Colunistas / Literatura
Rosa de Lima

O CHALÉ DA MEMÓRIA, DE TONY JUDT, AJUDA A PENSAR

Um excelente livro
16/09/2012 às 08:01

Foto: BJÁ
Comentário sobre o livro do historiador inglês Jony Judt, O Chalé da Memória
     Primorosa a narrativa do historiador polemista Tony Judt em "O Chalé da Memória", Editora Objetiva, 222 páginas, livro que descreve de forma humana e honesta passagens da vida deste autor, em sua ótica, o qual sofreu de uma doença degenerativa no sistema neurológico (esclerose lateral amiotrófica) aos 60 anos de idade, diagnosticada em 2008 vindo a falecer dois anos depois, no auge de sua carreira profissional entre Londres, Cambridge e NY.
    Durante esse curto tempo de existência Judt manteve a cabeça ocupada com momentos de sua existência e conseguiu colocar essas recordações no livro, o que considerou "um armário onde guardou tudo" e ofereceu aos leitores esse delicioso trabalho com textos em estilo crônicas, curtos, obedecendo a sua seqüência lógica de vida desde a época do seu nascimento na Londres de Churchill e a difícil vida pós-guerra mundial, numa cidade devastada e que adotou um racionamento rigoroso de víveres até 1949.



    São esses pedacinhos da vida que Judt nos relata com absoluto humanismo, a família, as normas de vida pós-guerras isso porque seus familiares também estiveram envolvidos na primeira grande guerra, a Londres que renascia das cinzas a partir de 1945, o transporte público, a alimentação, o pão preto massudo, o vinho regrado, o frio, a escola, esses pequenos detalhes que, às vezes, passam despercebidos de nossa existência e são fundamentais para se compreender a evolução das espécies e do comportamento humano.



    Judt não economiza suas forças mentais já sofrendo da doença para expor toda essa vivência mantendo a cabeça ocupada, como diz, "cheia de peças recicláveis versáteis, feitas de recordações úteis e imediatamente disponíveis para uma mente com tendência analítica", mais detalhista em preciosidades.



   O resultado do livro é que o autor lembra das experiências e recordações do passado, mesmo sentindo o aprisionamento da doença, sem liberdade condicional nos movimentos físicos de locomoção, porém, mantendo o caráter analítico sobre seus tempos de estudante em Londres e Cambridge, pela experiência de ter vivenciado o Maio de 1968, polemista e cético em relação a grandeza desse movimento como foi exposto pela mídia ocidental, "por vezes era difícil distinguir entre paródia, pastiche e...atuação"; pelos dias de devoção e desilusão com a utopia dos kibutzim, depois de "aderir por completo ao sionismo de esquerda" e se decepcionar; recorrendo às correntes sociopolíticas (marxismo, fascismo e sionismo) que moldaram as transformações do seu tempo e ainda hoje têm uma forte influência no mundo.



    É um livro instigante, reflexivo, que põe o leitor para pensar e a refletir sobre todos esses movimentos que aconteceram no pós-guerra e que norteiam a humanidade nos dias atuais, as certezas e incertezas que foram "vendidas" pelos intelectuais e pelos governos como verdades absolutas e que são analisadas e colocada sobre uma nova ótica pelo historiador inglês, dentre elas de que o "mercado" assim como o "materialismo dialético" não passa de uma abstração.


   Judt põe o leitor a pensar, a dialogar com o que o cerca em termos de ideologia, do ser existencial a partir de que as mentes cativas, as idéias pré-estabelecidas como dogmas do socialismo ao capitalismo são questionáveis e não devem ser absorvidas como uma tendência una.
 
    Tudo tem que ser discutido e questionado com múltiplas lentes. Ninguém deve se submeter e acatar determinadas teses acabadas impostas pelos "sábios" respeitando-se as diferenças e os hábitos culturais à Ocidente e Oriente.

    É um livro que ajuda as pessoas a pensar.