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Rosa de Lima

ROSA DE LIMA RECOMENDA GUIA DO CAMINHO DE SANTIAGO, DE DANIEL AGRELA

O caminho francês mais tradicional com 800 km para fazer em 30 dias com dicas preciosas de Daniel Agrela
25/11/2020 às 11:28
  Há - imaginem vocês como real - centenas, milhares de publicações e livros sobre Os Caminhos de Santiago que são muitos a partir da França, do Reino Unido, da Alemanha, da Itália, de Portugal e de várias províncias da Espanha até Santiago de Compostela - Galícia, Norte da Espanha. Eu mesma já li uma dezena desses livros, de Paulo Coelho a Aymeric Picau (peregrino em 1123; de Renato Luiz Lucatelli Viana (decaperegrino) a Flávio Sol, mas nunca fiz o caminho - até gostaria - e sei de muitas explicações e reflexões sobre esta jornada de fé, de cultura, de autoconhecimento, de pagamento de pecados e promessas, de mudanças na vida, de turismo ou o que mais for.

  Em tempos antigos - e o caminho teria nascido da peregrinação de São Tiago, em português, Santiago em espanhol; Saint Jacques, em francês; Saint James em inglês; Giacomo, em italiano, um dos apóstolos de Cristo que percorreu o Norte da Península Ibérica difundindo o nascente cristianismo durantes seis anos. Santiago era monoteísta seguidor de Jesus Cristo e com fé concentrada num único Deus cristão.

  Quando retornou a Galileia entendendo que sua missão tinha sido cumprida (há quem diga que voltou descrente do cumprimento de sua missão) foi decapitado em Cesária a mando do rei judaico Herodes Agripa. O Império Romano que dominava a Galileia era politeísta e cultuava vários deuses

  São muitas as versões sobre a pregação de Santiago. Diz-se que dois dos seus discípulos - Atanário e Teodoro - colocaram seus restos mortais numa arca de pedra e levaram-na de barco para Iria Flávia (hoje, Padron) às margens do rio Ulla, Ibéria, e, nesse trajeto foram agregadas em sua tumba várias conchas - simbolizando os vários caminhos para Santiago.

  Um ermitão de nome Pelágio, em 813, seguindo uma 'chuva de estrelas' descobriu os restos mortais do filho de Zebedeu e Salomé. Afonso II, rei de Astúrias, ergueu uma capela no local da descoberta e começou a peregrinação. A partir de 1057 iniciou-se a construção da atual catedral no Campo das Estrelas (Compostela) em louvor a Santiago. A catedral, hoje, fica no centro da cidade de Santiago de Compostela que uma das mais importantes da Galicia.

  Uma história de 12 séculos. A propaganda boca a boca ampliou a peregrinação sobretudo depois que São Francisco de Assis a fez. Durante séculos foi-se formando uma rede de hospedarias na rota do caminho francês a partir de Saint-Jean-Pied-de-Port, andou alguns anos desaquecida e retornou com muita força a partir dos anos 1980.

  Vou comentar sobre um livro que não aborda de forma direta e detalhada a questão religiosa relacionado a esse tema, mas entendo ser um dos melhores guias - não único - sobre o caminho francês, o original, que sai dessas pequena cidade francesa nos Pirineus e vai até Santiago (800 km) passando por quatro províncias da Espanha - Navarra, La Rioja, Castilla e León e Galícia -intitulado "O Guia do Viajante do Caminho de Santiago - uma vida em 30 dias", de Daniel Agrela com fotos de Memo Vásquez (Editora Generale, 170 páginas, R$35,00 pela internet em vários portais contendo mapas distâncias, dicas e páginas em papéis pautados para anotações). Trabalho bem didático e explicativo para quem deseja fazer essa rota.

  Evidente que os (as) leitores (as) que quiserem fazer esse percurso não precisam fazê-lo em 30 dias como fez o Daniel por duas vezes em anos diferentes e poderá (e deverá) fazer de acordo com suas condições físicas e mentais. Em média, cada um das 33 etapas do roteiro, tem entre 20 e 30 k, e quem tem bom preparo físico pode muito bem encarar esse maratonismo. Mas, quem não tem, pode dividir cada uma dessas etapas - sobretudo os trechos em montanha - em duas ou mais etapas - e não precisa, necessariamente, dormir em todas essas etapas nos albergues públicos - da igreja católica e das Prefeituras - podendo optar por hotéis, nas cidades maiores no trajeto, e em casas (hospedarias de campo.

  Agrela dá todas as dicas de quais equipamentos o peregrino deve levar - a mochila - e as vestes, calçados, bastões, blusões, medicamentos, etc, a maneira de se comportar em cada trajeto, ter determinação de fazer cada etapa como se fosse a primeira - por sinal, a mais difícill, a subida dos Pirineus - e não querer se afobar ou aligeirar e estourar os pés e os joelhos.

  Não se trata - diz o autor - de uma maratona e sim de uma peregrinação de fé contemplando a natureza, respeitando o tempo - alguns dias chove no percurso; outros fazem sol intenso - e nem querer imitar outras pessoas que vão encontrando no caminho. Cada qual dentro do seu tempo e de sujas disponibilidades financeiras. Dá, por exemplo, repousa em albergues, pensões e pousadas privadas que são mais caras do que as públicas e as das ordens religiosas. Em média, essas pousadas custam 30 euros (mínimo) a diária, mas com algum conforto, wifi, computadores, cobertor e travesseiro. Nos albergues públicos dorme-se em saco de dormir e cada qual que leve o seu na mochila.

  O caminho de Santiago é também um roteiro de cultura e muita cultura desde a época de Carlos Magno, século VI, até o surgimento da Espanha como nação após a união dos reinos de Castela e Aragão e o apoio de Navarra, de Leon, e de outros pequenos reinados e ducados que se uniram para expulsar os árabes que ocuparam boa parte da península durante 700 anos. Vê-se, pois, quanta história, quanto monumentos - castelo, igrejas, pontes, muralhas, etc - serão percorridos por esse caminho. 

  É também um caminho turístico (os peregrinos que optam por se hospedarem em hotéis e não fazem todo o percurso a pé são chamados de turigrinos) e fazem misto de peregrinação moderada (a condecoração - um documento certificado é conferido a aquele (a) que percorrer no mínimo 100km a pé). Um isto de peregrinação de fé e turismo.

  Como texto básico (guia) para o caminho francês não tenho dúvida de que é livro de Daniel Agrela tem todas as dicas que um peregrino precisa. É completo. Isso não significa dizer que você não leia outros. Fique à vontade.