cronômetro na mão inventa o primeiro teste psicológico e prova cientificamente a existência do insconsciente, as estruturas mais profundas do mundo empírico que todo homem tem dentro de sí e que deu o nome de arquétipos.
Aspectos do Masculino aborda um traço da compreensão da psicologia humana. Pouco que seja - sua obra é bem mais ampla - é um passo para se entender o homem e o que conceitua o autor com base científica.