Direto de Washington é uma narrativa em primeira pessoa da vida do publicitário Washington Olivetto
Direto de Washington - W. Olivetto por ele mesmo
Foto: BJÁ
Depois da autobiografia de Rita Lee que fez grande sucesso, eis que chega às livrarias outra preciosidade, a autobiografia de Washington Olivetto. Publicitário mais premiado do Brasil, primeiro não anglo-saxão a entrar no Hall of Fame do Cine Club de New York, atualmente residindo em Londres onde atua como consultor criativo da McCann Europa e divide seu tempo entre a Inglaterra e o Brasil, Olivetto narra em primeira pessoa sua trajetória como cidadão brasileiro e publicitário, em pelo menos duas frentes amplas: o criativo e o empresarial.
O livro, como era de se esperar, tem um título publicitário "Direto de Washington" com subtítulo W. Olivetto por ele mesmo (Ed Estação Brasil, 398 páginas, R$39,00 ano 2018) e uma linguagem que mistura o jornalismo com o 'publicitez'.
O texto é compreensível a qualquer leitor embora o tema abordado pelo autor seja o campo da publicidade com suas peripécias, vaidades, competições, todo um caldo de cultura deste meio. Olivetto é cuidadoso e não cai na armadilha ou tentação de fazer quaisquer comparações do trabalho de sua equipe com outras agências, portando, trata somente dos locais onde trabalhou e empresariou.
Isso, sem dúvida, é um mérito, pois, não caberia numa narrativa feita por 'ele mesmo' tais comparativos, de ser mais criativo e ousado do que outros. Ainda assim, qualquer leigo que venha a ler o livro, entende que as agências por onde passou, em especial a W/Brasil, realizou campanhas meritórias, conquistou todos os prêmios nacionais e internacionais da publicidade - e ele repete isso várias vezes no livro - e elevou esse segmento nacional a patamares nunca antes imaginado e alcançado. Daí que não há demétrico em Olivetto vez por outra repisar que é o vencedor de leões de ouro e outros prêmios.
O livro, dividido em 21 capítulos, narra histórias de sucessos e fracassos de sua trajetória profissional, revela mais sucessos do que qualquer outra coisa, e mostra lances dos bastidores do meio publicitário, sobretudo as vaidades e as competições, o outro lado do balcão no enfrentamento e negociações com os diretores de marketing e gerentes das contas publicitárias das grandes empresas, algumas vezes o publicitário tratando com o próprio dono da empresa.
O leitor fica conhecendo esse mercado repleto de sutilezas, de glamour e de um profissinalismo extremo, pois, errar nesse segmento representa a perda de prestígio e de milhares de reais; e acertar gera o inverso.
A própósito, Olivetto abre o livro com o 'case' da Sandálias Rider, da Grendene, e as Copas do Mundo de Futebol de 1994, vencida pelo Brasil nos Estados Unidos, e de 1998, na França, dois momentos distintos no campo da bola e na publicidade. Na primeira Copa, um comercial com a gravação de "Brasil Pandeiro", de Asis Valente, "do antológico disco Acabou Chorare, dos Novos Baianos"; e na da França, um comercial gravado numa megafesta no porta-aviões Minas Gerais com 2.500 convidados com shows da Banda Eva, Sandra de Sá e Lulu Santos que encerrou o evento com "sua espetacular versão de "Descobridor dos Sete Mares", acompanhado da Banda da Marinha e vestido de marinheiro".
São esses detalhes que fazem do livro de Olivetto degustável a cada página pois os leitores vão conhecendo os meandros do mundo publicitário, o que representa, por exemplo, fazer uma produção dessa natureza num navio de guerra como solicitações ao almirantado e a presença de oficiais da Marinha trajados a rigor numa festa pop para vender sandálias produzidas no Rio Grande do Sul pela Grendene, e como é possível levar uma idéia dessa magnitude a ser aprovada por empresários.
O livro é uma aula de otimismo, persistência, trabalho, o que para os leitores podem até significar um sonho acompanhar um grupo de profissionais se arriscar a investir milhares de reais numa ideia que pode ou não dar certo. Conta Olivetto que também tinha um sonho antigo, de fazer uma grande campanha de cerveja. Adverte:"Achei que ia realizar esse sonho quando ganhamos na W/Brasil, sem nenhuma concorrência, a conta da cerveja Antarctica. Mal sabia eu que ia ter uma enorme frustação e o primeiro grande fracasso de minha vida profissional".
A narrativa de Olivetto expõe que nem tudo são flores no meio publicitário, aliás, como em qualquer outra atividade, e que ninguém consegue fazer nada sozinho se não tiver uma equipe bem dirigida, criativa e dedicada. Nesse aspecto, o autor não economiza elogios aos seus sócios e parceiros, a diferentes equipes que trabalhou sob sua batuta, embora, como ressalva no livro "alguns desses profissionais são citados em momentos que considerei fundamentais para a narrativa e o entendimento das histórias. Mas, muitos dos que me ajudaram tanto - ou até mais do que esses - não estão citados".
No detalhe relativo a brasilidade, Olivetto cita que, hoje, embora morando em Londres continua sendo sempre o que foi, brasileiro, torcedor do Corinthians, mais seletivo pelo avançar da idade, apaixonado pela comunicação, agora também um contador de histórias com simpliciade.
"Acredito que na comunicação o simples é sempre o melhor. De complicada e cheia de discussõies inúteis basta a vida".
Excelente aula o "Direto de Washington".