Badu, o intelectual de bigode, diz que em Brasília não existe crise e só deputados e senadores têm direito ao Albert Einstein
Com esse prefeito cabeça de chuva que nós temos na cidade do Salvador, ando numa pindaiba da zorra aqui no Pelourinho porque os turistas que foram poucos na temporada do verão, nesses meses de abril e maio de chuvas mil, sumiram de vez.
Já rezei pra tudo que é santo, participei da procissão pra São Francisco Xavier temendo que, de quebra, possa ser atingido pelo Zika, as vendas de toucas cairam assustadoramente, meus quadros tijolinhos de taco encalharam, e tô vivendo de biscates, de tocatas de tamborim e das reservas técnicas de dona Céu, a qual graças ao bom Deus, tem seu pé de meia, sabe economizar para a temporada das vacas magras.
Ela também passa por seus apertos embora tenha arranjado uma 'boquinha' num tribunal e tem sua mesada certa, todo dia 28. Ainda assim, anda injuriada porque o Salão Lady Lú fechou as portas, a cabeleireira Andrea foi abatida pela crise, e ela mesma está fazendo suas madeixas e pintando as suas unhas. Outro dia teve uma experiência com nova manicure, uma senhora chamada Elielsa, mas, não se deu bem.
Quem de fato, anda apertado, com o cinto no último furo sou eu. Nesse miserê onde até o dinheiro para uma gelada na Cantina da Lua minguou, tô comprando fiado, e no ensaio para o aniversário dos 70 anos da Cantina, que acontece dia 27 vindouro, participei porque estive numa mesa boca livre, senão o meu dinheiro mal daria pra comer um angu encubado dividido.
Tanto que fui sozinho, encucado, isso porque com toda essa falta de capilé, onde todo mundo só fica falando em crise, dona Céu invocou que deseja colocar um silicone nos seios e ficar esbelta igual Fernanda Lima, aquela moça do SuperStar que a cada domingo aparece na TV mostrado sua exuberância, com cada dresse fantástico.
Ainda pensei em ligar para meu conselheiro sentimental e espiritual, Badu, o intelectual de bigode, mas, fiquei com vergonha de abordar tema dessa natureza, de certa forma sabendo que o pensador goiano nada poderia fazer.
A festa na Cantina rolava ao som de Claudete Soares e Valmir Lima, tomei logo uma quente pra esquentar e me livrar desses pensamentos da crise, cai no samba, embalei e quando retornei à mesa cheio de razão, já pedindo a garçonete Márcia Dendê que trouxesse a mais gelada que encontrasse no freeser resolvi ligar para Badu.
- Tá ouvindo ai a zorra do samba - coloquei o celular ao alto para ele escutar o som.
- Tá aonde véi...a coisa aí tá boa - respondeu.
- Tô na Cantina comemorando os 70 anos da casa e apreciando um sambinha nesse momento da crise.
- Que crise! Tira essa palavra da boca. Aqui em Brasilia não tem crise, os deputados agora reajustaram seus salários e vão fazer um shopping só pra eles e as madames, os servidores do Judiciário vão ter 70% de reajuste, tá todo mundo numa boa, portanto não me venha com essa conversa.
- Sabe, compadre, eu queria até lhe falar sobre um assunto meio intimo da patroa, mas estou com receio.
- Desembucha. Deixa de bobagem que com a gente não tem disso.
- É que a mulher está querendo siliconar os seios, só fala nisso, eu até acho uma boa ideia, mas não temos recursos para tal empreitada. Será que aí em Brasília v não conseguiria com algum deputado amigo, algum senador, uma operaçãozinha dessas pelo SUS ou mesmo uma boquinha dessas no Albert Eisten.
- V pirou! Albert Eisten é só pra deputado, senador, governador, ministro...o mais que posso é conseguir e veja lá, num Hospital da Ceilândia pelo SUS, uma cirurgia reparadora.
- Perdeu. Porque dona Céu é chique e não vai aceitar uma sugestão dessa de forma alguma.
- Deixa de bobagem que a Stelinha, minha esposa, fez a dela por lá e ficou uma maravilha, sem estrias, sem nada. Tá de cair o queixo, muito mais bonita do que os de Priscila Fantin.
- Vou consultar dona Céu e depois lhe falo - desliguei o iphone e segui no samba de Sêo Clarindo até medianas horas.
Quando cheguei em casa, não sei se estava meio 'baleado' com as pingas, o certo é que encontrei dona Céu toda produzida usando um vestido trançado wrap dress de Diane von Frustenberg, desse que tá na moda, que Camila Marinho usa na TV Bahia, sapato alto, cabelo de fogo tingindo no apagar das luzes do salão de Andrea a me perguntar se notara alguma coisa nova nela.
Cubei de um lado, cubei de outro, espiei bem e não percebi mudanças significaticas.
- Mira - falou dona Déu em espanhol - e achegou-se mais. Não viste nada de novo?
- Foi então que notei os seus seios estufados, epimados e tomei até um susto.
- Que diabo é isso mulher? Tu fizeste um silicone e não me avisaste?
Dona Céu charlava. Desfilava pela sala fazendo caras e poses.
- Quisera eu ter dinheiro pra dr Humberto Campos elevá-los à altura do Everest. Advinha se você é bom, advinha!
A essa altura, sequer lhe falei da possibilidade dela ir a Ceilândia, ela mesma respondeu: -
Nada disso meu véi, aqui é o sutiã japonês que comprei e faz um efeito dos melhores. Custa quase o preço de uma cirurgia a coleção completa, em várias cores, mas vale a pena.
Foi uma noite e tanto posso garantir aos nobres leitores, uma lua de mel onde atiçamos a crise pela janela e tomamos o melhor dos Proseco com direito a xenhenhem.