Colunistas / Literatura
Rosa de Lima

O QUE SE PASSA NA CABEÇA DOS CACHORROS E OUTRAS AVENTURAS

Livro que aborda temas do cotidiano
24/09/2011 às 08:03
Foto: BJÁ
Que tal saber sobre mulheres pioneiras na publicidade em tinturas de cabelos!
  O escritor inglês residente em NY e colunista do The New Yorker, Malcom Gladwell , tem um jeito especial de escrever seus artigos. Quem já leu seus ensaios mais famosos publicados pela Sextante no Brasil "O Ponto da Virada" e "Fora de Série" sabe disso.


E o que é mais sugestivo: apreciou textos que interpretam sentimentos do cotidiano da atualidade, do que mais interessa na competição da vida, ainda que faça algumas referências históricas para contextualizar algumas de suas teses. 


Seus escritos em livros, ademais, não obedecem seqüências sobre um único tema, o que é ótimo, pois trata de diversos assuntos num mesmo volume. Significa dizer que o livro se torna agradável, pois caso o leitor não concorde ou não goste da inflexão de uma análise temática, pula para o assunto seguinte.


Em "O Que se Passa na Cabeça dos Cachorros e outras aventuras", também editado pela Sextante, 397 páginas, o autor é categórico em situar que o sucesso dos seus livros está na capacidade da fazer as pessoas pensar, de dar um vislumbre  e de colocar idéias que são excêntricas, mas aparentemente comuns na vida de todos.


Que tal, portanto, ler um dos temas abordados por Gladwell em "Cores Verdadeiras" sobre as mulheres pioneiras na publicidade de tinturas para cabelos. Estranho. Não!

Isso. São temas dessa natureza que o autor , com passagem pela publicidade e pelo jornalismo, aborda: o que o inventor (John Rock) da pílula anticoncepcional ignorava sobre a saúde das mulheres; por que os problemas como o dos sem-teto podem ser mais fáceis de solucionar do que de gerenciar; por que certas pessoas entram em colapso e outras em pânico; por que associamos a genialidade e precocidade; o que os pit bulls podem nos ensinar sobre criminalidade; o que as entrevistas de empregos realmente informam; como contratar quando não dá pra saber quem é mais adequado para o serviço; uma acusação de plágio deveria arruinar uma vida?; e assim sucessivamente.


Vê-se, pois; que são temas recorrentes no nosso dia-a-dia com absoluta freqüência, sobretudo considerando-se o mundo globalizado e competitivo em que vivemos, e que muitos desses assuntos passam despercebidos à nossa frente ainda que lidemos com eles e nunca paramos para refletir.


É o caso, por exemplo, das situações de pânico ou colapso. Recentemente, vimos pela TV o episódio do tsunami com maremoto no Nordeste do Japão e como os japoneses, que são treinados para enfrentar situações que envolvem pânico e colapso, se comportaram. Uma situação daquelas em outro país seria um desastre ainda maior.


Eu mesma não saberia enfrentar com um mínimo de tranqüilidade uma situação dessa natureza. Os seres humanos, comenta Gladwell, falham com freqüência sob pressão, sem entender se suas reações são de pânico ou colapso, em momentos até mesmo de disputas esportivas e em testes de concursos. Com surpresa vemos pessoas dizerem que sabiam tudo de um determinado tema e na hora H "deu um branco", esqueceu tudo.


A propósito, como se explica que o jovem piloto brasileiro Felipe Massa tão espetacular na temporada de F1 2010 se apresente de forma sem brilho neste ano! Questão que está associada a genialidade à precocidade, comum na mídia internacional, sem observar que os talentos são maduros, e existem paradoxos entre o colapso e o pânico.


Até para entender o título que dá nome a esse novo livro de Gladwell (O que se passa na cabeça dos cachorros e outras aventuras) com suas incursões por um centro de psicologia canina, esse é um tema que está tão associado à vida dos humanos que não se para um instante até a conclusão da leitura do texto.


Para quem tem cães, então, tem-se muito a refletir porque todos nós sabemos das relações de afetividade e de agressividade desses animais, mas nunca paramos para refletir sobre elas. Muitas vezes ouvimos dizer de alguém que "meu cão é tão mansinho" e esta mesma pessoa fica surpresa ao dar essa explicação em forma de interrogação, porque aquele "cão mansinho", de repente, se tornou agressivo.


Há cães agressivos em tratamento, como humanos agressivos em tratamento, que não conseguem confiar no homem. E outros que são doentios como uma espécie de "atração fatal" à semelhança dos seus donos, que quando os vêem começam a mordê-los e arranhá-los, como se dissessem eu também vos amo.


Recomendaria, sim, com muito prazer uma leitura dos livros de Gladwell. Este que leva o título dos cachorros é uma seqüência de bons textos, para refletir, ajudar a pensar e a mudar (se for o caso) sua cabeça e seu comportamento diante de determinadas situações.