A classe C Emergente insiste em degustar vinhos, mas está a cada dia mais difícil
Desde que escrevi aqui no site de Sêo Franco que minha digníssima esposa adquiriu uma adega para 24 garrafas de vinhos, pero ainda não conseguiu colocar nem meia dúzia dos tais, assim mesmo, as que pôs são do glorioso São Roque e duas do popular 'sangue de buá', daí que temos recebido mensagens de solidariedade e apoio, entendendo que a classe C Emergente também merece degustar vinhos, uma mania que os novos ricos da capital baiana e a classe média alta incorporararm apesar do calor permanente em nossa terra.
Diria que as mensagens são de solidariedade, certamente próprias da época do pré-Natal, desse espírito cristão que somos acometidos. Há, ainda, algumas poucas promessas de mimos, daqueles que 'garantiram' na expressão dos politicos, uma oferenda.
Dr Zéu, que é amigo mais próximo da Casa, já avisou que seria ofertada uma botella da Espanha, pero, ao que tudo indica, diante da demora de chegar a nossa tenda, suponho que ainda não foi despachada de Madrid.
Outros tantos nada prometeram ou se 'garantiram' é do meu descohecimento, pode ser que dona Céu esteja guardando em segredo. Sua hermana, Rilza Cervejão, como soletra seu próprio nome, é chegada a um litrão e não a vinos. El conselheiro Souza, hombre de posses, não dará ousadia a nos contemplar com um mimo, mas, em estando próximo do Natal, quem sabe! Doutor Maurício de Tebas, grande colecionador de tintos e brancos, adega de 500 botellas arriba é uma outra esperança; o chef Durão, quiçá lembre-se de nós; e o marquês da Placa Ford está se recuperando de uma enfermidade e ainda não voltou a ativa.
Sobre prováveis ofertas das amigas de dona Céu, salvo melhor juizo, não faço fé, uma vez que Kaline Berimbau exilou-se na Conceição da Feira e está a analisar bixoxotas no PS; Tina Copo, anda preocupada com a seca no Ipirá e uma possível morte de seus bois; Andréia Lady Lú é cervejeira e teve uma baixa no seu salão de beleza quando um gatuno levou até suas tesouras; Tati Pão, esta, sim, aprecia vinhos e pode sair desta toca uma botella; Rafa Enfa dá plantões e plantões num hospital e mal tem tempo de um psirico; sua personal style Zaís Pinharada está super-ocupada com as encomendas do verão que se aproxima. Daí que nossa esperança é pouca que dessas tocas saiam algum coelho.
Enquanto isso, claro, nos viramos como podemos, a esposa grudada no computador nos momentos de folga a procura de promoções das distribuidoras, mas, quase sempre acima das nossas posses financeiras.
De vez em quando estou vendo o Ratinho, meu programa predileto da TV com aquelas moças belíssimas, à frente, Miss Pavorô, quando minha senhôra convoca-me: - Aqui tem duas boas promoções de chilenos na Evino, um San Tomás Cabernet de R$65,00 por R$24,00; e um kit Conte de Béliar de R$70,00 por R$27,00 - comenta.
- É uma boa. Os chileneos, pelo que me falam, são bons vinhos - aquiesci sem desgrudar os olhos da TV.
- Bom, não! Excelentes. Os chilenos são os melhores vinhos da América do Sul.
- Como tú aprendeste isso mulher? - quesitono.
- Estudando, lendo, praticando, degustando se você quer saber mais. Recomendo que a gente compre 6 garrafas desse Tomás para reforçar o estoque de nossa adega - disse.
- No total quanto custa?
- O valor total, já incluidno o frete, é de R$144,00 e você pode colocar no seu cartão.
- Meu cartão está no vermelho. Não dá - avisei.
- Como está no vermelho se até a semana passada estava no azul?
- Estava no azul, mas, tive que colocar um dente que caiu aqui (mostrei a boca) e doutor Cantídio levou todo meu capilé.
- Se vire, procure arranjar dinheiro, pois, vou fazer esse pedido.
- Porque você não pede vinhos mais baratos, os nacionais da Casa Verruga - comentei.
- Sua ignorância me impressiona! A Casa se chama Valduga e lá tem excelentes vinhos, inclusive, um dos melhores que já degustei.
- Degustou aonde? inquiri.
- Com minhas amigas num happy-hour.
- Você está é muito metida e até falando inglês, Deus me livre e guarde. Vou é dormir.
Dormi o sono dos justos e no outro dia fui para meu batente no Pelourinho, vender minhas toucas, arranjar uma tocata de tamborim nesse momento de pré-verão e até deu um tempo para passar no Mocambinho, lá no Porto Moreira, pra tomar uma gelada.
Ao entrar no Restaurante eis que encontro com Dr Zéu todo empalitozado com uns papéis em mãos e uns livros, até pensei que o 'home' virou crente ligado ao pastor San Isidório: - Tá usando uma biblia doutor.
- Que bíblia Sêo Rasta! Isso é um livro de direito de minhas demandas com a Casa das Leis do CAB.
- Com o Marcelo Crivella prefeito do Rio pensei que V.Exa. já tivesse virado evangélico.
- Nada! Sou cristão da Igreja de Nossa Senhora da Vitória.
- Hum! Igreja dos ricos.
- Não existe igreja de ricos e pobres. O povo de Deus é um só. A propósito, como anda a esposa?
- Dona Céu tá ótima e até perguntou por aquela promessa da garrafa de vinho que V.Exa. fez a ela - disse.
- Não sou político, mas, pode dizer a ela que está garantida. Já partiu de navio da Espanha e no Natal estará aqui.
- Que sinos de Belém digam amém Excelência - despedi-me do causídico.