A crônica literária é eclética, aberta, selecionando o que há de melhor em vários estilos. Eu mesma quando deparo-me com obras sobre a Bahia fico sempre sensibilizada para ler e comentar. A história de Salvador, a capital da Bahia, primeira capital do Brasil na época da Colônia é fascinante por ter sido a primaz sede do governo geral, do arcebispado, da organização social, econômica e jurídica e ser edificada num local belíssimo vislumbrando as águas da Baía de Todos os Santos.
Durante mais de 200 anos Salvador foi sede de um porto dos mais influentes da América do Sul. Vê-se, pois, a importância da Baía de Todos os Santos para a cidade como impulsionadora da economia, como única via de transporte até os primórdios do século XX, como propulsora do turismo e centro de cultura nas vilas, povoados e cidades que floresceram no seu entorno, o que se classifica como Recôncavo. Foi pela Baía que chegou a escravidão e na Baía que aconteceram as lutas pela libertação da cidade da ocupação holandesa no século XVII.
O publicitário e pesquisador colombiano da história baiana, Nelson Varón Cadena, nos presenteou com o livro "A Cidade da Bahia", pois, assim era chamada a capital baiana (Ed ALBA, 138 páginas com fotos, capa dura formato 26x30 cm) que revela detalhes interessantes da cidade que nasceu como fortaleza murada, os nomes das primeiras ruas e suas referências, tudo em linguagem jornalística com muitas fotografias e um trabalho editoral no estilo de arte.
O livro é dividido em mais de cem tópicos, textos pequenos, resumos bem compreensíveis todos ilustrados com fotografias antigas da cidade. Isso facilia muito a leitura e compreensão da história sem firulas maiores próprias dos historiadores clássicos.
O livro é delicioso na expressão mais simples da palavra e os leitores podem acompanhar cada acontecimento sobre Salvador desde a chegada Thomé de Souza, em 1549, quando a cidade foi fundada até meados do século XX. Cadena conseguiu produzir um resumo do que há de mais expressivo na Cidade da Bahia, seus monumentos, suas avenidas, os bondes, as igrejas e movimentos de urbanização. Para os mais jovens que sequer alcançaram o 'ground' do Rio Vernmelho e o Campo de Futebol da Graça eis um trabalho didático e muito útil a compreensão da cidade.
Savlador ainda hoje conserva alguns sitios e monumentos que remotam a história inicial da capital, com as devidas mudanças que acontecram ao longo dos anos, mas, a Praça Munipal Thomé de Souza continua no seu local, ela que foi a mancha matriz da cidade, com um Palácio de Governo que não é mais a sede de moradia ou de despachos dos governadores e sim um memorial, mas mantendo-se no mesmo local onde moraram os primeiros governantes do Brasil, as ruas centrais conservam os traçados da época de Luis Dias e a cidade mantém seu centro histórico com muitos dos casarões das épocas da Colônia e do Império.
Nelson Cadena vai pontuando em cada página do seu livro exatamente como a cidade nasceu e foi se expandindo fora dos muros e portas originais, de Santa Luzia, ao Sul; e de Santa Catarina, ao Norte, e o movimento no primeiro século que vai de 1549 a 1649 quando foram erguidos núcleos residenciais em volta das igrejas católicas e seus conventos. Não se trata de um livro de história no modelo clásico embora tudo o que há nele é história, passado para compreender o presente, visões de como foi um dia esta Cidade da Bahia glamurosa e refina, hoje, infelizmente, não mais assim.
Salvador, infelizmente, perdeu o tom da civilidade dos tempos passados onde os homens iam ao centro usando ternos de linho e chapéus panamás e as mulheres de longo e portanto luvas. Cadena também mostra que a ocupação do espaço urbano de Salvador deu-se de forma lenta, inicialmente no centro (hoje, histórico) e depois em várias direções, na linha Sul para a Barra que já era um sitio conhecido desde a época de Diogo Álvares, o Caramuru, residente no local desde 1510, e o antigo Caminho do Conselho (Ladeira da Barra) ligação com o altiplano que data da época da Capitania Hereditária da Bahia.
O livro traz momentos da história da cidade importantes como a remoção da original Igreja de São Pedro para que a Avenida Sete fosse concretizada em seu traçado, a instação da estátua do Barão do Rio Branco no Jardim de São Pedro, a origem da Avenida dos Dendezeiros uma estrada construida pela Irmandade do Senhor do Bonfim, em 1798; a história do Obelisco da Aclamação, uma homenagem a Dom João VI que data de 1815; as praias do Rio Vermelho e a Fazenda Paciência; o antigo relógio de Nazaré; as comemorações ao 2 de Julho.
Esse documento do Cadena é para ficar sempre à vista e pronto para consultas permanentes. Um trabalho valioso e precioso para a cidade da Bahia e sua história.