Um guuerra devastadora com 8.5 milhões de mortos e o fim de quatro impérios
É sempre fascinante ler sobre os acontecimentos que resultaram na Primeira Guerra Mundial (1914/1918) episódio que reduziu a pó quatro regimes imperiais - Otamano, Austro-Húngaro, Alemão e Russo - destituindo seus imperadores e estabelecendo novos regimes de governo, implantou o socialismo na Europa Central e no Leste Europeu até a Rússia, e provocou uma mudança nas forças econômicas e políticas mundiais surgindo pela primeira vez os Estados Unidos como potência mundial e Nova York como centro financeiro do mundo.
A I Grande Guerra não surgiu do acaso nem foi motivada exclusivamente pelo atentado de Sarajevo, que resultou na morte do herdeiro do trono Austro-Húngaro e de sua esposa, Franz Ferdinand e Sophia, mas de um intrincado jogo diplomático e uma disputa acirrada entre as potências mundiais da época - Inglaterra, França, Alemanha, Austria-Hungria, Império Otomano, Itália e Rússia - na expansão dos seus impérios além mar, no controle das rotas maritimas e na distribuição e controle das riquezas.
O mundo iria entrar em novo século (XX) a revolução industrial experimentava avanços extraordinários e quem se descuidasse perderia terreno no concerto mundial. A Europa, até então, era o centro do mundo apesar da existência da Rússia, da China, da Índia e dos Estados Unidos e do Canadá. A Amércia Latina - como sempre - longe do bonde da história.
O livro "A Primeira Guerra Mundual" da historiadora canadenes Margaret MacMillan (Globo Livros, tradução Gleuber Vieira, 720 páginas, março de 2015) aborda exatamente essa questão essencial: o por que as nações da Europa, num momento em que estavam vivendo em paz e com forte transformação industrial e tecnológica decidiram participar de uma guerra, das mais violentas até então, com 65 milhões de homens nas frentes de combates e o resultado de 8.5 milhões de mortos, a destruição de regimes e o empobrecimento do Continente europeu.
A historiadora canadense vai fundo nessas preliminares palmilhando o intrincado mundo da diplomacia europeia, russa, turca e norte-american com suas nuances, seus interesses, suas idiossincracias, a eficiência dos seus diplomatas - alguns de grande capacidade e outros nem tanto - a presença de mulheres e paixões influenciando alguns deles, num jogo que durou mais de 10 anos até que a guerra se consumasse em agosto de 1914.
É um relato extraordinário, bem escrito, às vezes enfadonho e repetitivo, como o vai e vem da diplomacia da época, e que também relata as personalidades do imperador alemão Wilhem II com a criação da Alemanha, em 1871, e o fim da Prússia; dos monarcas ingleses Edward VII e George - seu sucessor no decorrer do período; do Czar Nicolau II, da Rússia, apeado do poder e morto com toda sua familia pela Revolução Bolchevique, em 1917, mesmo antes do fim da Grande Guera; do presidente Poincaré, da França; do presidenrte Rooselvelt, dos EUA; e do imperador Austro-Húnbgaro, Franz Joseph, e o sultão Mehemed VI.
A autora faz um relato cronológico dos acontecimentos que levaram a Europa a essa Grande Guerra mostrando o alvorecer do sécuo XX e a Exposição de Paris, em 1900, o glamour que essa expo representou e ao mesmo tempo se tornou um palco de afirmações das potências que mostraram ao mundo o que possuiam de mais moderno e engenhoso; o poder naval da Inglaterra e o isolamento que o país vivia sem um relacionamento afetivo com as demais potências; a personalidade do imperador alemão Wilhelm II e o desejo de tornar seu país uma grande potência colonial e comercial reforçando o seu poderio naval; a welpolitik e o lugar da Alemanha no palco mundial, a corrida naval com os encouraçados (dreadnought) e a rivalidade anglo alemã.
A autora aborda, ainda, a Entende Cordiale entre a França e a Inglatera uma espécie de pacto em defesa mútua caso fossem atacadas, a possibilidade de aproximação entre a Ingaterra e a Rússia, os sonhadores da paz e aqueles que trabalham para tentar garantir um mundo sem guerras, os pensadores da guerra - ou seja aqueles que defendiam uma guerra mais ampla para que seus países pudessem avançar; a crise da Bósnia, as primeiras guerras balcânicas e o ano das maiores discórdias diplomáticas (1911), o assassinato em Sarajevo e a eclosão da Grande Guerra.
Trata-se de um livro fascinante, bem escrito, bem pesquisado, com uma bibliografia das mais densas e que revela exatamente os episódios que levaram a guerra, as personalidades que contribuiram para isso, em especial a chancelaria alemã e o almirante e ministro da Marinha, Alfred von Tirpitz, o qual defendia que a Alemanha necessitava de uma marinha poderosa para se tornar uma potência mundial, posição compartilhada pelo imperador Wilhelm II que criou um progama maciço de construção naval; a atuação do chanceler francês Théophile Delcassé, um dos mais competentes primeiros-ministro da Tcerceira República que lutava para restabelecer o prestigio da França após a perda da Lorena e Alsácia; a politica personalista da Inglaterra e a chegada dos EUA no cenário mundial.
Os ingleses que eram os donos do mar e tinha uma politica exterior severa sofreram um abalo em sua posição unilateral após a guerra entre 1899 a 1902 entre a Inglaterra e as duas repúblicas afrikaners (ou bôeres) independentes na África do Sul, com a maior parte do mundo simpatizando com os afrikaners,e se viram obrigados a negociar um novo realihamento junto a França e a Rússia temendo o poderio da Alemanha. A Rússia, que saira de uma guerra perdida contra o Japão e aceitara a proposta de mediação apresentada pelo presidente Theodore Roosevelt assinando um tratado de paz, reorganizava o seu exército.
O certo é que no final do século XIX as potências europeias tinham se apossado de grande parte do mundo para construir seus impérios, ninguém queria perder um palmo de terra e das riquezas desses países, e essas rivalidades é que levaram a Grande Guerra.
É esse intricado jogo de interesses que a escritora canadense aborda com maestria investigando as raizes do confronto, a personalidade de cada liderança e as politicas externas dos 4 grandes impérios envolvidos no conflito, a perda de força do Império Otomano que controlava para da Europa Balcânia e que foi se rebelando, especialmente a Sérvia e a Bósnia, e as áreas que gravitavam em torno do Império Austro-Hungaro como a Romênioa e a Bulgária.
Entender o livro de Margaret MacMillan exige uma leitura apurada, algum conhecimento do cenário das nações no final do século XIX, as transformações sociais e politicas que o mundo experimentava fruto da I Revolução Industrial que lançou nas cidades um enorme contingente de classes de trabalhadores, ideias socialistas que passaram a ser difundidas em livros e publicações, conquistas sociais que passaram a ser exigidas por homens e mulheres, um nacionalismo exarcebado nos países dominados, todo um caldo de cultura com um nascente proletariado que contribuiram para a Grande Guerra.
E, por incrível que pareça, o herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, Franz Ferdinand, que era um dos defensores da paz foi assassinado por um radical sérvio o que contribuiu para iniciar a Guerra.
O livro de Margareth MacMillan é precioso.