Uma breve história da humanidade - Sapiens, livro destaque do ano e que mostra uma visão da história mundial
Não foi à toa que o 'The Guardian', o mais influente jornal do Reino Unido afirmou que "Harari é brilhante... Sapiens é realmente impressionante, de se ler num fôlego só. De fato, questiona nossas ideias preconcebidas a respeito do universo".
Para entender essa citação, Harari é o israelense Yuval Noah Harrari doutor em história pela Universidade de Oxford, especializado em história mundial e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e "Sapiens" trata-se do livro best-seller internacional "Uma breve História da Humanidade" editado no Brasil pela L&PM Porto Alegres (455 páginas, 22 edição, R$48,00).
O livro, de fato, traz informações e visões nunca antes reveladas e organizadas por um historiador com abordagens diferenciadas, pontos-de-vistas novos e antes pouco explorados e comentados, desde a inicial da existência do Homem Sapiens que subjugou as demais espécies de homens existentes na Terra o neanderthalensis (Europa e Ásia Ocidental), o rudolfensis (África Oriental) e o erectus (Ásia Oriental).
Segundo o autor, o mundo de 100.000 anos atrás foi habitado por seis espécies humanas diferentes, mas, só o Sapiens sobreviveu graças à sua linguagem única, sua capacidade cognitiva e habilidades sociais. As demais espécies desapareceram para sempre.
Daí, Harari aborda a árvore do conhecimento e o surgimento da ficção com a fundação dos povoados e depois cidades, estados, nações, impérios. Cita, como exemplo, que Armand Peugeot criou a marca do leão da sua empresa de veículos assim "como padres e feiticeiros criaram deuses e demônios".
Esses tipos de ações são conhecidas nos meios acadêmicos como "construtos sociais" ou "realidades imaginadas". Não representam mentiras e sim realidades imaginadas originando, entre outros, o 'direito divino dos reis" e o mito da "soberania do povo".
Esse foi o segredo da sobrevivência do Sapiens e o desaparecimento dos demais homens, pois, os assemelhados aos sapiens não conseguiram criar ficções nem adaptar seu ambiente social para responder os desafios das transformações. E, desapareceram. Sumiram do mapa não diante de guerras ou batalhas campais, e sim diante da evolução da humanidade. O que, de resto aconteceram com outras espécies animais.
O próximo passo do Sapiens foi a revolução agrícola estimada há cerca de 12 mil anos quando os sapiens coletores caçadores - Idades da Pedra e da Madeira - formaram as primeiras aldeias de pescadores e invadiram a Austrália, há 45 mil anos.
De acordo com Hararri, a jornada dos primeiros humanos à Austrália é um dos acontecimentos mais importantes da história, tão importante quanto a viagem de Colombo à América e a expedição da Apolo 11 à lua".
E o que representou a Revolução Agrícola iniciada a 9.500 a.C. no interior montanhoso da Turquia, no Oeste do Irã e no Levante com a domestição dos bodes e do trigo; ervilhas, lentilhas e oliveiras? Uma mudança radical na vida do homem. Depois, os sapientes domesticaram os cavalos 4.000 a.C. E seguiam com os cães e outros animais.
A vida do homem caçador coletor ficou mais dificil e menos gratificante porque os sapiens começaram a viver em comunidades em volta dessas plantações e de controle dos animais. Daí surgem os códigos de conduta e o exemplo mais citado é o de Hamurabi com principios de herarquias, as pessoas sendo divididas em três classes: os superiores, os comuns e os escravos.
Essa foi a grande diferença entre as duas eras: a dos sapiens coletores e caçadores de alimentos, sem códigos, sem conduats, erráticos, migrantes; e a era agrícola, que o historidor considera controversa, uma fraude, onde vão nascendo as verdades imaginadas, florescendo a ficção e o ordenamento do sapiens. Segundo o autor, o único lugar em que "princípios universais existem é na imaginação fértil dos sapiens e os mitos que eles inventam e contam uns aos outros".
Referenda o autor: "O cristianismo não teria durado 2.000 anos se a maioria dos bispos e padres não acreditassem em Cristo; a democracia norte-americana não teria durado 250 anos se a maioria dos presidentes e congressistas não acreditassem nos direitos humanos".
A partir dessa evolução humana começaram a surgir os excendentes dos produtos e animais e surgiu o comércio, o escambo, a troca. O passo mais importante dessa transformação foram os surgimentos das medidas, dos números e depois da escrita. Registra-se que a tábua de argila com um texto administrativo da cidade de Uruku data de 3400 a.C. O sistema de processamento de dados dos sumérios 3000 a 3500 a.C. se chama a escrita. Surge, assim, o primeiro nome da história escrita "Kushimi".
Com o advento da escrita e dos números a ficção inventa a poesia e depois a literatura e, no mundo administrativo, surge a burocracia. Em seguida advém o mais poderoso elemento da humanidade, o dinheiro. Foi uma transição demorada até que as pessoas, as comunidades trocassem seus produtos por moedas, papéis e, hoje, cartões.
Por longos anos, as trocas eram de mercadorias vis mercadorias. Ou seja, trocavam-se ovelhas por pães; sapatos por maçãs; trigo por carne. Mas, óbvio, chegou um momento em que um sapateiro não poderia trocar tantas maçãs por pães, óleos, etc, e surge, então o dinheiro.
À rede de instintos artificiais gerou a cultura e a primeira ordenação a surgir na humanidade foi a econômica; a segunda, a imperial; e a terceira, a religiosa com o budismo, o cristianismo e o islamismo. Antes dessas ordens o mundo era invisível, não globalizado, politeista (como muitos deuses) e durante 12 mil anos ninguém saiba da existência da Tansmânia; nem do novo mundo descoberto pelos espanhóis de Colombo, no final do século XVI.
O dinheiro tem uma importância transcendental no ordenamento da economia. As conchas de cauri foram usadas como dinheiro durante 4000 anos em toda África. Segundo o autor, o dinheiro é o "mais univesal e mais eficiente sistema de confiança mútiua já inventado". Portanto, um meio de troca, que converte quase tudo em qualquer outra coisa. Parecerá absurdo, hoje, ir a uma loja de eletrodomésticos com uma cesta de laranjas para trocar numa TV. Mas, é possível, adquirir a TV com notas de real.
O autor também desmistifica as visões imperialistas no mundo desde os impérios Atenienses ao Habsburgo, do Romano ao Britânico, e comenta que nem tudo foi mal, opressão e subjução. Houve também muitos ganhos e prosperidade. Lembra que os britânicos, na Índia, assentaram as bases do sistema juridico, criaram estruturas administrativas e construiram uma imensa rede ferroviária que fundamental para a integração econômica. E situa que, até os dias atuais (vale para o mundo globalizado) ninguém sabe como resolver a questão espinhosa da herança cultural. É só olhar, hoje, no Quênia, os jornais escritos em inglês e a lingua inglesa adotada em vários país da África.
O autor também aborda a questão religiosa, os diversos deuses, o deus único, o politeismo. "Hoje, a religião é considerada uma fonte de discriminação, de desavença e desunião. Mas, na verdade, a religião foi o terceiro maior unificador da humanidade, junto com o dinheiro e os impérios", frisa Harari. O capitulo sobre a religião é emblemático. A Noite de São Bartolomeu, o cristianismo, o islamismo e os deuses pelo mundo.
Nos capítulos seguintes o autor aborda as revoluções industriais até a revolução científica com o primeiro teste de uma bomba atômica em Alamogordo, 16 de julho de 1945, nos EUA, quando Robert Oppenheimer, ao ver a explosão, citou o Bhagavad Gita: "Agora eu me torno a morte, a destruição dos mundos". Harari comenta: "A Revolução Científica e o Imperialismo moderno são inseparáveis".
O livro avança para a invasão do espalo sideral, o culto ao livre mercado, o capitalismo, o comunismo, os dias atuais, a nova era industrial e do pensamento, o colapso da familia, os meios de comunicação de massa, a paz atômica, a felicidade geral e o fim da morte.
É um livro arrebatador, pra pensar, para mudar o pensar em muitos pontos de vista, um permanente observatório do Sapiens e suas trasnsformações.