Colunistas / Literatura
Rosa de Lima

O JEITO BAIANO DAS CRÔNICAS DE JOLIVALDO FREITAS

Crônicas baianas bem divertidas
26/02/2012 às 08:02

Foto: BJÁ
Histórias da Bahia - jeito baiano, por Jolivaldo Freitas, Ed Farol da Barra, 213 pgs
   O livro de crônicas do jornalista Jolivaldo Freitas, "Histórias da Bahia - Jeito Baiano", editado pela Farol da Barra, 213 páginas, acrescenta ao rol de trabalhos sobre esse tema uma contribuição significativa, pois, além de abordar temas bem baianos o faz com a visão detalhista do autor com uma ótica particularizada e até inédita, mesclando o histórico com o contemporâneo.

   Desde a inicial do livro quando Jolivaldo anota peculiaridades da cidade da Bahia e sua fundação, com população de portugueses que dizem os historiadores não eram 260 e sim 1400 homens em armas, degredados e em ofícios administrativos e manuais, coloca nesse contexto a figura de Abdala Gaid, residente na Ladeira da Barra, homem riquíssimo e seu Rolls Royce, único da cidade, contextualizando o antigo com o atual, no modo de vida da capital baiana.
 
   O livro ganha então um sabor especial diante desta feição e de outras que se seguem porque em cada uma delas o autor adiciona uma pitada de vivência pessoal e até algumas receitas de comidinhas típicas da terra, como a "fatia de parida de dona Aydil", a "moqueca de tainha de dona Iaiá", e a "moqueca de ovos do Porto Moreira", entre outras.

   Esses ingredientes acrescentam às crônicas novos temperos além da história pura e simples dos fatos que marcaram a vida de Salvador fazendo com que o livro fique mais gostoso de ser lido. Como J. Freitas usa uma técnica bastante popular em sua linguagem, às vezes até rude para a literatura, o leitor se delicia do inicio ao fim com esse "jeito baiano" de ver a cidade do Salvador e sua gente.

   Em "Piratas e Heróis da Boa Viagem", uma das crônicas que apreciei bastante, o autor narra uma dessas peripécias bem baianas no embate entre torcedores do Esporte Clube Piratas e São Domingo Sávio Esporte Clube partida que aconteceu no Campo do Tupy, em terreno depois da Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem quando, no final da partida, Piratas no ataque e necessitando de um golzinho para ser campeão a bola é detida por uma mulher, a qual "invade o campo, faz a defesa, sai correndo e vai embora com a pelota, a única de couro de boi, capotão de 32 gomos".



   Só o fato de citar um capotão de 32 gomos, e quem já jogou baba com essa dita sabe o sabor dessa redonda, já valeu a crônica como das melhores.

   Declarado São Domingos Sávio campeão pela primeira vez na Liga do Monte Serrat a porrada comeu no centro, "dizem que foi de abalar a estrutura da velha igreja", até os dias atuais, ao que se sabe, sofrendo desse permanente drama ainda reflexo daquela briga histórica e da lerdeza e falta de verba crônica do IPHAN .

   Por castigo, o padre suspendeu o campeonato e colocou o nome de todos os brigões na porta do templo, cada um com suas penitências a cumprir. E a tal mulher que fez a defesa, em confessionário, disse que praticou o ato por amor ao goleiro do Sávio. Em tempos atuais, de amores efusivos na cidade, nada mais natural.



  Há outras narrativas desse naipe no livro, "O ex-voto da ex-mulher do sapateiro"; "Quando Zeus botou a careta para correr e acabou com o Carnaval de Itapagipe"; "O Reino de Shangrilá"; "Pelé, Vicente e a porrada Portuguesa na Pedra Furada"; "A Tainhas do Enclave da Ribeira"; "O milagre da moça sem olhos e o safado espanhol mentiroso"; "O bizarro roubo no Largo de Roma" e assim por diante.  



  Esse jeito baiano das crônicas de Jolivaldo Freitas com suas narrativas bem pessoais, experiência de anos como cronista, vale a pena conferir. É livro que se saboreia de gute-gute.